Rebeca tinha acabado de ganhar uma câmera fotográfica profissional que tanto queria de seu pai. Agora passar o tempo naquele fim de mundo não seria tão ruim.
De todos os terrenos no interior, sua mãe tinha escolhido justo a mais longe do centro. O mais longe de pessoas e tecnologia, o mais longe de tudo, exceto de mato, mato e mais mato.
Não que Rebeca não gostasse de mato, mas... se fosse um mato perto do centro seria bem melhor.
A propriedade que eles compraram era a mais barata, e também uma das maiores, e aparentemente, cenário de algum assassinato, pois o lugar era bem bizarro. Era bonito de certa forma, mas dava um pouco de medo.
Seu pai tinha ido para casa almoçar, e tinha levado a câmera para ela, já com cartão de memória.
Ela comeu rapidamente e subiu para o quarto. Deixou a bateria carregando enquanto fazia as lições de casa. Em pouco tempo, já pôde levar a câmera para fora.
A casa dela ficava no começo da propriedade. Mais para trás, havia um celeiro, um galinheiro e uma casinha de ferramentas. Todos estavam uma bagunça que só.
Fazia dois meses que eles tinham se mudado para aquele lugar, e Rebeca estava — ainda — juntando coragem para ir ao celeiro à noite. Mas ela não era a pessoa mais corajosa do mundo.
Rebeca começou a mexer na câmera, a configurando, e logo começou a tirar fotos do lugar.
Ela gostava de fotografar a natureza. Antigamente, ela tinha uma câmera digital que usava para fotografar as árvores no caminho de volta da escola, mas um valentão decidiu pegar a câmera e jogar em um bueiro.
Bom, aquilo estava no passado. Na nova escola ninguém tinha feito nada até agora, e ela mal falava com os colegas. Parecia que ela era meio temida e ao mesmo tempo, era vista como uma novidade.
Rebeca achava isso estranho, mas eram pessoas do interior, afinal. Eles estavam acostumados a não ter pessoas novas. Pelo menos naquela cidade.
Ah, sim. Por que eles se mudaram para o interior? Trabalho de seu pai, Roberto. A empresa em que ele trabalhava iria abrir uma filial na cidade, e ele ficou responsável por administrar aquela. É, ele tinha meio que subido de cargo, começou a ganhar mais. Não que agora fizesse tanta diferença. Sua mesada seria poupada pela preguiça de ir até o centro para gastar.
Tudo bem. Agora Rebeca tinha sua câmera, sua melhor amiga.
Era engraçado o quão triste isso soava.
Aquele lugar era imenso. Havia um grande espaço entre o celeiro, o galinheiro e a casinha de ferramentas.
Rebeca tirou fotos de fora e dentro do celeiro, do galinheiro, menos da casinha. Tinha muita bagunça, e muito provavelmente havia insetos e ratos morando lá.
Ela voltou para perto do galinheiro. Atrás dele começavam as árvores. Eram altíssimas e aquela floresta parecia densa.
Algum dia ela se aventuraria lá dentro. Hoje não por quê... Bom, depois ela arranjaria alguma desculpa.
Começou a voltar para casa, mas parou quando ouviu passos quebrando folhas secas e galhos. Ela se virou e viu alguém.
A pessoa saiu da sombra, andando desengonçadamente. Era um garoto. Estava todo molhado e aparentemente cansado.
Ele andou para frente, olhando para o chão, e parou, olhando ao redor, quando viu Rebeca parada a uns dez passos de distância.
Antes ele parecia desolado, mas conforme olhava para Rebeca, muitas emoções passaram por sua cara, e a última foi alegria. Ele sorriu e andou em direção a ela.
Rebeca se assustou e começou a andar para trás, e ele parou.
— Como? Como você conseguiu escapar? — Ele perguntou. — O que você fez? Como conseguiu escapar tão rápido? Que roupas são essas? Onde estamos?
Rebeca não sabia o que falar.
Pobre coitado, talvez tivesse usado ecstasy e estivesse delirando? E que roupas são essas...?
Ele vestia calças marrom um pouco coladas e um blusão branco de mangas compridas — bem sujo. Além de estar todo molhado, estava descalço.
— Ah, você estava em uma festa a fantasia e usou drogas, é isso? — Ela perguntou, debochando do rapaz.
— Drogas? O que é isso? Você já se adequou ao lugar? Me diga onde conseguiu essas roupas, preciso muito trocar as minhas.
— Do que você está falando? Eu nem te conheço.
— Oh, não me diga que perdeu a memória? Onde está o livro? Vou te ajudar a recuperar suas lembranças. — Voltou a caminhar na direção de Rebeca.
— Não se aproxime! — Rebeca andou para trás, segurando a câmera com as duas mãos.
O rapaz parou, olhando para a câmera e pareceu surpreso, mas também com medo.
— O-o que é isso?
Ele realmente usou drogas.
— Quem é você? – perguntou desconfiada.
— Você realmente não se lembra... — disse triste. — Eu posso te ajudar, mas você precisa me dizer onde está o livro.
— Não sei que livro é esse. Você está louco. É melhor eu chamar uma ambulância para você.
— Ambu o que? Olha, eu preciso... — Ele parou, olhando para baixo, ficando pálido.
Então, ele se ajoelhou e começou a vomitar.
Ai, caramba. Só me faltava essa.
Rebeca correu até ele. Ele parou e se jogou no chão, ao lado do vômito, parecendo exausto.
— Ei, você está bem? Não quer mesmo que eu chame uma ambulância? — Ajoelhou-se ao lado do garoto.
— Eu... eu estou bem. Essas viagens são horríveis. Eu estou feliz que você esteja viva.
— Eu ainda não entendo do que você está falando.
— Tudo bem, tudo bem. — Ele sorriu, meio fraco. — Eu só...preciso descansar um pouco. Depois vamos procurar o livro e faremos você se lembrar. — Olhou ao redor. — Esse... lugar está um tanto diferente. Não estava de noite? Eu juro que estava de noite quando... — Se sentou, e rapidamente colocou as mãos na cabeça, se inclinando, parecendo com dor. — Céus, minha cabeça...
— Fique parado... — Rebeca olhou em direção à sua casa. Seus pais ainda estariam lá. Seria bem estranho chegar com um desconhecido drogado do nada. Então ela lembrou do celeiro.
— Olha, consegue andar até lá? — Apontou para o lugar.
— Acho que sim...
Ajudando-o a se levantar, e os dois andaram até o celeiro. As portas já estavam abertas, e eles entraram. Ela o deixou, pegou um monte de feno e começou a improvisar uma cama no canto da parede.
— Onde estão os cavalos? E as vacas? Como esse lugar está sujo. Quando foi a última vez que você limpou isso? Eles devem ter fugido tamanho a sujeira.
Rebeca revirou os olhos. Até quando ele iria delirar dessa forma?
— Vem. — Ela o puxou até a cama no chão. Ele se sentou, e apoiou a cabeça na parede. — Não posso te levar para casa ainda, mas assim que meus pais saírem eu te levo até lá. Assim você pode tomar um banho e comer algo. Você... não vai roubar minha casa, né?
— Eu? Roubar? Está maluca? Desde quando... Ah, é, você não se lembra. Não, eu não vou roubar nada. Nunca roubei nada em minha vida.
— Tudo bem. Só quis confirmar. Olha, eu tenho que ir lá. Mas assim que eles saírem eu venho te buscar, tá?
— Tudo bem.
— Não saia daqui.
— Não irei. Acho que vou dormir um pouco.
— Tudo bem. — Levantou. — Eu já venho.
Ele balançou a cabeça, e Rebeca saiu do celeiro, indo para casa.
Vielen Dank für das Lesen!
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