ohhtrakinas Sasah Trakinas

A partir do momento que percebera que o ambiente já não era mais o mesmo, soube que aquela experiência não seria apenas uma simples limpeza no ouvido


Kurzgeschichten Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#ouvido #terror #suspense
Kurzgeschichte
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one-shot

Era ridiculamente incômodo conseguir escutar apenas de um lado do ouvido, já que o outro, graças a problemas com a cera, estava completamente surdo. Não significava que ela era uma garota suja que não lava o próprio ouvido; realmente tinha problema com ceras.


Se a audição lhe faltava, a visão recompensava na curiosidade. Os grandes olhos redondos passeavam pela clínica pequena. Era um lugar limpo, com o azul e branco predominando todo o ambiente. Era agradável.


Quieta, sentada no banco de espera ao lado da mãe, a garota esperava ser chamada pelo médico que cuidaria de seu ouvido surdo.


O oto...


Otori...


— Vai lá – sentiu o cotovelo da mãe lhe cutucar o ombro — o otorrinolaringologista te chamou, não escutou?


Otorrinolaringologista. Esse era o nome.


— Vou só?


— Já é grande, não? É coisa rápida, ele só vai lavar seu ouvido. Estarei te esperando aquilo.


Um pouco receosa, ela se levanta do banco e caminha sem pressa até o balcão da recepção, perguntando onde ficava a sala do otorrinolaringologista.


— Entre por esta passagem, vire à direita e é a segunda porta do corredor.


— Obrigada – agradeceu, caminhando em direção a passagem.


Assim que a ultrapassou, sentiu uma forte sensação estranha dominar seu corpo, onde percebera que o ambiente havia mudado drasticamente, desde o piso que tornou-se de madeira, as paredes claras que agora eram beges, sujas; e com o teto cheirando à mofo, tendo uma péssima iluminação de lâmpadas fracas que piscavam.


Arqueou uma de suas sobrancelhas, sentindo a espinha arrepiar de medo. Por que aquela parte do consultório era tão diferente da recepção?


Engoliu a seco, dando um primeiro passo receoso, logo escutando a madeira ranger com o movimento. Queria voltar e ficar perto da mãe, mas a mesma disse que já era crescida; poderia se virar sozinha.


Apertou a barra do próprio vestido e fechou os olhos com força, arranjando a pouca coragem que tinha para prosseguir. Evitava olhar para trás ou para os lados, temendo encontrar alguma coisa assustadora que a pegasse.


Virou à direita e procurou pela porta dois. Chegara num pequeno pátio, onde havia varias portas ao redor e uma rampa que dava à uma passagem cujo o interior era impossível decifrar por causa da escuridão.


— Segunda porta, Segunda porta, Segunda porta –Repetia a si mesma, olhando em volta, assustada.


Queria logo entrar no consultório médico e sair daquele pátio vazio, sujo e friorento.


— Achei! –Quando deu o primeiro passo para seguir adianta, tomou um grande susto quando escutou um forte barulho de metal cair no chão, fazendo eco. Suas pernas escolheram assim como o ombro por reflexo, e logo seus olhos direcionaram-se à passagem escura; da onde veio o som.


Logo após o som, escutou alguns gritos de homens, e em seguida, um homem com roupas verdes de médico cirurgião aparece. O mesmo estava com a respiração afobada e secava o canto da boca sujo de sangue. Parecia que havia levado um soco.


— Melhor segurá-lo mesmo, antes que o parta a cara! Cretino!


Era uma briga?


A menina tomba a cabeça pro lado, levemente confusa com a situação aleatória.


Percebendo que não estava sozinho naquele pátio, o homem se vira para a garota, mostrando sua face para a mesma.


Tinha um rosto com a pele opaca, assim como seus olhos; sem vida. Olheiras profundas adornavam seus olhos, e num todo, sua aparência era de alguém extremamente cansado, ou semi-morto.


— Quem é você? –Perguntou ele.


— Sala dois...?


— A minha.


— Otorri...?


— Otorrinolaringologista. Eu mesmo. É a próxima paciente?


— Hm, sim.


— Então venha logo –O médico a pegou pelo braço sem nenhum cuidado, e a garota percebeu o quão áspera era sua mão. Forte, cheia de calos. Uma mãos grossa com as unhas sujas de sangue seco e outros fluídos. Nojenta.


Assim que entrou na sala, pôde ver numa iluminação amarelada, o consultório abandonado e completamente bagunçado. Uma sala cumprida em forma de retângulo, com a mesa cheia de papeis velhos, amassados, como se um louco estivesse sentado ali e tentasse durante horas pôr seus pensamentos em ordens sem sucesso. A cadeira preta totalmente velha, com o estofado do acento para fora, desgastado. Os armários de metal riscados e enferrujados.


Quando virou o rosto para observar melhor a sala em que estava, tomou um susto quando viu uma cama hospitalar completamente suja de sangue em seus lençóis. Mais assustadora ainda quando percebeu que além de sangue, haviam alguns restos mortais de seja lá o que for.


Tal lugar horripilante e sujo, aguçaram seus sentidos para um despertar de medo. Engoliu a seco, com o coração batendo rápido e um frio percorrer a espinha.


— E-eu acho que vou embora —disse numa voz trêmula, abraçando o próprio corpo, dando um passo pra trás.


Virou os olhos para a janela fechada, vendo pelo vidro o lado de fora completamente desconhecido. Árvores secas e corvos por todo canto era totalmente diferente de onde havia vindo.


Onde estava?


— Paradinha aí.


Tomou um susto quando sentiu seu ombro ser tocado.


— O que diabos há com você? ­—o médico levantou uma de suas sobrancelhas.


Era tudo tão estranho, tão medonho. De nada aquilo ali se parecia com um consultório médico. Mais parecia um manicômio abandonado, com pessoas loucas que trabalhavam em meio à sujeira e sangue podres. Seres humanos que sucumbiram à condições extremamente precárias e tentavam lidar com seus próprios demônios internos.


A garota estava terrivelmente assustada, querendo correr logo daquele lugar assustador e voltar para a recepção agradável e limpa.


— E-eu quero ir embora —disse, num murmúrio.


— Tem medo de limpar o ouvido?


— Não é isso, é que...


Atrapalhou-se nas palavras quando seus olhos desviaram-se para a porta aberta, vendo o pátio vazio, estranhamente enevoado. Logo incomodou-se em olhar novamente para a cama suja de sangue com restos mortais.


A carne parecia fresca...


Sua distração logo fora substituída quando escutara o barulho de metal se chocando na procura do médico em achar algum instrumento hospitalar.


De repente, ele puxa um grande alicate sujo.


— Venha aqui, vamos acabar logo com isso —disse ele, com a voz cansada, aproximando-se da garota.


— O-o que vai fazer com isso!? –Recuou um passo.


— Limpar seu ouvido. Está surda de um dos lados, não está?


— Com alicate!? –Dizia alto, se afastando a medida que o médico se aproximava.


— Não confia em um especialista? É medicina!


O medo se apossou de seu corpo quando o médico agarra-lhe o braço e a faz se aproximar contra sua vontade. Seus olhos se arregalam quando vê o alicate se aproxima de sua boca. Em vez de fechá-la, abriu, para gritar.


— Cale a boca, idiota.


Médicos geralmente deveriam ser gentis e atenciosos, tratar seus pacientes bem para que não causassem-lhes medo; todavia, aquele médico era estranhamente diferente. Completamente invasivo, enfiou o alicate que mau cabia em sua boca pequena, fazendo-a escancarar, causando ânsia. A menina começara a tossir, engasgando com a própria saliva que se acumulara com o gosto terrivelmente metálico, transbordando pelos cantos da boca, melando a mão do médico com o líquido transparente viscoso.


Os olhos enchera de lágrima quando sentiu o alicate apertar um dos dentes molares, contorcendo-se de dor. A saliva logo tingiu-se de vermelho com o sangue que brotara de seu dente torcido. Com o alicate, o médico apertara e fizera força o suficiente para girá-lo como se fosse o registro de uma torneira.


A menina não entendia o que significava tudo aquilo, do porquê estar passando por tanta dor, sendo que, a principio, fora ali apenas para limpar o ouvido. Suas pernas estavam bambas, e sua visão completamente nublada pelas lágrimas que caiam abundantes em seu rosto.


Contorceu-se mais um pouco quando sentiu, com a torção de seu dente, a pressão de sua cabeça aumentar, fazendo com que a cera de seu ouvido se comportasse de forma estranha.


Como se fosse coisa do outro mundo, a menina olhou para o lado assustada assim que viu o médico, com a outra mão livre, enfiar dois dedos dentro de seu ouvido, puxando sua cera que se esticou como chiclete. Era nojento ver aquilo, aquela gosma com cor escura, sair com tremenda facilidade.


Estava tão horrorizada que até parara de gritar, e quando deu-se por si, o médico não mantinha mais o alicate sujo e enferrujado dentro de sua boca. Completamente confusa, manteve os olhos arregalados, tamanha sua surpresa; mas o que mais lhe incomodava, era o fato de, depois de ter tirado a cera que lhe ensurdecia e tirado o alicate de sua boca, o dente estava posto no lugar, como se nada tivesse acontecido.


Com a língua, passeava a mesma pelo interior da boca, tentando sentir qualquer alteração.


Nada.


Tudo estava no lugar. Inclusive, nada sangrava.


— Limpe-se —viu o médico lhe dar um guardanapo —este limpo— para secar a boca que ainda escorria saliva.


Sugou a saliva para dentro, engolindo; passando o guardanapo para tirar o excesso.


Estava tão incomodada com o que havia acontecido. Era extremamente intrigante; jamais havia passado por aquilo.


Iria questionar sobre o ocorrido, mas de repente, percebeu que seu ouvido que antes surdo, agora escutava estupidamente bem. Piscou algumas vezes, estupefata ao escutar nitidamente, como nunca escutou na vida inteira. Seu ouvido simplesmente estava perfeito.


A menina estreitou os olhos, encarando o médico em silêncio, tentando entender o que estava acontecendo. O médico era assustador, o lugar era assustador, e a técnica era mais ainda; todavia, tinha que admitir que ele fez um ótimo trabalho. E que trabalho!


— Aqui está.


Encolheu os ombros, assustando-se minimamente quando escutou a voz grossa do médico acuar com nitidez, parecendo soar frente ao seu ouvido. O médico arqueou uma de suas sobrancelhas, levemente confuso com o comportamento excessivamente assustado da garota.


Era um pirulito. Um simples pirulito.


Um pouco receosa, esticou o braço lentamente e o pegou. Dando um leve menear de cabeça como agradecimento.


— Agora vaza. Logo! — disse, impaciente — Não pode ficar aqui por muito tempo, escutou? 

Apenas volte por onde veio e não fique olhando pelos cantos.


A garota estranhou os conselhos do médico, mas concordou sem questionar. Não queria ficar um minuto naquele lugar assustador; queria correr, sair o mais rápido possível; voltar pra sua mãe.


Sem perder tempo, a menina saiu do consultório do médico e foi para o grande pátio vazio que tanto lhe causava medo. O lugar parecia ter ficado mais escuro, e tudo parecia pior graças ao seu ouvido que fazia o favor de escutar absolutamente tudo que acontecia ali.


Medonhamente, em todo lugar parecia escutar vozes gritando e sussurros agonizantes.


Alguma coisa não estava certa. Aquele pátio parecia maior, mais escuro, mais...


Assustador.


Sua respiração voltou a ficar descompassada, e desobedecendo as ordens do médico, olhava para os lados completamente assustada, virando o rosto de um lado para o outro, girando o corpo.


— D-de onde eu vim mesmo? —perguntou a si mesmo, num sussurrar choroso, quase entrando em desespero.


Olhou para uma passagem muito semelhante a que tinha entrado, cujo não sabia o que havia do outro lado por causa da má iluminação amarelada.


A vontade de fugir logo daquele lugar fantasmagórico a fazia criar coragem que não tinha. Engoliu a seco e cerrou os punhos, apertando o pirulito com mais força.


Atravessou o pátio correndo, com seus passos fazendo eco no ambiente que parecia vazio e entrou na passagem escura de uma vez só.


Ao longe, pode-se escutar os passos da garota correndo sem rumo, indo para um lugar desconhecido, perdendo-se na eterna escuridão. 

13. Juni 2018 01:45 1 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Sasah Trakinas Alcoólatra triste.

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Franky  Ashcar Franky Ashcar
Uou, adorei. A tensao aplicada em todo o texto foi ótima, chegou a me arrepiar toda. Que ambientação maravilhosa, sério, ótimo texto. Só uma coisinha eu notei a repetição da palavra quando muitas vezes num curto período de tempo, contudo de resto está perfeito, ♥️
June 13, 2018, 13:50
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