loryroux Lory Roux

Pietro estava experimentando a independência plenamente pela primeira vez. Encorajado pelo sabor dessa liberdade, decidiu que já era hora de sair do tão conveniente e sufocante “armário”, mas essa decisão trouxe consequências para as quais Pietro não estava totalmente preparado. No entanto, Vinícius, o estranho com o guarda-chuva azul, parece saber exatamente o que fazer e dizer para que Pietro entenda que esse caminho espinhoso de aceitação e discórdia pode guardar pequenas maravilhas.


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#romance #amizade #youngadult #boyxboy #família #inkdisney
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Pequenos Momentos

OLÁAA

EAEEE

Essa é a primeira história que to fazendo pro desafio do Inkdisney, e escolhi a música Little Wonders (é memo?) do filme A família do Futuro. A história é original e tá grandinha, então não vou me demorar.

CHEGA DE PAPO, BORA PRO CAP


O garotinho passou a maior parte do tempo de olhos fechados, apertados.

A voz ainda era fina, em fase de mudança quando ele se abaixou de modo exagerado, fazendo os papéis soltos em sua mochila escorregarem da bolsa meio aberta. Ele já tinha berrado o que queria e, tanto pela vergonha como pela falta de resposta, não conseguia se erguer.

A chuva estava caindo, fina e constante e Pietro se aproximou do garotinho curvado a sua frente. Tentou cobrí-lo com o guarda-chuva azul mesmo que ele não parecesse se importar com o material se molhando, assim como seu uniforme. Ele permanecia parado e trêmulo, dando a chance de Pietro notar o ponto marrom perto da nuca. A voz do menino de cabelos castanhos era baixinha e chorosa quando ele soltou um pequeno gemido frustrado.

Um soluço. Ele estava chorando e Pietro se assustou ao notar. Arregalou os olhos azuis e estava prestes a tocar o ombro do menino quando ele se pôs a correr, deixando as folhas de desenhos para trás. Pensou em pegá-las para devolver, mas seria inútil. Eram só papéis rabiscados do trabalho feito em sala de aula, uma despedida para o fim do ano letivo.

Vendo-o correr, balançando os cabelos castanhos, perguntou-se porque seu coração estava batendo tão forte depois de ouví-lo.


Estava sendo beijado.

Conseguia sentir os músculos fortes prensando-o contra a parede e os olhos azuis se fecharam na intenção de mergulhar ainda mais naquelas sensações. Não sabia se tinha bebido demais ou de menos já que estava com uma vontade ridícula de chorar. Avançou com um pouco mais de força na boca do rapaz que agarrava sua cintura, querendo calar aquela parte de sua mente, mas percebeu que não estava funcionando quando o gosto salgado das lágrimas preencheu seu paladar.

Não esperou que o outro notasse – porque talvez não acontecesse já que parecia mais bêbado do que ele próprio -, apenas empurrou o corpo pra longe, aproveitando o momento de confusão alheio para escapar dali. Passou as duas mãos pelo rosto, secando as lágrimas que continuavam a cair e xingou para o além.

Uma chopada parecia uma boa desculpa pra se distrair do caos que sua vida tinha se transformado nos últimos seis meses. Ele só precisava de um pouco de diversão, algo alcoólico pra beber e alguém pra transar. Ao menos, era isso que pensava. Seu cérebro, entretanto, parecia ter outros planos pra ele já que tinha começado a chorar enquanto beijava um cara muito gato e isso não era justo.

Tinha certeza que estava procurando algo pra beber, mas suas pernas o levaram para o lado de fora do galpão alugado para a festa. Apalpou os bolsos, só pra ter certeza de que ainda estava com seus pertences e caminhou para longe sem olhar pra trás. A música soava cada vez mais distante e Pietro parou de tentar limpar o rosto. Era melhor deixar as lágrimas saírem de uma vez. Estava sozinho na rua e, embora isso fosse meio vergonhoso, poderia ser pior.

A república que dividia com mais três rapazes não era tão distante, mas caminhar com os olhos embaçados era ruim. Por isso sentou-se num dos bancos de praça que havia no caminho, na calçada e puxou a respiração com força enquanto jogava a cabeça pra trás. Cobriu o rosto, sentindo nas costas das mãos e nos braços alguns pingos de chuva. Queria ter forças para se levantar e ir pra casa, mas não fez isso. Apenas ficou ali, sentindo a garoa se tornar mais forte.

— Ei – a voz grave chamou sua atenção – Você 'tá bem?

Pietro não sentia mais a chuva. Ao tirar as mãos do rosto, viu um rapaz que devia ter a sua idade segurar um guarda-chuva azul sobre sua cabeça, o que fez com que a manga na própria camisa ficasse molhada.

— Eu... 'Tô.

— Vai ficar doente se ficar parado aí. Você mora longe?

Pietro mordeu o lábio e negou com a cabeça. Desviou o olhar logo depois de notar os cabelos castanhos um pouco compridos na parte de cima, quase caindo sobre os olhos tão marrons quanto os fios. Que vergonha, era tarde. Não achou que fossem se incomodar com ele ali.

— Moro perto. Eu já vou.

— Tem certeza que está bem?

— Tenho – Levantou-se e acenou com a cabeça uma única vez, despedindo-se.

Passou as mãos pelos cabelos negros, tentando livrá-lo dos pingos de chuva, mas era inútil já que a chuva ainda caía. Olhou para trás somente uma vez. O estranho do guarda-chuva azul ainda estava lá e permaneceu até que o perdesse de vista.


Dessa vez, Pietro não tinha para onde correr.

Jay, um dos rapazes com quem dividia a república, queria fazer uma festa lá mesmo e não houve nenhuma resistência quanto a isso. Havia ligado para o irmão mais cedo e dito que passaria aquela noite estudando, mas não era a primeira vez que mentia para Paolo. Sentia o tom de voz preocupado do mais velho e o sorriso amargo se abriu sem que conseguisse evitar.

Enquanto se preparava para a festa, Pietro pensava na quantidade ideal de bebida para não acabar caindo no choro outra vez. Era inevitável passadas algumas doses, então tomaria cuidado para não se sabotar. Aprontou-se minutos antes das primeiras pessoas começarem a chegar e o começo da festa foi todo um borrão de afazeres para deixar todos à vontade.

Estava em sua pausa da bebida quente, tomando em vez disso um pouco de refrigerante para tentar se manter sóbrio quando viu a figura próxima a porta da cozinha. Os olhos azuis de Pietro se franziram um pouco, tentando se lembrar de onde conhecia aquele cara e os minutos que se seguiram encarando-o foram o bastante para ser notado.

Os olhos castanhos do estranho voltaram-se para si, mas Pietro não desviou. Estava quase reconhecendo... Oh, ele sorriu.

Era um sorriso bonito, ladino, mas o brilho tomava a expressão inteira e fazia o marrom dos olhos cintilar de um jeito bonito. Pietro sorriu de volta, contido. Continuou bebendo seu refrigerante até o fim antes de pegar uma cerveja. Sorriu quando viu o rapaz se debruçar sobre o barril ao seu lado e ficar ali, abrindo a própria latinha.

— Você 'tá bem hoje? - a pergunta veio do estranho.

— Hum?

— Ahn... Eu achei que tinha lembrado – o rapaz soltou uma risada nasal – Eu te vi na rua outro dia. Estava na chuva, meio pra baixo...

Pietro sentiu o rosto esquentar e olhou para a latinha na própria mão. Céus, ele estava achando que tudo fazia parte de um flerte quando o cara estava só lembrando de tê-lo visto chorando na chuva como um perfeito ator dramático.

— Eu estou bem, sim – tentou sorrir – Você faz jornalismo também? - tentou mudar de assunto.

— Faço Publicidade, junto com a Thaisa e o Jay. Quem me convidou foi ela, então eu lamento se isso for considerado invadir.

— Não, claro que não – Pietro sorriu em resposta porque o jeito como as covinhas do garoto se salientavam quando ele ria era muito adorável – Qual o seu nome?

— Vinícius – respondeu, estendendo a mão.

— Pietro – correspondeu o cumprimento.

— Eu sei – a resposta veio rapidamente e os olhos azuis se franziram novamente.

Ainda não tinham largado as mãos.

— Digo – Vinícius desfez o contato –, você estudou na mesma escola que algumas das minhas amigas. A Thaisa veio estudar aqui, mas também tinha a Laura e a Violetta, eu não sei se você vai lembrar...

— Ah, eu acho que lembro sim.

Na verdade, Pietro lembrava bem. As duas, Laura e Violetta, tinham assumido um relacionamento no fim do último ano da escola e, céus, como sentiu inveja daquela coragem.

— Você morava na cidade, então?

— Sim, quando criança – Vinícius respondeu – Depois só voltava pra visitar alguns parentes.

— Estranho a gente não ter se esbarrado – divagou.

Mas o garoto de olhos castanhos risonhos apenas balançou a cabeça.

— Nos esbarramos agora, né? - ergueu uma sobrancelha marrom em sua direção – É a chance que o destino nos deu.

Pietro não sabia se aquilo era um flerte, mas quis muito que fosse. Continuou desejando isso enquanto saíam de perto do barril com mais duas cervejas e quando pararam perto das escadas pra conversar. Também quando Thaisa passou perto deles agarrada em Jay e a garota fez uma expressão depravada na direção de Vinícius logo antes de soltar um resmungo embriagado sobre ele estar "mostrando as asinhas". Desejou também no momento em que ele começou a tocar levemente seu braço de um jeito despretensioso enquanto conversavam.

— Aqui 'tá muito barulhento – ele disse perto de seu ouvido – Tem algum lugar mais quieto? Eu quase não consigo te ouvir.

Pietro sentiu a mão acariciando sua cintura enquanto ele perguntava e sorriu em resposta ao segurar aquela mesma mão para tirá-los dali. A república tinha dois quartos e Jay, a pessoa com quem Pietro dividia o cômodo, estava ocupado com a namorada, então não se preocupou em deixar a porta trancada. Apenas arrastou-se com Vinícius para dentro do lugar e então... Silêncio.

Os olhos azuis quase escondidos pelos fios escuros que começavam a crescer fitaram o rosto não mais sorridente do outro. Vinícius deu passos lentos em sua direção. Tão vagarosos que pareciam carregar pra longe o ar do ambiente. Ou talvez fossem os olhos chocolate mirando-o com tanta força. Pietro só sabia que não podia respirar corretamente enquanto ele se aproximava, parando bem a sua frente, deixando-o ali, no vão entre o corpo bronzeado e o beliche.

— Pode me ouvir melhor agora? - Pietro perguntou, arriscando recomeçar o assunto.

Vinícius correu a língua pelo lábio inferior, sorrindo de um jeito doce enquanto assentia.

— Eu vou te beijar – avisou e Pietro arregalou os olhos azuis em surpresa – Pode me parar se quiser – chegou mais perto, mirando a boca alheia – Mas eu espero, de verdade, que não queira.

A voz era um sussurro ao proferir a última palavra e as mãos voltaram a cintura de Pietro, trazendo o corpo mais pra frente. Vinícius passou os lábios levemente sobre os seus, querendo saber se ele iria recuar, mas estava envolvido demais para voltar atrás. Por isso, provocou ao morder seu lábio inferior e no momento seguinte, beijaram-se de verdade, experimentando-se com tanta energia que Pietro nem ao menos conseguiu se lembrar que, até alguns dias atrás, não conseguia ficar com um cara numa festa sem começar a chorar.

**

— Por que tem um cara pelado na minha cama? - a voz de Jay se fez ouvir pela manhã.

Aquilo fez Pietro acordar imediatamente, notando só naquele momento que, céus, eles não subiram para a cama de cima – lugar que pertencia ao Giordano. Apenas deitaram na cama de baixo, na cama de Jay e... Bem...

Desculpas não seriam muito bem aceitas naquele momento, então Vinícius apenas se vestiu o mais rápido que pôde, tentando não chatear ainda mais o amigo de Pietro – e namorado de uma das suas melhores amigas – e foram para a sala em seguida.

— Me desculpe por te fazer sair correndo – a voz de Pietro era risonha.

Vinícius parou no caminho ao perceber isso. Os olhos azuis tinham um brilho divertido e aquilo fez sorrir também.

— Não tem problema. Me desculpe por... Sei lá...

— Não tem porquê – Pietro riu mais e balançou a cabeça – A gente se vê.

— Certo...

Assentiu e se afastou, abrindo a porta. Ficou parado com a mão na maçaneta antes de se virar mais uma vez. Tombou a cabeça de lado, mordendo os lábios.

— A gente pode se ver... Tipo, hoje? - perguntou, docemente.

— Almoço?

— Ou café.

— Os dois?

— Fechado.

— Certo. Até mais tarde, Vinícius.

— Até.

O sorriso agora foi grande demais pra não sorrir de volta enquanto ele, finalmente, fechava a porta. Pietro balançou a cabeça, sorrindo sozinho.

— Espero que a noite tenha sido boa na minha cama – Jay surgiu do quarto.

— Ah, você viu a bunda dele? - Pietro perguntou, retoricamente – Claro que foi a porra da melhor noite de todas.


O almoço e o café se tornaram frequentes, estendendo-se para visitas falsamente coincidentes no laboratório de fotografia ou na ala de criação, onde Vinícius trabalhava. Pararam de fingir acaso quando até dividir cup nuddles havia se tornado uma desculpa para se encontrarem.

Era divertido conversar sobre alguns gostos em comum ou se chocar com as divergências – principalmente no que se referia a preferência entre o gosto de café e caramelo –, mas com o passar das semanas, a aproximação foi devidamente notada. Alguns dos amigos já começavam a perguntar de Vinícius quando viam Pietro e vice-versa e, embora não quisessem admitir, um sempre sabia o que o outro estava fazendo. A rotina universitária era repetitiva, então não era difícil presumir, inicialmente, e os horários em que se encontravam já não precisavam ser marcados. Começaram a se adaptar à agenda um do outro sem notar.

Suas conversas fluíam de forma muito natural, sem ultrapassar a barreira do espaço pessoal porque estavam apenas saindo, se conhecendo e, claro, transando. Até mesmo isso passou a ser menos inconveniente, visto que moravam numa república, porque Pietro já não precisava jogar indiretas para Jay entender que ele queria ficar sozinho. O amigo já sabia a hora de sair de cena, revirando os olhos ao dizer que ia ver a namorada, pedindo silenciosamente que usassem a cama de cima do beliche dessa vez.

Estavam num clima gostoso assim, sem complicações e sem um compromisso real e oficializado, mas ainda estável o suficiente para se sentirem à vontade sem a parte irritante de "dar satisfações". Pietro nem ao menos notava como eles já pareciam estar em um relacionamento para a maioria dos amigos, porque o status atual era bastante satisfatório e acreditava que estava tudo bem para Vinícius também. Por esse motivo, sorriu e aceitou alegremente o pedido de que fossem juntos ao shopping no final de semana.

Comeram juntos, embora tenham feito pedidos diferentes e pagaram meia entrada para assistir um filme sobre super-heróis. Passaram numa livraria e numa loja de cultura nerd depois disso, resolvendo parar na sala de jogos. Não tinham lá muito dinheiro sobrando, mas compraram algumas fichas indo até a máquina de basquete eletrônica e Pietro tentou alguns lances antes de Vinícius. A surpresa foi ver que o rapaz de olhos castanhos era bom também.

— Você joga? - Pietro perguntou, pegando a bola de volta.

— Jogava na escola.

— Qual posição?

— Ala – Deu de ombros.

— Ai, que clichê – Revirou os olhos azuis antes de fazer outra jogada.

— Eu sou clichê? Você realmente quer fazer essa comparação comigo, senhor Pivô, capitão do time?

Pietro franziu os olhos e passou a língua pelo lábio inferior antes de dar uma risadinha.

— Como sabe disso?

Vinícius revirou os olhos.

— Eu já disse que minhas amigas estudavam contigo. E você era popular, então seu nome surgia de vez em quando.

— Elas falavam o que? - a pergunta veio num tom divertido.

— O de sempre. Seu cabelo lambido gracinha e esses seus olhões azuis, que são muito clichê, sim senhor. E o total de zero músculos que você devia ter aos dezesseis, mas ainda era atraente pra elas...

— Você é um invejoso. Eu não tenho culpa de ser gostoso.

— E humilde.

— E você? Não falava nada?

Vinícius riu de novo, antes de fazer uma nova jogada. Virou a cabeça de modo travesso antes de responder.

— Um dia, quem sabe, eu te conto.

— Você vai me deixar curioso? - Pietro agarrou a barra de sua camisa, chegando mais perto.

— Eu vou. Você não sabia que, na verdade, eu sou bem malvado?

— Ah, mas eu não acredito – Tentou se colocar entre Vinícius e a cesta para que ele errasse o novo lance – Me conta logo.

— Não.

— Você já tinha uma queda por mim, né?

— Humilde mesmo. Eu não vou falar, desiste.

— Por que você começou o assunto se não ia terminar? - um bico se formou nos lábios bem desenhados e Vinícius deixou de lado a bola pra segurar aquela boca.

— Eu posso te recompensar, então – disse baixinho, chegando mais perto e ainda sorrindo – Eu não sou tão ruim assim, então só me diz – os olhos castanhos adquiriram um brilho maldoso – O que você quer pra me perdoar?

Pietro sorriu de volta, segurando o pescoço alheio. Alisou com carinho uma pinta que havia perto da nuca, pensando nas várias respostas que tinha na ponta da língua, quando escutou a voz de alguém interromper seu momento.

Pepi?

Pietro virou-se com pressa, pois só havia uma única pessoa que o chamava assim.

— Paolo? - afastou-se alguns passos de Vinícius, instintivamente.

O irmão oscilou seu olhar entre os dois, antes de se aproximar com algum receio.

— Não sabia que estaria nessa parte da cidade – Pietro voltou a falar – E você sabe que eu odeio esse apelido.

Paolo sorriu ao ver o rosto envergonhado do mais novo. Aquilo, ao menos, não tinha mudado.

— Estou acompanhando uns amigos – Deu de ombros – A gente se dividiu tem uns vinte minutos e estamos tentando achar todo mundo agora. Mas e seu amigo, quem é?

— Ah – Pietro virou-se para Vinícius, vendo que ele estava parado e com um sorriso simpático marcando a feição – É o Vini. Esse é meu irmão, Paolo.

— Oi – Vinícius foi o primeiro a cumprimentar – Você não mudou nada.

— Me conhece? - Paolo fez uma expressão desconfiada.

— Ah, sim. Eu morava na rua sete, perto da Alameda de Arinisis. Eu me mudei tem muito tempo, mas você deve conhecer a dona Sophia.

— Conheço, é claro.

— Minha avó.

— Não brinca!

Tudo bem, Pietro não estava esperando por isso. Definitivamente não estava.

Nem ao menos havia passado pela sua cabeça que aquele clima tranquilo fosse o que aconteceria quando apresentasse seu irmão ao...

Bem, quando apresentasse ao que? Enquanto via os dois sorrirem simpaticamente um para o outro, relembrando os vizinhos mais antigos, Pietro se perguntou pela primeira vez o que ele e Vini eram, de verdade. Estavam só ficando ou aquilo já podia ser considerado um namoro?

E se fosse, ele contaria a Paolo?

Ele o amava é claro. Como mais velho, sempre se preocupou com Pietro, mas o modo como achava que teria uma vida desregrada apenas pela descoberta que fizera era irônico.

Paolo não se importou quando Pietro experimentou bebida alcoólica aos quatorze, nem com os rumores de que tinha transado com Amanda Valença, uma colega de classe, aos quinze, nem ligou quando um dos seus melhores amigos empurrou um baseado para ele aos dezesseis. Não, ele ria de cada uma dessas situações.

O que o deixou preocupado foi o fato de Pietro ter se assumido gay.

Ligava ao menos uma vez por semana, fazendo perguntas esquisitas pelo medo descabido de Pietro estar fazendo algo errado – como se não tivesse sido o principal responsável pelas maiores besteiras que o mais novo cometeu.

Por esse motivo, não sabia muito bem como se comportar diante da situação atual.

— A dona Carmem ainda dá doce no dia das crianças? - Vinícius perguntou.

— Sim, e eu ainda estou incluído nessa lista. Acho que pra ela ninguém cresce.

O sorriso de Vini era genuíno, divertido e Pietro engoliu a seco. Quando os olhos castanhos viraram-se para si, entretanto, não precisou dizer mais nada.

— Eu acho que preciso voltar – olhou o relógio de pulso – A gente tem prova de Teoria da Comunicação na terça, então...

— É – Pietro confirmou antes de se virar para o irmão e morder o lábio – Eu já vou.

Paolo assentiu, puxando a respiração e tocou o ombro do mais novo, parecendo perdido.

— A gente se vê, então. Eu te ligo. Vê se estuda.

Pietro assentiu, acenando uma última despedida antes de seguir Vinícius para fora da sala de jogos e do shopping. O clima de antes totalmente desfeito. Não conseguiu explicar porquê, mas não passou aquela noite com Vini. Sentia que seria o cara patético que chora enquanto beija alguém e Vinícius não precisava ver isso de novo.


Já fazia dias que Pietro vinha se esquivando de Vinícius. A pior parte é que não estava explicando o porquê.

Sendo sincero, Pietro também não entendia muito bem o motivo, estava apenas evitando o reencontro desde o dia em que saíram. Estava, inclusive, odiando isso porque sentia falta dele. Desde que conhecera Vinícius, vinha colecionando pequenos e agradáveis momentos que o deixavam risonho no fim do dia e não lhe restava tempo para lamentar por nada. Era tão simples, fácil e prazeroso estar ao lado dele que conseguia se esquecer de todo o resto.

No entanto, aquele encontro entre Vini e Paolo havia estragado tudo. Até aquele momento, Vinícius era uma parte isolada de sua vida, particular, algo que pertencia somente a ele e que participava apenas do que viera depois do caos. Mas ao conhecer Paolo, era como se ele tivesse se envolvido no meio da confusão inteira. Pietro sabia que aquilo não fazia sentido e que o outro nem ao menos sabia sobre nada que o atormentava, mas aquilo não fazia diferença para o seu subconsciente sabotador.

Naquele dia, havia respondido secamente uma mensagem do rapaz, acreditando que ele finalmente se cansaria. Colocou um casaco, porque aquele era um dos raros dias realmente frios na cidade e foi até o terraço da construção de dois andares que era sua república. Apoiou-se no muro de proteção e observou de longe o crepúsculo interrompido pelas edificações. Sentiu-se novamente com aquela vontade estúpida de chorar. O sol ainda não havia se posto completamente quando começou a chover mais uma vez.

— Essa visão em Paraíso do Sol é linda, mesmo quando chove – uma segunda voz disse de forma suave.

Pietro olhou para trás, vendo a figura de Vinícius segurando um guarda-chuva azul. Os olhos castanhos encontraram os seus até que ele estivesse ao seu lado, protegendo-o novamente da chuva.

— O que faz aqui? - a pergunta não saiu ríspida, para o seu alívio, mas ainda era confusa.

— Queria te ver.

— Eu disse que não 'tava bem pra transar.

— Eu não vim pra transar – Tirou um pacote do bolso do casaco – Eu vim te trazer caramelos.

Pietro olhou dos olhos marrons para o pacote estendido a sua frente e segurou, receoso.

— Olha – Vini voltou a falar, perdido – Eu não sei se você ficou chateado comigo por algum motivo, mas se você ficou irritado por eu... Sei lá, ter agido de um jeito estranho na frente do seu irmão...

— Estranho?

— É, você sabe... Como se a gente fosse... Namorado ou sei lá – as bochechas ganharam um tom avermelhado – Eu juro que não queria que você ficasse desconfortável. Mas eu às vezes só me comporto de um jeito invasivo...

— Quem disse isso? - Pietro franziu as sobrancelhas negras.

— Ah, sei lá, algumas pessoas.

— Gente idiota. Você não é invasivo. Eu adoro seu jeito – disse, antes mesmo de raciocinar.

— É? - a confirmação não era arrogante, porque Vinícius nunca era convencido de verdade.

Os grandes olhos castanhos mais pareciam agradecidos e inocentes, além de aliviados.

— Claro que sim. Você não fez nada de errado, sério.

— Então por que você não quis me encontrar? - girou o cabo do guarda-chuva e alguns pingos salpicaram ao redor deles.

— Eu só estava... Com algumas coisas na cabeça. Eu acho.

— Hum.

Silêncio. Ficaram algum tempo vendo o que restava dos raios solares desaparecer.

— O que é Paraíso do Sol?

— É o lugar onde eu morava antes de voltar pra cá. É bem bonito lá.

— Ah.

— Gostaria de te levar um dia. Mas você aproveitaria o pôr do sol melhor do que eu – sorriu.

— Por que?

— Eu ia ficar distraído olhando pra ti.

— Ah – Revirou os olhos – você é piegas quando quer.

— E você gosta.

— Eu gosto.

Sorriram. E novamente silêncio. Estar daquela maneira ao lado de Vinícius fez sua garganta queimar. Vinha guardando tanta coisa... Só queria poder dividir com alguém.

— Faz quatro meses que minha mãe não me manda uma mensagem – Pietro sussurrou, quase como se não quisesse que Vinícius escutasse – E ela só mandou porque era meu aniversário.

Vini encarou-o um tanto perdido pelo modo abrupto como o outro havia começado o assunto, mas permaneceu atento ao olhar azul perdido. Não o olhava de volta, apenas tinha um sorriso triste e sem graça no rosto enquanto continuava a falar.

— Meu pai não fala comigo há uns sete meses, por nenhum meio. Só o Paolo ainda me liga, mas eu sei que ele ainda não digeriu toda essa coisa...

— Que coisa? - Vinícius não sabia se devia interromper, mas o fez mesmo assim.

— Sobre eu gostar de caras – Mordeu os lábios, passando o dedo pelo concreto molhado do muro de proteção.

Pietro havia se assumido não fazia muito tempo. A bem da verdade, o almoço em família foi mais emocionante do que jamais fora desde que a tia Cassandra jogou uma travessa de purê na cabeça do – agora ex – marido. Não tinham todos os parentes em volta, no entanto. Foram apenas os pais e o irmão e isso já era o suficiente para uma comoção inesquecível. A mãe caiu no choro, o pai veio com um papo distorcido de que havia tido um filho homem e não... Aquilo, o que fez Pietro franzir o rosto e se perguntar qual era o problema dele, sem nunca externar. E havia Paolo, que ficou encarando-o atordoado por vários minutos sem dizer nada.

Só decidiu contar porque tinha saído de casa, finalmente. Passou pra Universidade em jornalismo e estava dividindo a república com os três colegas que também cursavam comunicação e logo no primeiro semestre conseguiu uma vaga de estágio no laboratório de fotografia. Era o mais próximo da independência que chegou na vida e aquilo foi o fôlego de coragem que precisava para esclarecer o que, para si, já era cristalino desde a época da escola.

Gostava de rapazes.

Bem, sendo sincero, Pietro sentia atração por mais de dois gêneros, mas suas preferências se evidenciaram com o passar do tempo. Seu período de Ensino Médio fora complicado e um tanto vergonhoso. Era cobiçado pelas meninas e mantinha uma pose de pegador popular porque morria de medo que descobrissem sobre si. Mesmo seu melhor amigo na época não sabia sobre isso e Pietro se forçava a falar como as garotas eram muito gostosas em assuntos constrangedores.

Apenas no último ano tomou coragem de ficar com um menino e por pouco a escola inteira não soube. Devia agradecer a única testemunha do ato por ter se mantido de bico calado. Pensou em vários momentos se não seria melhor que todos soubessem de uma vez, mas era assustador naquele período. Tudo era assustador, inclusive estar dentro daquele armário.

E isso passou a ser o que mais o assustava no mundo depois de algum tempo. Ter que viver sufocado era o maior suplício pelo qual já tinha passado e foi por esse motivo que havia contado tudo aos pais. Só não esperava que a família fosse levar tão a mal. Já estava indo para o segundo ano de faculdade e fazia meses que a mãe não o ligava. O pai nem sequer procurava saber sobre ele.

Não é como se o caçula dos Giordano fosse o mais caloroso garoto, mas perder o contato tão constante com a família o fez perceber que doía. Doía a rejeição.

— Sabe é... Estranho. Eu saí de casa e comecei uma vida por conta própria e podia jurar que eles ficariam irritados, no máximo, por alguns dias. Quer dizer, eles são meus pais. São biologicamente programados pra me amar acima de tudo, então... Por que eles não estão fazendo isso?

Vinícius puxou a respiração e soltou pesadamente.

— Sabe, a mente das pessoas trabalha de uma forma esquisita. Pais fazem muita besteira, mas a gente costuma se surpreender porque eles são adultos, então não deviam errar. Só que a gente já virou adulto também e faz merda o tempo todo. Ninguém está livre disso.

Pietro olhou para o rapaz ao seu lado, finalmente.

— Não dá pra saber o que seus pais estão pensando. Se é medo de como o mundo pode ser um lugar mais hostil pra você, ou se estão presos em pensamentos preconceituosos, mas eu tenho certeza de que existem momentos, talvez bem pequenos, em que você teve certeza que eles fariam tudo por você.

Era verdade, é claro. Pensando assim, em coisas corriqueiras, podia se lembrar das noites em claro que a mãe passava quando ele ficava doente, ou quando o pai usava seu horário de almoço para participar de alguma reunião escolar. Quando o seu tempo de folga era todo seu na infância, aprendendo a fazer as coisas mais inúteis para um garoto da cidade, como fazer um filtro d'água. Eram lembranças de uma época distante, mas ainda eram sobre si e sobre sua família.

— Se você consegue se lembrar de tudo isso, eu sei que eles também conseguem – Vini girou o guarda chuva outra vez – O tempo parece lento, mas ele vai passar e eles vão entender. A parte mais difícil já passou. Foi corajoso e se abriu com eles sobre quem você era e, em algum momento, olhando pra trás e relembrando a pessoa incrível que eles criaram, eles vão compreender.

Pietro passou aqueles intermináveis segundos olhando as covinhas nas bochechas de Vinícius e um rosto nunca pareceu tão lindo em toda sua vida. Os olhos castanhos refletiam a luz rosada do entardecer e aquelas palavras acalentaram seu coração, ainda que parecessem simples demais.

— Você é mesmo muito piegas – sussurrou.

— E você gosta – Repetiu, sorrindo.

— Eu gosto – foi o que disse antes de puxá-lo para um beijo.

Com as costas coladas ao concreto enquanto Vinícius o segurava com uma mão e o guarda chuva com a outra, Pietro chegou a conclusão de que estava, sim, muito bem pra transar.

**

Os cabelos ainda estavam úmidos pela chuva da qual não conseguiram escapar completamente. A pele leitosa de Pietro contrastava com o dourado de Vini. Os dedos bronzeados apertavam a pele macia das coxas enquanto o som mais delicioso da face da terra deixava a garganta do Giordano. Os fios negros quase cobriam os olhos azuis e Vinícius o trouxe para baixo, para tomar sua boca em outro beijo sedento, interrompendo a cavalgada do outro sobre si.

Quando as respirações se acalmaram depois do clímax, Pietro ainda descansava sobre o corpo alheio e os dedos fizeram carinho nas madeixas escuras. Nenhum dos dois queria sair do lugar.

— Obrigado por me ouvir – Pietro sussurrou como se fosse um segredo.

— Obrigado por contar – sussurrou de volta – Eu não me importo de ser a pessoa com quem você precisa desabafar. Eu estou aqui, ok? Não só pra fazer sexo, mas para o que você quiser.

Pietro não respondeu, crendo que o seu aperto ao redor do corpo de Vinícius fosse melhor do que qualquer palavra. Os dedos acariciaram a nuca e brincaram novamente com a pinta marrom que Pietro tanto adorava. Foi naquele momento, sentindo seu próprio coração acelerar e sentindo os batimentos de Vinícius igualmente rápidos contra seu ouvido, que entendeu.

Estava apaixonado.


Pietro não sabia muito bem como haviam acabado naquela situação.

Paolo resolveu passar na república e isso, por si só, já seria incomum. O que estava causando o clima estranho, entretanto, era o fato de que Vini estava lá também. Era sexta e os dois, embora não marcassem, de alguma forma sabiam que aquele era um dia para estarem juntos.

Sentados, espremidos no sofá da sala, nenhum dos três dizia nada. Paolo mantinha uma pose observadora e Vinícius estava apenas tentando não parecer invasivo, mesmo que Pietro tenha garantido que ele não corria esse risco. O caçula dos Giordano queria apenas morrer.

— Você vai ficar muito tempo? - perguntou, olhando para o irmão.

— Me expulsando?

— Perguntando. Os caras vão chegar logo e eu não sei bem como vai ser pra lidar com visitas a essa hora...

— Mas ele está aqui, não está? - apontou para Vinícius.

— Mas ele é amigo do Jay também – justificou, muito mal por sinal – Já estão acostumados com ele.

— Só por isso? - Paolo continuou desconfiado – Só por ele ser amigo desse Jay?

Pietro sabia o que ele estava fazendo. Sabia também que Vinícius não se intrometeria porque ele era educado demais pra isso. Paolo continuava olhando pra si daquela forma desafiadora e, céus, aquilo nunca lhe irritou tanto. Talvez tenha sido esse o motivo para se exaltar.

— Não – respondeu – Não é só por isso. Estão acostumados com ele porque estamos namorando.

— Estamos? - Vinícius arregalou os olhos castanhos e a pergunta escapou de forma tão inocente de seus lábios que Pietro quase o beijou outra vez.

— Ué, não estamos? - foi o que perguntou, em vez disso.

— Bem, se você quiser, então sim.

— Então estamos, sim.

— Mas o que? - Paolo sacudiu a cabeça.

— Ele é meu namorado. Era isso que queria ouvir ou confirmar? Que seja – Pietro respondeu impaciente.

Pepi...

— Pro inferno com esse apelido – agora estava realmente com raiva – Ninguém mais naquela casa fala comigo e eu vejo o esforço que você faz pra fingir que está tudo bem, mas não está, Paolo. E a culpa é minha porque fui eu quem decidiu assumir a minha sexualidade. Então para de fingir que eu ainda sou seu irmãozinho hétero. Isso é pior do que ser ignorado.

Os olhos de Paolo marejaram imediatamente e aquilo foi como um tiro. Pietro não se lembrava de ter visto o irmão chorar desde que entrara na adolescência. Achou que suas palavras o deixariam irritado, não triste.

Pepi, eu... Mas que porra. - Agarrou os cabelos com força.

Vinícius se levantou e saiu da sala educadamente.

— Eu vou esperar lá fora – pegou o guarda-chuva antes de bater a porta.

Pietro ficou olhando para o mais velho, confuso com aquela reação.

— Eu não queria te fazer sentir mal – a voz chorosa não combinava com Paolo e Pietro detestou ouví-la – Mas eu sempre estive ao seu lado, em todas as situações possíveis. Eu sei que você fez um monte de besteiras enquanto estávamos juntos, mas tudo bem, porque você estava comigo e eu nunca ia deixar você se machucar – os olhos azuis como os seus se ergueram – Eu sabia quando devia segurar sua onda e como te aconselhar, porque eu sabia tudo sobre você. E então... Eu não sabia mais. Você gostava de garotos e eu nem tinha notado.

— Paolo...

— Eu não tenho mais como ser a voz do seu juízo porque eu não sei nada sobre o que você vai viver agora e eu tenho medo de que te façam mal – as lágrimas deixaram os olhos do primogênito – Me assusta saber que as coisas mudaram desse jeito e eu não sei mais como te proteger.

— Paolo, para – Pietro se aproximou, sentando-se ao seu lado – Você não tem que me proteger de nada. Eu já sou um homem adulto – seguraram as mãos – Por que nunca me disse nada disso?

— Eu não sabia que estava se sentindo assim – engoliu um soluço – Depois que tudo aconteceu eu fiquei tão confuso. Fiquei tentando achar explicações pra isso, mas depois me senti um idiota.

— Você não é um idiota. Devia ter me contado. Teria evitado muita dor de cabeça. Eu sou capaz de entender essas coisas, sabia? Você não tem que me proteger de nada agora. Só tem que estar aqui pra me apoiar quando eu precisar. Pra ser meu irmão mais velho, só isso.

Paolo riu, usando a mão livre pra bagunçar os cabelos escuros do mais novo.

— Você é meu irmão caçula – sentenciou, mais calmamente – Vai ser sempre assim.

— Então pronto, para de show.

— Seu moleque...

Os minutos que se seguiram foram mais suaves. Paolo resolveu se despedir, rindo do pacote de caramelos sobre o balcão. Podia dizer o que quisesse, mas Pietro sempre seria seu irmãozinho que beliscava doces de madrugada.

— Sabe – disse, enquanto colocava o casaco – Ele parece um bom garoto.

— Quem?

— Seu namorado – sorriu – Vou tentar marcar um jantar em casa. Pra todo mundo. A mãe está com saudade de você.

Pietro baixou a cabeça, assentindo fracamente. Era provável que ainda encontrasse olhares decepcionados ou gélidos, como os que recebeu ao deixar a casa de seus pais pela última vez, mas aquele sentimento, a saudade, foi o que o fez ter esperança. Havia uma centelha ainda queimando, porque entre todos eles, pai, mãe e irmão, haviam pequenos momentos dos quais jamais seriam capazes de esquecer. O futuro, incerto como era, podia dar muitas voltas, mas essas memórias ainda permaneceriam ali, sendo o combustível de algo impossível de se perder.

Tinha confiança de que aquele sentimento prevaleceria.


Paolo tinha deixado a casa, mas Pietro queria andar. Por isso, em vez de chamar Vinícius para dentro da república, apenas segurou-o pelo braço, caminhando até a praça mais próxima. Não era muito seguro, mas estava iluminado o suficiente e a chuva fina estava quase parando.

— Eu devia fazer um pedido decente, né? - Vini quebrou o silêncio.

— Hum?

— Você veio todo bruto, dizendo que estávamos namorando. É tarde pra eu pedir direitinho?

— Ai, você é tão gay – Pietro revirou os olhos.

— Ah, pronto. Era só o que me faltava.

— Você vai querer usar aliança de compromisso também, senhor clichê?

— Vou. Você vai ver, eu vou aparecer com flores no estágio pra comemorar um mês de namoro, e a gente vai ficar famoso no Youtube. Vou fazer umas montagens com várias fotos nossas e umas cachoeiras e umas pombas...

— Eu não lembro de ter a cláusula de breguice quando assinei o contrato pra beijar rapazes.

— Eram as letras miúdas. Você não deve ter prestado atenção. Tinha o que? Treze anos quando assinou?

— Uns dez, na verdade.

Vinícius endireitou-se no lugar, surpreso.

— Tão cedo?

— É uma história engraçada – sorriu, apoiando-se num dos bancos que havia ali – Eu passei a reparar em garotos depois que um menino se confessou pra mim. Ele deu um berro dizendo "Eu gosto de você" e eu fiquei sem reação na hora. Acho que ele pensou que eu tinha ficado com raiva, mas aquilo não saiu da minha cabeça, assim como o motivo pra eu não ter ficado irritado, nem achado estranho. Foi quando eu notei que, pra mim, era perfeitamente aceitável um garoto gostar de mim porque eu também era capaz de me interessar por eles. Então... - Pietro fez graça, ao se virar novamente para Vini – Olhe para o além e agradeça a ele se hoje você pode me fazer um pedido de namoro e existe a possibilidade de eu aceitar.

— Quando foi isso?

— Sei lá. Acho que no terceiro ano do fundamental – sorriu – Você conhece a escola próxima da alameda...

— No caminho de cascalhos atrás do colégio – Vinícius sorriu – perto do balanço quebrado. Me pergunto se consertaram desde aquela época.

Pietro o encarou, confuso com aquela descrição de cenário. Muitas coisas fugiram de sua memória, mas outras, como estas citadas, ainda eram bem vívidas. Com um sorriso pequeno brincando nos lábios, o garoto de olhos castanhos entregou o guarda-chuva nas mãos do outro.

— Se um pedido como aquele teve uma influência tão grande sobre você, então talvez eu deva repetir – sussurrou, enquanto se curvava levemente em frente a Pietro.

— O que?

— Vou tentar não gritar ou te assustar dessa vez. - os olhos se ergueram o suficiente para se prenderem aos azuis – Eu me confessei aos nove anos para o garoto mais incrível que eu já tinha conhecido. E eu nunca fui capaz de esquecê-lo, mesmo depois de tanto tempo. E eu estou aqui, diante dessa pessoa tão covardemente linda que deveria ser tombada como um patrimônio universal, pedindo pra namorar comigo do modo mais clichê que eu poderia pensar.

Pietro ainda estava perplexo, absorvendo o fato e recuperando aquela memória tão nebulosa. Aquele ponto marrom perto da nuca de Vinícius nunca lhe pareceu tão charmoso e nunca fez tanto sentido ser tão "afeiçoado" a ela. Era uma daquelas centelhas de memória que, agora, batiam à porta de sua consciência. Fazia parte do garoto que um dia, impulsionou o primeiro passo para tudo que tinha se tornado. Aquele garoto... Vinícius, parado sob a chuva fraca, esperando para ser correspondido. Aproximou-se mais um passo, cobrindo os dois com o guarda-chuva azul. Não tinha notado o sorriso que tomava o seu rosto.

— Eu sabia que tinha uma queda por mim.

— Use essa boca pra dizer "sim" ou pra me beijar, por favor.

— Sim – respondeu – Mas é claro que sim.

Então veio, finalmente o beijo. Pietro queria dizer muitas coisas. Queria contar tudo que se passava dentro de si, o quanto acreditava que aquele sentimento tão duradouro que Vinícius carregava era recíproco e o quanto o queria por perto o tempo todo. Mas tudo que fizeram foi continuar aquele beijo mesmo depois de voltarem pra casa.

Ainda havia um mundo e uma vida inteira de coisas a serem superadas, mas haviam aprendido que o mais difícil, já haviam feito. Foram sinceros consigo mesmos e com os que estavam ao seu redor. Em meio a todos os desalentos, perdidos numa chuva torrencial de desencontros e dores, guardavam aqueles pequenos momentos. Essas mudanças e reviravoltas que jamais tinham fim, mas traziam sempre novas pequenas maravilhas.


DEIXANDO A AESTHETIC QUE A FILHA FEZ PRA MIM PQ EU TENHO A MELHOR FAMÍLIA SIM

FOI ISSO GALERES

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO

UM BEIJO NO KOKORO E JA NEE

30. Mai 2018 03:12 19 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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Riku Absolem Riku Absolem
Jesus...
November 19, 2018, 17:57
Ingrid Pessanha Ingrid Pessanha
Antes de mais nada Cake, vc que deveria ser tombada como um patrimônio porquê tu és uma escritora maravilhosa. Olha, quando eu fiquei sabendo que era vc a mente por trás dessa bênção aqui eu devo ter surtado pq não é possível que eu não tenha sido notificada (esse app possui isso?) ou visto algo na tela principal desse site - pelo menos pra mim, né? - voltando... Fiquei mmt feliz com a indicação. Me identifiquei com o Pietro, ainda que eu não tenha tido meus demônios em relação a minha sexualidade e sinceramente eu ficaria mmt feliz com um Vinicius desse, mas no momento ta difícil. Bom, espero me encantar mais e mais e não sentir que estou lendo outra história. Desculpe a confusão desse comment'. Demonstrar sentimentos com palavras é algo difícil pra mim. mas eu te amo ~Chu kkkkk
July 02, 2018, 01:57

  • Lory Roux Lory Roux
    AAAAAAAAAAAA MINHA XUXU, VEM CÁ ME DAR BEIJO. Que bom que gostou, de verdade. Eles são mt meus nenéns. OBRIGADA <3 July 05, 2018, 01:22
Inkspired Brasil Inkspired Brasil
Olá! Uau, eu estou sem palavras pra essa história. Vamos começar que a música Little Wonders em si já é emocionante e faz chorar, com essa fic agora ainda? Nunca mais ouvirei da mesma forma. Se eu explodi de amores por ela? Explodi sim hahaha. Você desenvolveu todo um plot incrível com a música e isso foi de maneira tão sútil, por que você não usou um único verso dela, mas é possível reparar que ela ta ali o tempo todo, como forma dos conselhos do Vinicius pro Pietro, até mesmo o relacionamento inteiro deles é construído assim, com essa ênfase em se libertar do peso que ele sente. E, não sei se estou viajando, mas a chuva é uma coisa que está muito presente na história, e ela ainda tem esse simbolismo de lavar e limpar, achei muito legal essa associação, meio ‘let it go’ hahaha. E esse final hein? Como eu tinha esquecido do começo? Faz todo sentido que eles se conheciam antes, de certa forma. O Vinicius é um anjo que merece todo o amor do mundo awn <3 felizmente temos o Pietro para isso hahaha. Sua história ficou muito incrível, ela é gostosinha de se ler e ela, só vai, nem percebemos o tempo passar de tão envolvente e quando acaba deixa aquele gostinho de quero mais (E quero mesmo! Onde está essa saga ai que fala na capa? Propaganda enganosa!). Sua escrita também é muito boa, ela é simples e bem fluida, isso é muito legal. Parabéns por essa história maravilhosa e obrigada por ter presenteado o nosso desafio com ela <3
June 24, 2018, 15:10

  • Lory Roux Lory Roux
    AAAAAAA. Sim, eu amava a música na versão em pt e depois na versão em eng. Eu amo demais. Realmente, não foi a intenção colocar versos dela, mas representar ela no geral e eu fico feliz que tenha atingido o objetivo. Não só isso como todas as coisinhas foram reparadas e eu to bem feliz. O vini é mt meu nene apaixonado auidheakfmaeklfme merece o mundo. SOBRE A SÉRIE, é uma longa história. Na verdade os personagens citados (Thaisa, Jay, Laura, Violetta e mais alguns outros) tem sua própria história pra contar. UM DIA VAI SAIR. OBRIGADA <3 July 05, 2018, 01:20
Vany-chan 734 Vany-chan 734
Gente, eu amei. Sério. AMEI MUITO. Primeiro que eu adorei ser uma original, já que eu abomino o UA de diversos fandons, mas originais conquistam meu coração de uma forma que eu só sei suspirar <3 Eu amei demais a personalidade do Vini, juro, ele parece ser uma pessoa tão doce e encantadora, que apesar de se achar invasivo, é na verdade é alguem pra se contar em todo momento. Outro ponto que eu amei de paixão foi os momentos engraçados ao longo da fic, desde o Jay puto pela cama até eles conversando sobre o namoro de uma forma totalmente desajeitada na frente do Paolo SHAUSHAUSH Sério, eu dei um berro em casa. Amo quando desenvolvem a relação pelas pequenas coisas, desde as manias aos trejeitos, e eu AMEI vc ter separado as cenas com desenhos de caramelos, totalmente relacionados à fic. Sério, eu to in love! Tratar sobre a homossexualidade e as relações familiares é sempre algo complicado, mas é algo precisa ser mostrado; no entanto, o que mais me cativou foi as palavras do Vini! Eu sou Bi, então as palavras dele deixaram meu coração quentinho, por isso, parabéns <3
June 23, 2018, 19:20

  • Lory Roux Lory Roux
    HAUAHHUA AAAA Ai, eu sempre to em UA, mas tava mt afim de fazer original aqui pq a história surgiu na minha mente com personalidades mt fortes e diferentes do que eu costumo escrever em fanfic. Então eu fico realmente feliz de saber que eles te ganharam. Eu amo fazer umas comédias pq é meu ponto. comédia romântica me consome dia e noite em tudo que eu faço. EU AMO OS NENE. Eu gosto mt de usar fotinhas pra separar cenas, e aqui eu TINHA que usar o caramelo iuahfejafnaekneaf que bom que reparou <3 O vini é o meu amor tem alguns anos, na verdade. Ele é muito fiel a si mesmo e um neném tão grande que eu nem sei. De verdade, fico feliz que isso tenha te feito bem de alguma forma. Obrigada mesmo <3 July 05, 2018, 01:17
Sonne Sonne
Ai, eu nem tô no desafio inkdisney e nem sei pq eu vi a capa e me deu vontade de ler essa história (mesmo sendo tipo, 100% fora da minha zona de conforto por não conhecer os personagens), mas aff, que coisa mais?? Soft?? Eu não sei colocar em palavras o sentimento quentinho e macio que se apossou de mim enquanto eu lia essa história pq ela foi tipo sei lá, uma tarde fria onde você tá enrolado em cobertas macias tomando um chá, foi essa a sensação. <3
June 19, 2018, 01:16

  • Lory Roux Lory Roux
    AI KATE, NÃO ME DESTROI. EU FICO MT FELIZ QUE CE TENHA GOSTADO, TOMA MEUS FLUFFY Q EU TO AQUI PRA ISSO IAUFAENKOFMAEKLFM TE AMO, OBRIGADA <3 July 05, 2018, 01:15
Ayzu Saki Ayzu Saki
Que gostoso ler algo assim <3 Deixou um gosto agridoce na boca.
June 18, 2018, 19:43

  • Lory Roux Lory Roux
    AAAI AIZÚ, VC NÃO ME MATA. OBRIGADA <3 July 05, 2018, 01:14
Crazy Clara Crazy Clara
Eu vi A Família do Futuro numa época meio complicada para mim. A música Little Wonders foi uma inspiração que nunca vou conseguir expor de maneira devida e, meu deus, que medo de ler uma história que me tirasse o efeito que a música teve em mim. Obrigada por fazer uma tão linda. Tive uma interpretação diferente dela, a que você abordou foi claramente mais romântica, e linda linda linda. Consegui sentir esses momentos do Pietro como os caramelos que ele gosta, sabe? Meio viajado falar isso, mas foi bem a sensação. Daquele único caramelo maravilhoso que a gente prova no meio de um dia insosso e já acha uma maravilha, memórias que aquecem a gente, total contrário daquelas terríveis de micos de 200X que deixam a gente se contorcendo antes de dormir. Me apaixonei por Pietro e Vinícius e, se eu não disse antes, digo agora que suas histórias são muito gostosas de ler. Ultimamente estou indo ler algo seu para relaxar, porque é sempre tão aaaaaaaaaaaa quero mordeeeeer! Bem sério, sem perder a profundidade da história você consegue escrever uma história linda. Estava querendo fugir um pouco das fanfics e dei uma respirada de ar puro aqui, personalidades únicas e um universo mais próximo. Parabéns pela linda história. Não sei se planeja, mas espero ler outros originais seus.
June 17, 2018, 01:00

  • Lory Roux Lory Roux
    AI CLARA, DEPOIS DE 84 ANOS, EU TO AQUI. BIXO, EU TO MT FELIZ DE NOVO COME SSE COMENTÁRIO POR VÁRIOS MOTIVOS. EU AMO A FAMÍLIA DO FUTURO E EU FIQUEI APAIXONADA NOS BEBES E EU TO MT FELIZ Q CE TENHA AMADO ELES TB. EU TO MT LISONJEADA DE VERDADE COM SUA DESCRIÇÃO E O QUE TE FEZ SENTIR PQ EU ACHO Q, NO FIM DAS CONTAS, EU ESCREVO PRA ISSO MESMO. PQ EU GOSTO DE VER VCS SE SENTINDO ASSIM. ENTÃO OBRIGADA DE VERDADE <3 July 05, 2018, 01:13
Marina Tavares Marina Tavares
Coisa linda, meu Deus! <3 Já é a segunda fic Yaoi que leio neste site maravilhoso, e sempre me emociono mais com esses romances doces e leves do quê com aqueles...*aquela carinha*, independentemente se é heteroafetivo ou homoafetivo, mas não quer dizer que eu não gosto daqueles mais...cê sabe. Deve ser por isso que eu prefiro mais esse tipo de romance, pois me dá mais um mix de emoções, sabe? Assim como sua fic deu <3 <3 Enfim, gostei muito da sua história ^_^
June 11, 2018, 19:26

  • Lory Roux Lory Roux
    AAAAAA XUXU, NOSSA EU FICO MT FELIZ QUE TENHA GOSTADO. OBRIGADA DE VERDADE <3 July 05, 2018, 01:11
Isis Souza Isis Souza
Ai meu Vinetro lindo! Eu já berrei muito com eles ne? Mas to aqui pra exaltar, pra dizer que amo as pequenas maravilhas desses dois, que é só uma delícia como tudo acontece entre eles, que eu quero abraçar Paolo bem apertado, que eu amo as referencias e crossovers, que eles são muito piegas e gays e entraram com tudo na cláusula da breguice mas não podia ser mais lindo. <3
June 11, 2018, 02:08

  • Lory Roux Lory Roux
    ELES SÃO MT NENES, EU NÃO AGUENTO. AI MARIDA OBRIGADA DE VERDADE, OS CROSSOVERS AINDA VÃO ME MATAR. VENHAM SER BREGAS. EU VOU MORRER. AAAAA OBRIGADA <3 July 05, 2018, 01:10
Sam Park Sam Park
AAAAAA QUE ESTÓRIA MAIS LINDA <3 <3 <3
June 06, 2018, 23:05

  • Lory Roux Lory Roux
    AAAAAAAAAAAA OBRIGADA, AINDA BEM QUE GOSTOU <3 June 18, 2018, 23:05
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