... o primeiro passo sempre é o mais difícil...
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No instante em que os viu, Shiro soube que algo estava errado.
Keith não o olhava nos olhos. Lance aparentava estar o evitando a qualquer custo. E, o mais inacreditável, os dois simplesmente não discutiam.
Por um momento, pensou ter sido uma percepção irreal sua, uma criação de sua mente cansada dos repetidos treinos com os leões, das poucas horas de sonos elaborando estratégias para serem usadas contra os galras e da constante visão das paredes brancas do castelo. Afinal, ele estava cansado. Mas então escutou, ao acaso, Pidge e Hunk conversarem exatamente sobre o que ele havia percebido.
E ele esperou.
Esperou que Keith olhasse em seus olhos ao menos por um momento, que Lance se mostrasse de outra forma que não desconfortável em sua presença, que os rapazes discordassem sobre algo fútil e alguém o chamasse para separá-los e dar-lhes outra palestra sobre a responsabilidade que estava sobre os ombros de um paladino e que eles deveriam usar toda aquela energia para estreitar o vínculo com seus leões.
Mas, conforme os dias se passaram, isso não aconteceu.
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Os dias eram difíceis de se medir no espaço, ainda mais levando em consideração o tempo em que ele foi feito prisioneiro pelos galras. Claro, os dias vinham sendo medidos a partir da contagem de tempo dos alteanos, o que queria dizer que já completariam duas semanas que a situação entre Keith e Lance permanecia exatamente igual... e, consequentemente, a forma como ambos agiam com ele.
E Shiro não fazia ideia do porquê isso estava acontecendo.
Keith não falava com ele e Lance dizia apenas o necessário. Ambos participavam dos treinamentos, mostravam seus resultados, falavam brevemente sobre seus leões... e então o ignoravam até que fosse preciso falar com ele novamente.
E foi após um dos treinamentos que Shiro decidiu descobrir o que de fato estava acontecendo e concertar o que quer que estivesse afetando seu grupo. Keith e Lance não estavam em seu melhor... e, se quisessem ter qualquer chance de salvar o universo, eles precisavam do melhor.
Assim, empurrando a dúvida que sentia naquele momento, Shiro interceptou Lance em um dos longos corredores do castelo, que levavam em direção aos dormitórios. E, pela primeira vez nas últimas semanas, o perguntou diretamente sobre o que estava ocorrendo.
“Não está acontecendo nada”, Lance tinha seus olhos voltados para o chão. “Eu só...”, ele olhou para os lados, aparentando ainda mais desconforto ao tomar consciência do local isolado no qual estavam agora. “... estou cansado”.
No silêncio que os rodeava, o suspiro desanimado de Shiro poderia ser ouvido perfeitamente.
“Lance...”, Shiro não sabia o que mais poderia dizer. Ela sabia que algo estava errado. Droga! Todos já haviam percebido o clima estranho que envolvia os três paladinos e, a última coisa que ele desejava, era que seus outros companheiros resolvessem ajudar a solucionar o problema – o qual ele ainda não possuía qualquer conhecimento. “Nós somos uma equipe, estamos aqui para você se precisar...”, Shiro queria que ele o olhasse, mesmo que apenas por um momento, mas Lance parecia perder-se cada vez em seus próprios pensamentos.
Shiro tocou seu ombro levemente, tentando ignorar o leve retraimento de Lance,
“Você pode falar com qualquer um de nós, sobre qualquer assunto!”, ele queria sorrir ao notar a leve inclinação de Lance em direção a si, mas temia perder aquela que talvez fosse a oportunidade de finalmente descobrir o que ocorria a sua volta. “Nós lutamos juntos”, continuou. “Caímos e nos reerguemos juntos. Precisamos confiar uns nos outros para que possamos ter qualquer chance de salvar o universo...”
Os olhos de Lance ergueram-se, focando-se diretamente nos seus.
Aconteceu antes que Shiro sequer pudesse pensar em pará-lo. Os olhos brilharam por um segundo em dúvida, então fecharam-se com força, ao mesmo tempo em que os lábios levemente secos tocaram os seus, envolvendo-o lentamente.
E estava errado.
Ele sabia que deveria parar...
Mas havia algo que o motivava a manter aquele momento por tanto tempo quanto lhe fosse possível. Seu corpo moveu-se sem que ele pudesse sequer pensar... e o calor de Lance ultrapassava o tecido de seu uniforme. Prensando seu corpo contra a parede, mantendo-o tão junto ao dele quanto o seu corpo o permitia naquele momento. Shiro podia ouvir seu coração acelerado sob o uniforme, a respiração ofegante, quente.
Os lábios, que deslizavam agora úmidos contra os seus, eram desesperados.
Ou talvez estaria ele refletindo em Lance seu próprio desespero? Projetando no corpo junto ao seu o desejo que o afligia e queimava dentro de si. Ah... Shiro desejava, no fundo de sua mente, fazer as roupas que os separava desaparecer.
Ele queria senti-lo. Sentir o calor real de seu corpo envolvê-lo, seu suor misturar-se ao seu... ouvi-lo chamar seu nome enquanto perdia-se no prazer que sabia que poderia proporcionar a ele.
Tão entregue...
Juntou ainda mais seus corpos. Entrelaçando suas pernas, embora desejasse erguê-lo pelas coxas e o tê-lo prendendo-o contra si. E as mãos pousadas suavemente em seus bíceps, apertaram-no com força.
Mas a proximidade deixava-o exposto... E Shiro podia senti-lo. Quente, duro, pulsando contra sua coxa. E quis tocá-lo. Sentir a textura da pele em sua mão... seu mais íntimo sabor em sua língua. E, tanto quanto lhe era possível, tocou-o com todo desejo que se fez sentir em seu corpo.
Então os lábios separaram-se dos seus em um arfar surpreso. Seus olhos abriram-se, encontrando aqueles olhos castanhos que já lhe eram conhecidos.
Mas eram olhos assustados. Arregalados, com lágrimas que se acumulavam e pareciam prestes a se derramar por seu rosto. E as mãos que antes o apertavam com força, soltaram-no, como se tocassem o mais intenso fogo.
Shiro conhecia aquele olhar. Conhecia o medo ali presente.
E por isso não o impediu quando, após empurrá-lo com toda força que lhe era possível naquele momento, Lance correu em direção a saída mais próxima.
Shiro permaneceu ali, com os pensamentos correndo desordenados por sua mente... aquilo, tudo aquilo, não deveria ter acontecido...
Vielen Dank für das Lesen!