Começou com uma simples troca de olhares, onde Lee Minhyuk, envergonhado, sempre acabava desviando, procurando focar em qualquer outra coisa para não voltar a fitar aqueles orbes castanhos. Geralmente brincava com os próprios dedos enquanto inutilmente tentava evitar que suas bochechas fossem pintadas com um tom róseo, pois aquela expressão curiosa — como a de uma criança admirando o brinquedo de outra — que o até então desconhecido possuía ao vê-lo sempre deixava-o constrangido.
Até que, poucos dias depois de ter se mudado para o apartamento ao lado, o estranho de cabelos loiros sorriu em sua direção quando se cruzaram no corredor, acenando animadamente. O moreno acenou de volta, confuso pela comunicação inesperada. E teve de admitir que ele possuía um sorriso contagiante.
Na época sequer podia imaginar as consequências que aquele maldito sorriso trariam.
A primeira conversa ocorreu quando coincidentemente chegaram ao prédio no mesmo horário e acabaram por dividir o elevador.
— Me chamo Shin Hoseok. — Se apresentou com uma curta reverência, sorrindo, e seu timbre soava inadmissivelmente bem aos ouvidos. — Pode me chamar de Wonho.
Timidamente Minhyuk revelou seu nome ao novo conhecido, curvando-se também. Enquanto a caixa metálica subia através dos andares do condomínios, trocaram algumas frases e risadas, onde naquele curto período de tempo descobriram que partilhavam o mesmo gosto para animes; o assunto veio à tona quando reparou na blusa de One Piece que o loiro usava. Quando as porta do elevador abriram-se, ambos se despediram com a promessa de que terminariam o assunto outra hora. Coisa que não tardou a acontecer.
Passaram a se encontrar com mais frequência; no corredor, na academia do prédio, na piscina. Pareciam combinar — ou talvez Wonho o estivesse observando —, mas as coincidências cessaram quando finalmente trocaram números de celular e passaram a realmente combinar de sair via mensagem, por vezes até fora do prédio.
Lee Jooheon nunca gostou de Hoseok. Toda vez que o via se aproximar de Minhyuk e estava por perto, passava um dos braços pelos ombros do namorado e trazia-o para perto de si, direcionando uma careta de irritação na direção do loiro. Joohoney, como gostava de chamá-lo, sempre fora muito ciumento. Aos seus olhos não havia mal em ter amizade com Hoseok, ele era um bom rapaz, afinal.
Era como costumava pensar.
Com o desenrolar do tempo, passou a reparar no modo como Wonho agia perto de si. Sempre fitava-o diretamente nos olhos durante as conversas, ria de qualquer piada sem graça que contasse, dedicava-lhe total atenção e cuidava para que estivesse bem. Realmente um doce. Mas em contrapartida também haviam os olhares nada discretos sobre seu corpo, frases maliciosas lançadas ao acaso, mordidas nos lábios e a exibição de seu corpo definido — seu namorado obviamente via aquilo. Contudo, logo desconsiderava tais pensamentos, julgando ser apenas fruto da imaginação.
E sem que percebesse, tornavam-se cada vez mais íntimos, e o Shin estava cada vez mais próximo; abraçando-o de repente, beijando sua bochecha calorosamente ao se despedirem, acariciando sua coxa quando sentavam-se próximos. O Lee notou apenas que as brigas com seus namorado eram cada vez mais frequentes, tendo sempre como tema o vizinho loiro, este que sempre lhe dizia quando desabafava aos prantos que merecia alguém melhor que Jooheon.
Certa noite, chorando no ombro de Wonho após mais uma briga, a ideia não lhe pareceu tão ruim. E o amigo, como se pudesse ler seus pensamentos, tomou seus lábios um beijo delicado e carinho, que foi prontamente correspondido.
— Eu estou apaixonado por você, Minnie. — Declarou Hoseok, após findarem o ósculo.
O moreno tornou a chorar após ouvir suas palavras — meio arrependido e culpado por sentir-se imensamente feliz após beijá-lo. Após o episódio, não terminou com Jooheon, mas sempre acaba aos beijos com o loiro quando se viam sozinhos. Os dois partilhavam uma química tão grande que era quase que natural; a palavra traição raramente atingia seus pensamentos.
Certo dia, seu namorado surtou no meio do corredor quando Minhyuk declarou que mais cedo naquele mesmo dia fora ao cinema com o amigo, e viram justamente o filme que Jooheon esperava ansiosamente o lançamento. Os gritos atraíram muita atenção e logo a porta do apartamento ao lado do que o casal dividia se abriu, e Hoseok colocou-se à frente do rapaz alguns meses mais novo, numa posição defensora.
— Sai da frente! — Gritou, praticamente rosnando de raiva. — Você tá fodendo com o nosso namoro e ainda se acha no direito de se intrometer nas nossas conversas?! É o meu namorado aí! Meu!
— Me diz... — Começou Hoseok, com um sorrisinho de provocação brincando em seus lábios. — Se ele é tão seu assim, por que ele me deseja tanto?
O segundo Lee calou-se, talvez porque soubesse que as palavras do outro eram a verdade, e encarou Minhyuk com uma expressão raivosa antes de virar as costas e ir embora. Contudo, era evidente a tristeza em seus olhos.
Assim que a porta se fechou e percebeu estar dentro do apartamento de seu amigo, o moreno compreendeu que o namoro de sete anos que tivera havia se acabado. E, ao invés de chorar, beijou Wonho. Permitiu-se deliciar seus lábios macios enquanto suspirava de deleite ao sentir suas mãos acariciando-lhe todo o corpo. Sorriu e entregou-se; o Shin cuidaria bem de seu coração maltratado, não havia o que temer. Então gemeu alto a noite toda conforme rebolava sobre o membro do loiro, na esperança de que seu ex ouvisse do apartamento ao lado e se arrependesse por tratá-lo tão mal.
Como fora tolo.
As coisas começaram a mudar na manhã seguinte, quando Jooheon com o rosto inchado e olhos vermelhos anunciou, carregando uma única mochila em mãos, que estava indo embora e que deixaria-o com o apartamento que compraram juntos. Foi correndo contar a notícia a Hoseok, que apenas acenou a cabeça, indiferente; seu interesse no moreno parecia ter se dissipado magicamente.
A cada novo sol que nascia, Minhyuk ia percebendo aos poucos as coisas corriqueiras que se perderam no dia a dia. Não haviam mais conversas animadas trocadas por mensagem altas horas da madrugada, Wonho sequer lembrava-se de desejar bom dia, como antes sempre fazia. Sentia falta das risadas sem sentido, das tardes jogadas fora vendo filmes e comendo pipoca, dos toques discretos e carinhosos; agora ele revirava os olhos cada vez que tentava contar uma piada. Reparando bem, o único momento em que o amigo parecia gostar de si, era quando transavam.
Porém, apenas arrependeu-se de verdade quando se debruçou a sacada e olhou para baixo, reconhecendo na rua a cabeleira loira inconfundível e assistindo-o se agarrar com outra pessoa.
Porque naquele momento percebeu que Shin Hoseok não passava de um cafajeste idiota que queria sexo, independente dos desafios que precisava vencer para conseguir.
Percebeu o quão tolo era por cair em seus encantos.
Desatou a chorar, lamentando com todas suas forças ter magoado alguém tão bom quanto Jooheon. O rapaz que conhecera ainda na escola, que sempre tentara o proteger, sempre lhe dando amor e suprindo suas necessidades. Que morria de ciúmes porque, sabia, no fundo era inseguro e temia perdê-lo para outro, o veio a acontecer. Aquele que nunca deveria ter traído.
Por um momento, pensou em jogar-se da sacada, mas logo desistiu. Merecia algo pior.
E, por isso, quando Wonho entrou em seu apartamento, permitiu que ele o usasse — sem antes sequer perguntar a razão das lágrimas que ainda escorriam livremente por seu rosto. Deixou que ele arrancasse suas roupas com seu jeito bruto e satisfazer-se sem se importar com a dor que causava.
Porque ele merecia tudo de pior que Shin Hoseok tinha a oferecer.
Vielen Dank für das Lesen!
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