João Gostoso era mais um dos milhões de trabalhadores brasileiros que davam a vida para viver. Morava no Morro da Babilônia, num barracão feito de madeira e algumas paredes de tijolos vermelhos, sua casa ficava quase no centro da comunidade e não tinha número, exatamente como o seu dono, para o governo, João Gostoso era ninguém.
Como em um dia qualquer, ele acordou de madrugada para pegar o primeiro ônibus das quatro da manhã, depois o segundo das quatro e quarenta e cinco – que atrasou alguns minutos – e por último o terceiro ônibus das cinco e meia; tudo isso para chegar na feira e descarregar as caixas de frutas, legumes e hortaliças das caminhonetes dos feirantes e ganhar seu arroz com feijão. A única diferença foi ele sentir simplesmente que aquele dia era diferente e, com a chama que ardeu dentro dele, achou que deveria trabalhar como nunca trabalhou, descarregou cinco vezes mais caixas do que de costume, ganhou uns trocados a mais e até um pastel da Maria Pasteleira.
Para comemorar esse grande dia, foi, logo depois do trabalho, mais ou menos às seis da tarde, ao bar Vinte de Novembro. Gastou tudo o que tinha: bebeu tudo a que tinha direito, cantou todas as músicas do radinho e dançou um samba bem brasileiro com todas as moças que lhe apareciam pelo caminho.
Depois disso tudo, indo para casa, passou pela lagoa Rodrigo de Freitas e viu. Viu a Lua mais bonita. A Lua mais cheia e brilhante que já existiu. Mal se aguentando em pé, João Gostoso foi tentar alcança-la, molhando toda sua calça puída e suja, se inclinando mais e mais, até tocar nela. Mas a Lua se desfez em pedaços ralos.
Irritado com aquilo, João Gostoso jogou-se em busca da sua Lua cheia, debatendo-se na água e afastando-se cada vez mais, sendo puxado para muito longe da bola grande e brilhante. Ele estendeu os braços, deixou-os bem esticados na tentativa de tocá-la, mas a água o puxou para longe... muito longe. Ah, João Gostoso! Tão cheio de cachaça estava ele que não percebeu. A Lua era apenas um reflexo esfiapado.
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