wingless_bird Wingless_ Bird

Um vampiro esperava um parceiro de negócios no centro da cidade quando é assaltado por uma criança moradora de rua. Isaac, morto-vivo, empresário, mataria sem piedade o maltrapilho, mas um estalo de consciência o faz pensar duas vezes. Contra sua vontade, leva o garoto doente para a sua casa, achando que ele morreria na sua frente e o culparia na pós-vida. A intenção inicial era tratar o menino e, depois, deixa-lo de novo na rua. Oliver, o mendigo ladrão, na verdade tinha 16 anos, mas seus problemas de saúde atrapalharam seu crescimento e ameaçavam sua vida já atormentada. No fim, Isaac acaba sentindo dó do outro e o acolhe para parecer “uma boa pessoa”. Ele só não esperava que se apegasse demais ao humano e que Oliver gostasse de brincar com o perigo.


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##vampiro ##sexo ##romance ##sobrenatural ##gay
Kurzgeschichte
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Oneshot

Oliver com certeza não tinha nada a perder com aquela empreitada. Não tinha pai nem mãe para lhe dar bronca ou puni-lo por sua “travessura”. Não tinha tio nem tia para cuidar de si ou mimá-lo com presentes. Muito menos tinha avó e avô, assim nunca compreendeu o que ouvia sobre as figuras dos idosos como bons conselheiros. O mínimo que o garoto conheceu foi uma irmã “de consideração” que lhe dava vergonha ao andar pelas esquinas vendendo o traseiro. Se Oliver tinha algo a perder com aquilo era sua própria vida, a qual não se importava tanto assim.

Oliver com certeza não tinha nada a ganhar com aquela empreitada. Por que alguém em sã consciência iria atiçar um vampiro? Por que alguém faria isso no meio do centro comercial do “ricões”? Por que alguém iria confrontar os donos do mundo e do submundo? Oliver, um mero humano esguio, sujo e maltrapilho, não sabia. Entrava em contradição agora que sabia que o que ganharia com isso era uma chance de viver um pouco mais.

Oliver é um menino confuso. Arriscaria sua vida para roubar dinheiro de um vampiro a fim de aplacar sua fome e doença que estavam o levando para morte? Afinal queria ou não viver? Ele coçava os piolhos pensando que talvez roubasse o suficiente para reconstruir sua vida, arranjar um teto melhor do que o de papelão, comer algo que não saísse do lixo ou das sobras de algum estabelecimento duvidoso.

Ah! Oliver tinha tantos sonhos! Imaginava-se no lugar daquele vampiro em um apartamento de luxo, com tudo que era preciso para se viver. Até mesmo o carro que o homem iria entrar em poucos segundo já somava em dinheiro mais do que o rapaz gastou em toda sua vida! No momento estava dividido se queria comer, se queria um banho ou se queria se matar para nascer rico na próxima vida.

Oliver então decidiu investir em sua empreitada, confiante de que arrancaria um dinheiro do vampiro sem muito esforço. Afinal o morto-vivo estava sozinho e o garoto conhecia todas as vielas da cidade, se enfiava em todas as frestinhas como um rato. Ele iria correr até o homem, pegar a carteira bem amostra no bolso da frente e correr o mais rápido que pudesse de volta para o beco onde estava sentado. Se enfiaria num buraco da cerca e entraria na Avenida Principal indo de beco em beco para despistá-lo. Que garotinho tolo era Oliver!

Conseguiu correr e pegar a carteira com sucesso, mas não deu sorte na hora de fugir. Oliver foi a escola apenas até a segunda série, antes que orfanato em que morava fosse demolido e ele tivesse que escapar das malvadas assistentes sociais. Oliver tinha apenas 8 anos quando deixou os estudos, como saberia que os vampiros tem força, velocidade, reflexos, visão e olfato superiores aos dos humanos?

Pobre Oliver! O que um garoto de 16 anos com aparência de 13, desnutrido, doente, com uma ou duas feridas infectadas, intoxicação alimentar, em estado febril, faria diante daqueles cruéis olhos vermelhos? O mais óbvio! Implorar para que sua morte viesse de forma indolor, afinal, desde o inicio, sua empreitada de roubar um vampiro estava fadada ao fracasso e ele não teria ninguém para chorar sobre seu cadáver. Apodreceria na viela até um louco dar algum fim a seu corpo. “Tanto sofrimento para acabar assim?”, suspirou ele.

Claro que nosso pequeno Oliver estava com medo. Quando o vampiro o pegou pelo braço tremeu dos pés a cabeça, sentiu o coração se agitar como se fosse pular para fora de seu corpo, queria gritar, correr e se lamentar pelo fracasso, mas nada faria essa situação mudar. Oliver estava mortinho da silva... em breve iria estapear a cara de seu pai no inferno o perguntando o porquê tê-lo colocado nesse mundo. Nos últimos segundos de sua vida, rezou para o Deus que não acreditava, implorando que apenas fosse fazer uma visita a seu pai e não ficasse lá permanentemente.

- Por que diabos você pensou que conseguiria me assaltar, moleque?! – Rugiu o vampiro. Por pouco, nosso protagonista não se humilhou mais mijando nas calças.

Afinal Oliver tinha escolhido assaltar uma figura nobre no meio de um centro lotado, onde várias pessoas passavam olhando seu rosto sujo e rubro de vergonha por ter feito o que fez em local público, afinal, já roubará algumas velhas, mas ninguém nunca ficou sabendo. O dinheiro que elas carregavam não lhe dava muito luxo ou simplesmente não permitiam sua entrada nas lojas.

- Estou falando com você, pirralho! – Gritou o morto-vivo puxando seu outro braço, obrigado o pobre garoto a encará-lo de frente.

Oliver o encarou, ainda tinha um pouco de orgulho apesar de ver que, só de tocá-lo, as mãos do vampiro já estavam sujas. Então queria falar, queria gritar, queria amaldiçoar tudo e todos, culpá-los por todos os seus infortúnios, por toda a sociedade que virou as costas para si. Oliver queria isso com todas as suas forças!

Mas, quando abriu a boca, além do cheiro terrível de seu mal-hálito, misturado com o de seu corpo a quase dois meses sem banho, além de suas lágrimas de ódio, sua voz saiu fanha, esganiçada, como uma nota errada em um violino desafinado (não que ele algum dia tinha visto um). Mesmo sem conseguir ser entendido gritou para todos. Ele morreria dali a pouco, mas pelo menos faria isso em paz

A última vez que o menino tinha falado foi quando pediu esmola para um homem. Esse lhe atirou uma lata de atum com violência, que acertou em sua testa e criou um dos cortes que agora infeccionava e causava dor. O desconhecido chamou-o de tantas coisas horríveis que o garoto se calou e prometeu a si mesmo não falar com mais ninguém.

Oliver também estava muito doente da garganta, tão infeccionada quanto seus cortes. Se não morresse ali, agora, não passaria de uma semana no máximo, como muita força (que ele não tinha), talvez passasse duas semanas antes de nunca mais acordar.

Quando Oliver terminou seu discurso incompreensível, o vampiro lhe olhava como uma aberração. Se tinha algo que ele odiava era ter esse olhar sobre si. Desprezo era a única coisa que alguém um dia já sentiu por ele. E embora o homem estivesse certo (Oliver nunca admitiria isso, mas até ele sentia nojo de si mesmo), cuspiu no rosto do morto-vivo mostrando que também sabia odiar.

O vampiro o soltou para limpar a nojeira e por um instante o tolo Oliver pensou que teria uma chance de escapar, mas o homem lhe deu um soco tão forte na cara que seu pequeno corpo doente foi ao chão como um saco de lixo. No fim, isso era tudo que nosso protagonista representava para seus falecidos pais, para sua irmã prostituta, para a sociedade: lixo.

Oliver demorou tanto tempo para se orientar que por um instante achou que já tinha passado dessa para melhor, mas eufemismos não costumam acontecer na vida desse rapaz. Ele conseguiu se apoiar sobre os braços, ainda estava vivo, mas não conseguia mais arranjar forças para ficar de pé.

Como uma brincadeira cruel do destino, o pequeno jovem estava perto de uma poça d’água e pode olhar seu rosto monstruoso no reflexo. Estava escuro, mas via sua pele antes branca completamente preta de sujeira, talvez seu rosto estivesse vermelho pela febre. O corte do lado esquerdo de sua testa com a pele em volta vermelha e cheia de puz e o novo machucado deixando seu olho direito pequeno e a pele em volta inchada da sobrancelha mal feita até sua bochecha, apesar da escuridão e da falta de banho era possível ver que tinha ficado roxo-escuro. Seus lábios cortados de quando tomava seu próprio sangue para saciar a sede, pálidos da doença. O cabelo nem se falava! Fedia, estava desnivelado, embaraçado, duro de tanta sujeira, qual era a cor dele mesmo? Oliver não se lembrava. Talvez seu olho mel fosse até bonitinho e seu nariz tivesse um formato razoável, ele não conseguia se recordar de sua aparência antes de começara morar na rua 8 anos atrás.

A imagem foi borrada quando seu corte aberto voltou a sangrar, ou melhor, secretar uma substancia verde mal cheirosa. Doía como o inferno. Começando a retomar o sentido completamente Oliver passou a sentir os machucados arderem e latejaram, além do estresse fazer seus músculos fracos ficaram rígidos. Talvez massageasse os ombros para ter algum alivio, mas suas unhas estavam tão quebradas, seus dedos tão cortados, que o faria sentir dor neles.

O pequeno Oliver conseguiu se arrastar até o vampiro, que agora o olhava com nojo extremo, mas com um fundo de piedade. O garoto fez a melhor reverencia que podia naquele estado e forçando a sua voz ao máximo para que ela fosse ouvida e compreendida, pediu humildemente para o morto-vivo, agora seu carrasco e salvador:

- Me mate, por favor!

O vampiro, de nome Isaac, inicialmente iria matar sem dó nosso protagonista, sem se importar se ele era uma criança (ele achava que era). Queria que o humano fosse para o outro lado arrependido de sua tentativa de furto, para que não sofresse tanto na punição divina, “afinal, sabe-se lá quantas mais pessoas ele roubou”, pensou o homem rico.

No entanto, Isaac viu naquele mendigo uma alma tão atormentada que sabia que ele seria barrado na porta do julgamento. Assim, “aquela coisa”, como ele pensava do humano, iria perturbá-lo e a última coisa que o vampiro queria era um fantasma feio, sujo e fétido no seu apartamento de luxo, assombrando sua “vida” eterna.

Isaac não teve alternativas se não colocar “aquela criatura feiosa e fedida”, no seu carro de luxo, novinho, e levar ele para um tratamento, ao invés de matá-lo, já que estava na cara que ele morreria sem ajuda, então o assombraria do mesmo jeito. Realmente o vampiro não sabia se era um ser divino ou infernal, nunca teve nenhuma pista, mas não se importava com isso, no entanto sabia que Deus estava testando sua paciência no momento que colocou “aquele monstrenguinho” na sua “vida-de-morto”.

Oliver estava com dor das feridas, com raiva de sua situação, com nojo de si mesmo e principalmente medo de ser levado para uma sala de tortura do vampiro e sofrer mais do que em toda sua vida. O menino deu um show para entrar no carro. Berrou, chorou, ameaçou, até que sua garganta começou a acumular pus e ele cuspiu na calçada.

Isaac ficou aliviado do “monstrinho” ter feito isso na rua e não no seu adorado carro, mas ficou apreensivo com o cheiro de morte que o liquido emanava. Jogou o morador de rua no banco traseiro, prendeu o cinto de segurança no colo dele e amarrou as mãos do humano com os outros dois. Mandou uma mensagem rápida ao amigo de negócios que esperava sair do prédio, mandou outra para um médico de humanos, seu vizinho, se preparar para atender uma urgência e começou a dirigir.

Teve que abrir os vidros e ligar o ar, pois o humano já parecia morto a muito tempo pelo cheiro. Fora isso, a viagem foi orquestrada pelos soluços e gemidos de dor de Oliver que não tinha mais nenhuma força para protestar. Delirou de febre no banco traseiro do vampiro, ficou entre a consciência e a inconsciência, olhou para o nada, escutou vozes, podemos dizer que ele até viu unicórnios. Nosso pequeno Oliver estava cada segundo mais perto de entrar em coma e nenhum dos dois se deu conta disso.

Felizmente Isaac foi rápido na condução e conseguiu chegar em seu apartamento antes que “o menino podre” desse um passo em direção aos braços da Dona Morte, no entanto ele estava tão mole, que nosso vampiro teve que carregá-lo no colo sujando sua camiseta de marca, e deixando seus jeans novinhos cheirando a lixo. Seu carro estava imundo, suas roupas também, Isaac podia pagar por novos, mas não teria que fazer isso se não tivesse topado com “aquela coisa”.

Parecia contagioso, foi só conhecer “aquilo” que os cabelos pretos do vampiro bem colocados para trás, começaram a lhe tomar a vista, saindo do belo penteado, e ele tinha certeza que alguns fios estavam saltando como antenas por causa do gel. Sua leve maquiagem para deixar a pele sem marcas, pintas ou cravos, derretia um pouco com o suor. A falha na sobrancelha apareceu para completar sua desgraça.

Isaac podia ser um lindo vampiro sem nenhum enfeite, mas tinha seus pontos que não gostava. Quando um deles ficava em evidencia achava seus dentes tortos demais e sua presa direita maior que a esquerda (um detalhe que só ele notava). Incomodava-se com a pinta debaixo do olho esquerdo, as orelhas pequenas demais, poucos músculos e as feições masculinas demais para a graça e imponência em seu andar. No fim, nosso vampiro só tinha baixa auto-estima, ele era lindo de morrer, mas carregar “um maltrapilho” não ajudava seu reflexo no espelho do elevador.

Prontamente, na frente do apartamento, o doutor Albert o esperava com uma bolsa gigante, já de avental. Era um homem gordinho, baixinho, um humano famoso por sua gentileza com os pacientes, um amor de pessoa! Mesmo assim, Oliver se agitou assustado com o profissional, já que em suas poucas vezes em consultas na infância, os médicos o trataram rudemente e lhe infringiram dor de propósito.

Isaac indicou onde estava a chave para o médico, que abriu a porta sabendo da gravidade da situação. Já o vampiro, só estava com pressa por que queria se livrar do “monstrinho” que se debatia em seu colo. Por outro lado, Oliver já via as coisas dobradas, não raciocinava mais o que os homens falavam, talvez pudesse ver a Morte ao seu lado enquanto eles o levavam para o quarto de hospede.

Recentemente o vampiro tinha recebido um amigo humano (que logo seria transformado pela amante vampira) de um lugar distante, que tinha ido embora a dois dias, então o quarto não estava muito sujo. De qualquer forma o garoto estava tão mal que isso nem poderia incomodar. Apenas deitou “aquilo” (muito leve para a idade, que ele achava ser 11 ou 12) e se afastou, querendo logo se livrar do cheiro.

O médico rapidamente começou seu trabalho, mas não sem antes tranquilizar a criança que tremia e o olhava com medo. Fez brincadeiras sobre coelhos, contou uma história curta, tudo para deixar o paciente mais calmo. Quando o doutor obteve o resultado que queria, ficou perdido sobre como começar. Aquele era um dos piores casos que já pegou em sua vida. Mas já tinha mais de 40 anos de prática, sabia manter a calma para deixar a criança bem. Perguntou ao paciente o que sentia.

Ao perceber que ele não conseguia falar e sentia dor ao tentar, achou um ponto para começar. Abriu a mala e tirou uma lanterninha. Antes de apontá-la para a boca da criança, o doutro brincou, deixando o clima menos tenso. Depois que viu a garganta dele em vermelho vivo com pus nas amídalas e um inchaço perceptível, com certeza ele precisaria de muitos antibióticos para cuidar da infecção de garganta.

Olhou então para o machucado na testa, o corte. Apenas por ele já mandou Isaac chamar uma ambulância, mas percebeu que a coisa era mais grave quando colocou o termômetro na axila do paciente para vê-lo subir até os 42 graus. Se esperassem socorro, levando em conta o conjunto completo, a criança não sobreviveria, então pediu que o vampiro ligasse o chuveiro na água morna.

Oliver viu sua blusa encardida e rasgada ser retirada de seu corpo junto com uns jeans velhos, sujos e puídos, mas não se importou da sua nudez diante dos dois desconhecidos, a água fria caindo na sua cabeça era o pior. Desejou tanto um banho, mas sua febre não o deixava sentir o conforto, nem seus machucados ardendo. Se ainda tivesse garganta estaria berrando.

O doutor avaliou o corpo do menino (agora ele sabia o gênero), sentado no chão do box, debaixo da água. Seus pés estavam muito machucados principalmente no calcanhar, talvez fossem feridas em cima de feridas. Seus joelhos estavam levemente ralados, mas a perna inteira tinha hematomas em diferentes lugares. Na barriga, havia outro pequeno corte infeccionado, tão feio quando o da testa. Já o rosto, bem, talvez o olho direito tivesse sido comprometido por causa do soco (ele brigou com Isaac por isso). E de resto, os ossos das costelas e da bacia saltados na pele eram o suficiente para entender que ele estava anêmico, desnutrido e com um pé na cova.

Tremendo, Oliver encarou os estranhos que por sua vez o encararam. Aproveitou o segundo seguinte para tentar se lavar um pouco, queria morrer pelo menos um pouco apresentável. Mesmo com dor e frio, o rapaz passou suas mãos limpando um pouco da sujeira acumulada. Os dois homens entenderam isso e se dispuseram a oferecer ajuda.

Sinceramente Isaac não acreditava que um humano tão frágil sobrevivesse, mas, mesmo assim, daria umas esponjas para limpá-lo e sujaria suas mãos em ajuda. Talvez se fizesse isso, quando o menino partisse para o além, não lhe culpasse pelo olho estragado ou sua situação miserável. Cuidou dos pés machucados dele, tão delicadamente e com calma, fazendo o máximo para que não sentisse mais dor. E felizmente conseguiu.

- Sinceramente é perigoso fazer isso. – Alertou o médico. – A sujeira pode infeccionar mais as feridas, mas se deixarmos com febre ele pode ter hipertermia e morrer.

No fim, eles aproveitaram para lavar os machucados de Oliver, que chorou muito pela dor que eles lhe causavam, mas aguentou como a pessoa corajosa que achava que não era mais. No fim, consegui levantar com apoio e ser secado em pé. Foi levado pelo quarto carregado e se sentia melhor. Mas seu cabelo ainda fedia, talvez mais do que antes. A água não lavou, apenas piorou a situação e não foi usado xampu com medo de cair no corte lhe causando mais desconforto.

Isaac vendo que até o menino (agora sim ele parecia humano aos olhos do vampiro) se incomodava com o cabelo deu a idéia de raspar a cabeça, sendo que seu aparador de barba servia para ambos. Concordando, começaram o trabalho e antes da ambulância chegar, ele já estava careca e bem mais apresentável. O vampiro achou nojento ver alguns piolhos, mas se lembrou que sugava humanos como um. No entanto, seu sangue imortal era tóxico para esses parasitas, por isso não hesitou em morder o pulso e jogar algumas gotas na cabeça do rapaz. Assim a infestação acabou e a cabeça do menino foi limpa.


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Oliver estava à 2h tomando remédio na veia. Para que servia ele não tinha ideia, mas sua temperatura havia abaixado consideravelmente, embora ainda estivesse febril. Seus machucados foram tratados e agora não doíam como antes, mas ainda eram desconfortáveis debaixo das gazes. Vestia uma camisola hospitalar branca e limpa. O rapaz até mesmo conseguia falar, mesmo que sua garganta doesse ainda era aceitável.

Isaac pagaria todos os cuidados do humano e o ajudaria quando fosse liberado do hospital. Inicialmente não achava que o tratamento fosse muito complicado e o jogaria na rua assim que ele dormisse, mas agora o vampiro se remoía em culpa por tê-lo deixado cego do olho direito, coisa que não parecia incomodar muito o próprio garoto. Talvez a única coisa que o olhar vago do humano captou durante todo o tempo que o observou foi o cheiro da sopa de legumes que a enfermeira trouxe.

Nosso pequeno Oliver chorou quando seu estomago cheio de lixo foi agraciado com comida fresca, quente e gostosa. Talvez ele mudasse seus conceitos sobre hospitais, sinceramente, se não fosse pelo vampiro ao seu lado, acharia que estava morto e foi recebido no céu. Comeu como um desesperado, causando notável nojo no morto-vivo. Quando terminou olhou-o e sentiu obrigação de dizer alguma coisa educada.

- Obrigado, vampiro. – Agradeceu, fazendo esse lhe olhar.

- Você sabe falar? – Contestou o outro surpreso.

Oliver sentiu vontade de ser irônico, rir da cara do homem. O rapaz podia ser humilde, mas não mal-educado.

- Sim, apenas não conseguia pela doença, mas acho que a sopa me ajudou um pouco... – Ele faz uma pequena pausa sentindo a garganta coçar. – Muito obrigado, por ter me ajudado... sinceramente achei que me mataria...

- Inicialmente essa era minha intenção, mas mudei de ideia. – O vampiro não falaria sobre seu medo do fantasma por achar que isso seria indelicado e egoísta. – Qual é seu nome, menino?

- Oliver, e o seu?

- Isaac... – Disse o vampiro se aproximando. – Quantos anos você tem? Onde estão seus pais? Como foi parar nessa situação? – Sim, o humano o deixou um pouquinho curioso.

- Eu nasci por uma irresponsabilidade, meu pai era um drogado, minha mãe uma prostituta, eles transaram sem camisinha e apesar de tudo ficaram juntos até pouco depois do meu nascimento. Mas meu pai morreu de overdose, minha mãe tinha que voltar a trabalhar, então eu fui deixado no orfanato... – Oliver suspira fundo quanto a incompetência de seus progenitores.

- Se não quiser falar, eu entendo... – Apoiou o vampiro.

- Isso não é um tema que me trás dor... na verdade não sinto nada sobre isso. – Comentou o rapaz friamente, fazendo o outro engolir em seco. – Eu tive uma grande amiga, quase uma irmã que era alguns anos mais velha, ela seguiu o mesmo caminho da minha mãe e disse que eu só seria um incomodo para ela... logo depois o orfanato foi fechado e eu fugi, vivo a 8 anos na rua.

- 8 anos?! Quantos anos você tem?!

- 16... – Oliver teria matado Isaac do coração se o vampiro fosse vivo.

- 16 anos?! Você nem tem cara de 11 anos!

- Pense passar a infância comendo lixo, dormindo mal, vivendo nas piores condições de saúde... é possível que meu corpo cresça assim?

- Sinto muito...

A sinceridade das palavras de Isaac comovia o pequeno Oliver, mas ele não sentia nada por sua própria situação. Aprendeu em sua vida que emoções não são boas, pois elas afastavam seus olhos da verdade, elas o deixavam cego para as reais intenções das pessoas. Oliver não era burro, sabia que se não fosse o centro lotado e o prédio importante na frente deles, o vampiro o teria matado sem dó nem piedade. Depois que se recuperasse achava que o homem rico ou lhe jogaria na rua de novo (o que não é tão ruim assim) ou lhe drenaria o sangue. No fim, ninguém acolhe uma pessoa sem segundas intenções egoístas.

Logo depois Oliver dormiu e só acordou no meio da tarde do dia seguinte com uma enfermeira trocando a bolsa vazia por uma com soro. Então ele foi levado para fazer suas necessidades para coleta e por mais simples que tenha sido, o fato de fazer isso em um lugar adequado para tal deixou nosso protagonista muito feliz. Depois o ajudaram a tomar banho com sabonete, esponja e tudo que tem direito. Colocaram nele um pijama, simples de moletom, calça, blusa de manga comprida, cheirando amaciante, até mesmo teve direito a roupas intimas novas!

Então tomou um café da manhã leve enquanto assistia desenho animado e quando acabou escovou os dentes, a única coisa que ainda prestava em seu corpo. Oliver estava no paraíso. Pouco depois, quando o soro acabou, foi levado para tratar da documentação.

Nem mesmo tinha sido dado como desaparecido pelas assistentes sociais, nem se quer sentiram sua falta na contagem. Mas isso não lhe importava. O registro dele foi aberto e modificado, além de ser encaminhado para um orfanato quando saísse do hospital. Teria que fugir antes disso

Em seguida, foi fazer visitar o médico que além de dar o resultado dos exames, mediria sua altura e o pesaria. 1,51e 40kg, abaixo do peso e da altura ideal. No exame de sangue faltavam tantos nutrientes que todos ficaram abismados. Além do que, o jovem de 16 anos, não tinha quase nada de hormônio masculino e teria que fazer uma reposição se algum dia quisesse ter filhos. Voltou para a cama para o soro e só sairia dali a dois dias, quando estivesse estável.


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Durante essas duas noites Isaac foi visita-lo logo assim que saia de seu caixão. Sempre levava algumas frutas autorizadas pelos médicos, que descascava e dava para o humano. Ficou feliz em ver o rosto de Oliver ganhar mais cor e o inchaço de seu soco diminuir. Os machucados estavam sarando e demorariam um tempo para cicatrizarem, mas pelo menos ele não estava na lista da Dona Morte por causa deles. A garganta também tinha sarado com os antibióticos. Ele ficaria bem.

Mas Oliver precisaria de uma dieta rígida para repor os nutrientes perdidos, cuidados com as reposições hormonais, com os machucados, além de um acompanhamento detalhado. E Isaac sabia que o orfanato não daria tamanha atenção à saúde do humano.

O vampiro, ainda se remoendo em culpa, decidiu adotá-lo. Uma decisão precipitada, mas que conseguiria facilmente corrompendo alguns juízes e assistentes sociais. Tudo naquele mundo era movido pelo dinheiro. Se você tinha, podia fazer o que quiser com quem quiser, se não, virava lixo e capacho. No fim, Isaac comprou Oliver como alguém compra um cachorrinho no pet shop. Mas não tinha intenções de lhe dar carinho ou coisas do tipo, deixaria bem clara que a relação deles eram de desconhecidos e pretendia permanecer assim.

Bem, eles não sabiam, mas quando se é inconsequente, sempre há uma abertura para que todos os planos seguintes fujam de seu controle.


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Para Oliver a adaptação à casa de Isaac não foi complicada. Durante toda sua vida de limitações sempre quis morar em um apartamento de luxo, ter o que quiser a qualquer hora, ser rico. Apesar de falar assim, o rapaz não pediu muita coisa, morava numa cobertura, tinha uma cama, uma televisão e uma piscina para se divertir, roupas novas e limpas e uma empregada. Oliver havia usado a pena de Isaac a seu beneficio e estava se dando bem em viver no conforto.

Poucos meses passaram voando. Oliver já tinha as feridas cicatrizadas, comia e bebia de tudo. Já tinha começado a estudar com um professor particular e era mais inteligente que muita pessoa formada por ai. Se recuperava muito bem com ajuda do vampiro.

Esse foi tempo suficiente para que o rapaz se abrisse com Isaac. O homem era ocupado, trabalhava a noite inteira e quando voltava para casa ainda tinha que fazer algumas coisas no computador, afinal, liderar a rede de funerárias mais famosa do mundo não era uma brincadeira.

Embora tempo não lhe sobrasse aos montes, o vampiro falava muito com Oliver, sobre tudo. O café da manhã era animado com o mais novo, as horas de lazer não podiam ser substituídas por nenhum outro programa que não fosse estar com o rapaz.

Isaac havia se apegado ao garoto. Antes sentia-se sozinho, já que não tinhas muitos amigos e sua família morreu depois que foi transformado. O pequeno Oliver o fazia companhia e o intrigava apenas por ser um humano. O outro não parecia notar a costumeira solidão do homem rico, já que iluminava os dias do outro com sua personalidade animada sem perceber, nunca negando uma conversa ou um jogo de baralho.

Certo dia, depois de dois meses de convivência, o rapaz, se sentindo muito grato pelo apoio do vampiro, perguntou-lhe o que queria em troca de tudo o que estava lhe fazendo. O humano até deu ideia que o homem lhe tomasse o sangue, mas foi recusado pelo seu estado de saúde ainda debilitado. Isaac abriu seu coração, contando de sua solidão e pedindo a companhia, recebendo total compreensão de Oliver, que também confiou suas inseguranças ao mais velho. Nesse momento, algo começava acrescer entre eles.

Um ano depois Oliver era outra pessoa. Um rapaz de 17 anos, 1,67 de altura, já com alguns poucos músculos aparentes, rosto de homem, cabelo castanho que lhe batia no pescoço. Mas não foi só o físico que mudou. Ele se tornou uma pessoa confiante, que não se contentava com o pouco e buscava sua mudança e redenção. Nosso protagonista tinha aprendido tanto! Já tinha até um humilde trabalho numa lanchonete 24h!

Ele nunca teria conseguido tudo isso sem Isaac, que lhe apoiou em todas as suas tentativas, se entregando à todos os projetos do humano. O homem não se lembrava mais como era viver sem Oliver que era como luz na sua vida. Se arrependeu tanto de ter querido matar o rapaz, se condenava por tê-lo deixado cego de um olho, chegando a derramar suas lágrimas de sangue quanto pensava nisso.

Mas, o que realmente deixava o vampiro assustado, era a velocidade com que Oliver tinha se tronado um homem. Isso o fazia pensar que os humanos não tinham a eternidade como ele, assim o garotinho que acolheu (forçadamente) das ruas um dia iria sair de sua casa e procurar viver a própria. Oliver casaria, teria filhos, envelheceria e morreria, enquanto Isaac continuaria no seu apartamento de luxo, comandado suas empresas cada vez mais ricas, com os mesmos cabelos pretos, com os mesmos olhos vermelhos, com a mesma aparência, embora já tivesse passado dos 100 anos.

Pedia que Oliver não fosse tão frágil e, egoistamente, queria que ele nunca o deixasse, que não se casasse, que não seguisse o curso instintivo da vida. Isaac sempre observava o humano, sempre queria ter certeza que ele estava bem. E embora já tivesse certa convivência com o rapaz, nunca deixava de se sentir fascinado com cada detalhezinho de Oliver.

Então nosso vampiro começou a reparar em coisas perigosas.

Inicialmente, passou a olhar o humano como um homem e não como a criança que antes via. O corpo de Oliver fascinou Isaac, então os desejos sexuais sobre o rapaz começaram a aparecer. A coisa ficou pior quando o verão chegou e com as elevadas temperaturas o jovem andava pelo apartamento apenas de cueca, o que era uma verdadeira tentação para o outro.

Mas foi quando Oliver decidiu aprender a cozinhar que as coisas saíram do controle do vampiro. Nosso protagonista não tinha nenhuma habilidade com materiais de cozinha, embora os pratos até saíssem gostosos. Ele se cortava o tempo todo com as facas, acabava se queimando e outras coisas que acarretaram em Isaac sentindo o cheiro vital do rapaz.

Foi inevitável que o vampiro passasse a prestar atenção na pulsação do coração alheio, na respiração, chegou até a ser tão baixo a ponto de escutar o sangue do outro percorrendo as veias. Então seus olhos começaram a cair sobre o pescoço branquinho de Oliver. Sonhou em beber do outro enquanto transavam, delirou em seu caixão pensando nisso.

Então o vampiro, observador como era, passou a anotar os pontos que mais gostava e que menos gostava da personalidade do humano. Escreveu também as atitudes, as brincadeiras, os gostos, tudo sobre Oliver. O homem virou um verdadeiro stalker. Não demorou muito para perceber que esse era um jeito de canalizar sua paixão pelo humano. Isaac tinha se apaixonado pela primeira vez em 100 anos.

O verão tinha chegado novamente e isso colocava Oliver em grande perigo. O jovem sabia muito bem disso. Às vezes fazia para provocar mesmo, já havia passado do seu tempo de ter vergonha de alguma coisa, não havia mais inocência em sua mente com o fácil acesso a internet. Nosso protagonista não era nenhum anjinho, para deixar claro.

Há muito tempo ele havia notado os olhos do mais velho sobre si, então começou a fazer o possível para ser atacado. Desfilar pela casa apenas de cueca, fingir que a faca escapou e cortar o dedo (sim, ele fazia isso de proposito), tirar um cochilo e deixar o pescoço a mostra... tantas tentativas!

Oliver se culpava por ter feito a única coisa que repudiou em toda sua vida: ele se apaixonou por Isaac. Adorava imaginar tanto as cenas fofas de encontros no centro comercial, momentos à dois assistindo filme, quanto cenas de sexo pesado. Queria ser mordido, como ele queria! O jovem tinha uma fascinação pelas presas do homem.

No entanto, já o conhecia a mais ou menos um ano e dois meses, era apaixonado pelo vampiro há uns cinco. Oliver sabia que Isaac mantinha pelo menos um pouco de interesse em si, se não, não ficaria o observando tanto. Então o que estavam esperando? O humano sabia que não tinha tanto tempo quanto o outro, mas gostaria muito de passar a eternidade ao lado do amado. Oliver se convenceu que naquele dia ele acabaria na cama com o homem.

Tomou um banho sem sabonete, para não mascarar seu cheiro natural. Fez a higiene necessária para a noite (provavelmente madrugada) de sexo. Vestiu uma cueca boxer vermelha, para ressaltar sua pele branca. Penteou os cabelos e não passou creme, deixando-os tomar sua forma natural meio cacheado. Ajeitou o tapa-olho, respirou fundo e foi para a cozinha, já sabendo que o vampiro tinha acordado.

Eram mais ou menos 18h30 e o humano iria tomar seu café. Normalmente os dois sairiam do apartamento às 20h para trabalhar e só voltariam às 6h da manhã, onde selariam as janelas. O vampiro iria para o caixão às 10h30 e Oliver para a cama às 11h depois de tomar um banho de sol. Mas hoje não era um dia comum, ambos estavam de folga. Embora o rapaz tinha certeza que Isaac teria trabalho no computador, faria seu melhor para conseguir uma foda.

Chegou na cozinha e viu Isaac preparando o sangue. Sabia que ele preferia O+ e sorria para si mesmo em saber que esse era seu tipo sanguíneo. Desejou boa noite para o homem, que já lhe olhou com secreta luxuria. Oliver pegou o leite no final da geladeira, empinando a bunda o máximo que podia. Em seguida, começou a preparar seu pão conversando com o outro, como se não estivesse tentando seduzi-lo apoiado na bancada. O humano passou a mão no pescoço como se estivesse sem jeito, mas apenas queria convidar o vampiro a dar um gole, mas esse se afastou indo sentar-se à mesa.

Oliver o seguiu, ficando logo de frente. Voltou a brincar com os sentidos de Isaac quando passou a roçar sua coxa uma na outra. Sabia que o outro conseguia ouvir e que gostava disso. Só de simplesmente beber o café, engolir, o vampiro já ficava concentrado em si. Agora olhava para seus lábios. Ah! Oliver tinha conseguido prender a atenção de Isaac num ponto muito bom.

Continuou a falar com o vampiro, pronunciava com cuidado, movendo sua boca sutilmente. As palavras sobre as compras do mês não eram mais importantes para Isaac que, embora o escutasse atentamente, não entendia o que o rapaz dizia, estava completamente dentro do joguinho de sedução do humano. Quando Oliver passou a língua nos lábios superiores para limpar o café com leite, o morto-vivo se deu conta do quão deixou obvio a paixão, ele babou o sangue que tomava.

Oliver riu sutilmente da reação do mais velho, o olhou sedutor e novamente passou a mão no pescoço, colocando a cabeça levemente para o lado, com intenção de atiçar o lado predador. Isaac se levantou da mesa, indo para o quarto trocar sua camiseta manchada de sangue e se acalmar, mas achou melhor ficar apenas com a calça de tecido leve.

Quando chegou na sala, com o tronco nu, viu o humano o encarar fascinado e escutou o coração do mais novo disparar ao mesmo tempo que suas bochechas coraram. Achou Oliver idiota por isso. Vampiros podiam não envelhecer, mas seus cabelos, unhas e barriga cresciam. Isaac não possuía mais a forma de quando tinha sido recém-transformado, seu corpo não levava mais nenhum músculo e alguma saliência era possível de ser vista se ele virasse de lado.

Por alguns segundos, o rapaz ficou encarando o homem. O vampiro podia regular sua temperatura interna, então usar um casaco no verão mais quente ou uma bermuda no rigoroso inverno não mudaria nada. Assim, era raro pra o humano ver Isaac sem roupa, na verdade o outro nunca sequer mostrava as pernas. Isso despertava desejos profundos no menor de tirar a roupa do homem.

Nada disso aconteceu, pois Isaac recebeu uma chamada do trabalho e segundo depois foi conferir o computador, da onde o rapaz sabia que ele não sairia tão cedo. Conformado com isso, Oliver pegou o celular e começou a fazer as coisas que o divertiam. Conversou com seus amigos online, viu algumas novelas, leu algumas páginas de um livro e quando já era 4h da manhã parou tudo para checar o homem.

Isaac conferia as ações da empresa, falava com sócios por aplicativos de mensagem e dava instruções para o vice-presidente. Ele nem reparou quando o humano foi “almoçar”, nem quando escovou os dentes e quando o olhou ele já estava sentado ao seu lado de novo. O vampiro não deu muita importância, voltou a trabalhar.

Oliver soube que o outro não havia prestado atenção em si e isso o deixava irritado. Com os fones de ouvido e o olhar centrado na tela do notebook, Isaac não parecia o enxergar, nem notar sua presença. Repetindo: Oliver não era nenhum anjinho, então decidiu testar os reflexos do vampiro. Seria uma grande empreitada...

Oliver com certeza não tinha nada a perder com aquela empreitada. Ele estava a dias tentando atrair o vampiro, mas não obtinha sucesso algum! Apenas alguns momentos que os olhos de Isaac brilhavam por instinto. O humano não era bobo, saberia se justificar se fosse pego e dessa vez não corria o risco de ser morto. Talvez até conseguisse algo com seu amado...

Oliver com certeza não tinha nada a ganhar com aquela empreitada. Era arriscado, vergonhoso e com certeza o outro o acharia pervertido, isso se ele notasse! Podia ser que Isaac nem se desse ao trabalho de virar a cabeça para olhar para si. Entre ganhos e perdas, talvez um coração partido fizesse parte da lista.

Mas ele era um humano inconsequente...

Cada um estava numa ponta do sofá, Isaac conversando com um empreendedor e Oliver com o celular nas mãos. O mais jovem tirou o membro para fora da cueca quando achou o seu pornô preferido. Sim, ele iria se masturbar “do lado” de Isaac a fim de capturar a atenção (e o desejo) do outro.

Colocou o aparelho num suporte e o deixou sem som, pois sabia que o outro captaria os gemidos do vídeo mesmo se os dois usassem fones de ouvido, além do que ele só tinha interesse que ouvisse os seus. Oliver fechou as pernas de uma maneira que conseguisse se tocar sem deixar muito claro, mas se o outro não lhe desse muita atenção, deixaria as pernas muito abertas para que fosse visto. Tremendo pela sua audácia o humano começou a brincar.

Assistiu um pouco até começar a sentir tesão, imaginou-se na situação do vídeo com o homem a dois metros de distância. Pegou o membro que começava a acordar, passando a fazer movimentos devagar por toda a extensão, sem pegar exatamente seus pontos sensíveis. Massageou levemente a glande, mas sem buscar a satisfação rápida. Olhou para Isaac e ele continuava alheio a sua brincadeira.

Meio irritado e meio aliviado com isso, aproveitou para aumentar a velocidade, além de passar a mão livre pelo troco desnudo. Não soube o momento que parou de prestar atenção no vídeo e começou apenas a imaginar o vampiro, brincando com ele de tal forma. Massageou diretamente a cabeça do membro, então seus primeiros gemidos começaram a sair naturalmente.

Ele achou melhor fechar os olhos para se concentrar nas suas caricias, para não ficar ansioso pela atenção do mais velho. Tocou levemente as bolas e estimulou o períneo, enquanto seus movimentos estavam na velocidade agradável, com seus sons enchendo os próprios ouvidos. Completamente ereto e já com pré-gozo pingando sabia que tinha entrado no ponto sem volta.

Deitou-se mais, ainda com as pernas fechadas, para circular a própria entrada, trazendo um arrepio bom. Cogitou colocar um dedo, mas como não tinha nada para a lubrificação, se não a própria saliva (que não adiantava tanto), decidiu deixar isso para lá. Começou a massagear os mamilos, obtendo pouco de prazer com isso. Estava perto de gozar, mas parou tudo, apenas para brincar consigo mesmo.

Quando a sensação de pico abaixou consideravelmente, Oliver voltou os movimentos de vai-e-vem, dando atenção especial a sua glande por alguns segundos antes de repetir. De fato, o garoto tentava prolongar a sensação para ser notado e esperar que o outro tomasse alguma atitude. De olhos fechados, o humano não sabia que estava sendo atentamente observado pelo homem.

Isaac tinha acabado a transmissão e decidiu tomar um pouco de sangue, quando começou a escutar gemidos. O vampiro travou no lugar, mas quando teve coragem para olhar Oliver, sentiu seu corpo gritar por participar daquilo que era claramente para provoca-lo.

Oliver estava com o rosto vermelho, com a respiração entrecortada se misturando aos gemidos e ao som que sua masturbação produzia. O coração batia forte, bombeando sangue para seu membro rígido que chegou perto do orgasmo, mas foi cortado pela falta de movimento. Então o rapaz recomeçou os toques e jogou a cabeça para o lado, ainda com olhos fechados, gemendo baixinho. “Ele só pode estar querendo ser atacado”, pensou o vampiro.

- Olie, o que diabos você está fazendo? – Perguntou, tomando toda sanidade que podia, afinal, estava a um bom tempo com fome de sexo e de sangue fresco.

O humano abriu os olhos, mas não respondeu, vendo o vampiro lhe fitar fixamente com frieza. Oliver rezou para que fosse autocontrole e que o outro não o odiasse por isso. Esqueceu o que deveria responder, afinal estava na cara que ele estava batendo uma para Isaac. O garoto sustentou olhar, com a força de vontade que tinha ganho nesse ano. Abriu mais as pernas para ser visto. Logo foi gemendo mais livremente, se contorcendo como queria, na sua velocidade máxima, passando a mão sedutor pelo corpo.

O homem podia manter seu olhar e não se mover, mas sua intimidade não negava como a cena lhe dava tesão, já demonstrando um volume que o outro não reparou. Sem sua resposta, Isaac avaliou o que era o melhor a fazer diante daquilo. Por mais que quisesse Oliver, por mais que pensasse num futuro ao lado dele como amantes, tinha tanto medo de machucá-lo que cogitou deixa-lo ali e ir para o caixão respirar fundo. Mas a voz do amado não olhe deixou seguir o plano:

- I-Isaac... por favor... me beije! – Pediu ofegante.

O mais velho jogou tudo para o alto e cortou a distancia até o rapaz, tomando seus lábios virgens como um doce pecado. Novamente gostaria de lembrar que era o primeiro beijo de Oliver, e, diferente dos filmes, ele não saiu dominando a boca do parceiro. O humano tinha dedicado um bom tempo pesquisando sobre como ter o melhor beijo, quais truques enlouqueceriam o homem, mas no fim não usou nenhum de tão perdido.

Vagamente se lembrou de fechar os olhos, o que deu a ele uma sensação mais ampla da coisa. Os lábios de Isaac, diferentes dos seus, eram frios, como seu corpo sem pulsação, quando o vampiro o puxou para o colo. A boca do outro se mexia sobre a sua com movimentos lentos e gostosos. Oliver apreciou desajeitado, mas com calma, saboreando o momento de contato, começou a pegar o jeito.

Quando o homem pediu língua, o humano ficou tão tenso que poderia ter apertado forte demais os braços do outro. Abriu um pouco mais sua boca, seriamente com medo do que se seguiria, afinal, estava se tratando de um vampiro cujas presas não eram retrateis. Além do que o outro não tinha uma língua tão quente, levando em conta a falta de “comida”.

Essa falta não durou muito. Isaac adentrou sua língua na boca do outro e com sua não tão extensa experiência, começou a deslizar junto com a do rapaz, explorando tranquilamente a boca alheia. Tinha carinho ao segurar o corpo nu do outro de frente para o seu, passando os braços pela cintura do rapaz com gentileza, tomando todo o tempo para saborear o contato. Mas quando Oliver se sentiu confiante e decidiu aprofundar do jeito que tinha visto na novela, acabou batendo o seu dente no do outro e sua língua triscou na presa do vampiro, jorrando uma pequena quantidade de sangue.

O instinto de Isaac, diante das gotinhas de O+, fizeram com que jogasse o humano no sofá, posicionando sua pélvis entre as pernas desse, logo tomando a língua do outro de uma maneira mais intensa. Chupou-a tentando obter mais sangue, mas conseguiu fazer Oliver gemer diante da estimulação em seu membro sensível e do contato em sua boca. O vampiro ainda mordeu e puxou o lábio inferior do outro, com cuidado para não rasgar a carne, mas o suficiente para liberar mais do liquido vital, que ele sugou como um animal, já que mexia sua ereção contra a do rapaz.

Oliver gozou no mesmo instante, então o cheiro do liquido trouxe o vampiro para realidade. Seus olhos diminuíram o vermelho e ele viu sua calça e um pouco da própria barriga manchados com o prazer do outro. Ofegante e meio fora de si, o humano só se deu conta do que tinha feito quando Isaac ficou o observando por muito tempo sem tocá-lo.

- Desculpa, Isaac! – Disse o garoto preocupado. – Eu sujei sua calça!

- Você bateu uma na minha frente, me provocou, me fez te beijar, tomar seu sangue e se preocupa com a droga da minha calça?! – Perguntou Isaac numa irritação frustrada. – Droga, Olie, eu estou assim por sua culpa!

Então o humano teve a oportunidade de olhar para o membro rijo do outro ainda escondido pela calça e pela cueca. Percebendo bem o volume e o contorno, nosso protagonista sabia que não conseguiria sentar na noite seguinte se continuassem com isso. Oliver tinha medo, mas seu desejo de ver o homem delirar era ainda maior. Engatinhou para perto dele intencionando um boquete.

- Não, Olie... – Disse Isaac segurando os ombros do rapaz. – Se formos seguir com isso... hoje a responsabilidade é minha. Você tem certeza?

- Eu te amo, Isaac... – Confessou sem timidez, a situação não lhe permitia isso. – Eu estou pronto para ser seu... em todos os sentidos...

O vampiro se levantou e estendeu a mão para Oliver que a segurou sem hesitar. O mais velho lhe conduziu para o quarto, onde a cama de casal estava bem feita e amaciada pelo uso diário do humano. Deitaram-se juntos e ficaram apenas se olhando durante um bom tempo. Isaac queria que o outro tomasse a iniciativa, para ter certeza que ele não se arrependeria depois. O rapaz assim fez, deslizando suas mãos tímidas pelo peito alheio.

O mais velho ficou por cima dele e carinhosamente beijou o rosto e os lábios do outro. Sua ereção não queria essa calma, mas ele sabia ser importante para o seu parceiro. Levou as mãos de Oliver ao cós de sua calça, enquanto acariciava com sua boca o pescoço e a região da clavícula do rapaz. O humano abaixou as peças que cobriam a ereção do vampiro, passando as mãos pela glande, limpando o pré-gozo já espalhado por lá. Isaac gemeu ao pé de seu ouvido, fazendo com que também soltasse um suspiro.

O homem fez trilhas de beijos pelo peito e barriga do menor, que lhe respondia com gemidos e uma masturbação mais intensa, que, por sua vez, fazia Isaac soltar algumas exclamações de prazer. Quando perdeu o contato da mão do outro em sua intimidade percebeu que tinha decido completamente pelo tronco desse e agora encarava o membro já completamente ereto e babado do seu parceiro.

A não ser que quisesse machucar Oliver de uma maneira que esse nunca mais pudesse utilizar seu “brinquedinho”, não faria um boquete, afinal, suas presas não eram retrateis como a dos vampiros literários. Então, pediu para que o rapaz deitasse de lado para poder prepara-lo para o sexo.

Com o corpo meio de lado, o humano começou a sentir a língua gelada do outro circulando sua entrada, o que o fez arquear as costas. Não satisfeito em fazê-lo enlouquecer com algumas chupadas rápidas e tentativas de adentrar a língua, Isaac começou a masturbar o outro que se revirava de prazer pelo contato com sua intimidade.

Aquilo era tão bom para Oliver! Embora não tivesse muita ação diante da posição, agarrar os lençóis e tentar conter os gemidos estavam sendo suas funções agora. Não tinha estado com mais ninguém em sua vida, então não tinha como comparar (e nem queria), mas o outro sabia o que fazia durante o beijo grego. Além de fazer o rapaz vibrar, estava o prevenindo da dor da penetração com sua saliva anestésica, que embora tivesse essa propriedade ainda era capaz de deixar o prazer, apenas prevenindo desconfortos.

Ao perceber que já era o suficiente e que Oliver já estava relaxado, pegou o lubrificante e camisinha na gaveta, aliviado pelo outro não ter percebido isso, já que só sabia da localização por já ter mexido nas coisas do humano. Despejou uma boa quantidade do liquido em seus dedos e na entrada do outro. Deitado sobre o rapaz começou a penetrar um dedo, enquanto distribuía beijos e caricias para acalmá-lo.

De fato, Oliver não sentiu dor com aquilo, tanto pela saliva, quando pelo cuidado que o parceiro estava tendo consigo. Ele manteve entrada relaxada diante do jeito doce que Isaac lhe tratou, fazendo com que o primeiro dedo entrasse relativamente fácil. Como o vampiro escutava seus órgãos internos funcionarem, encontrou a próstata sem muita dificuldade, massageando-a para que o outro esquecesse a compostura e gemesse alto.

O segundo dedo foi mais complicado e os movimentos de tesoura o incomodavam levemente, mas a massagem cada vez mais intensa no seu ponto, acabou fazendo sua musculatura se contrair a pedido de mais. Quando o último dos três adentrou com facilidade e sem grande dor, ambos sabiam que estavam preparados para o ato.

Isaac comandou o parceiro a se deitar de lado, para ficarem na posição conchinha, garantindo que a musculatura ficaria mais relaxada. Se postou logo atrás do mais jovem, mas não sem antes colocar a camisinha na frente dele, mais para ensinar o outro do que para si, afinal, Oliver está limpo e vampiros não pegam DST nem engravidam seus parceiros homens. Antes de começar, disse que amava o humano e beijou seu pescoço e costas.

O problema mesmo foi apenas o primeiro momento, onde a glande de Isaac abria espaço. Incomodou durante pouco tempo, o homem ia devagar, sempre se lembrando de acariciar com a boca o ponto sensível atrás da orelha de Oliver e masturba-lo com a mão livre. Quando entrou por completo, ficou esperando o rapaz lhe dar um sinal verde para começar a estocar, enquanto lhe dizia palavras doces e passava a mão pelo corpo alheio.

Os desconfortos iniciais sumiram, sobrando apenas o prazer único que o humano tanto quis sentir a partir do memento que se viu desejando Isaac. A mão dele sentindo seus batimentos, seu corpo quente contra o gelado dele, os lábios que lhe confortavam tanto, a sensação de estar completo e de como se encaixavam perfeitamente. Oliver deu autorização para que ele se movesse.

Inicialmente foi devagar, retrocedendo e empurrando diretamente no ponto de máximo de prazer do mais novo, coisa que pretendia seguir até que gozassem. Afinal, se ele tinha o dom de escutar o corpo do rapaz, então o usaria para fazê-lo delirar. Conforme Oliver ia sugando seu membro, mais ia fazendo-o sentir êxtase pelo aperto e pelos sons indecentes que saiam de suas bocas e dos movimentos.

Gradativamente conseguiu atingir uma boa velocidade que conseguia manter constante pelo seu dom sobrenatural. Se seus vizinhos fossem como ele, com certeza ouviriam o que se passava naquele quarto de tão alto que o prazer deles era. Isaac parou de acertar a próstata para ir o mais fundo que podia, fazendo o outro arfar. Não deixaria que a estimulação do rapaz fosse só no ânus, então passou a masturba-lo, beijar suas costas o quando podia e morder os ombros dele com os dentes da frente, para as presas não cortarem o clima.

O ápice chegou para Oliver primeiro, fazendo-se jorrar nas mãos do vampiro, enquanto tremia em seus braços. Já o outro demorou mais, penetrando-o para atingir o orgasmo, mas o fez dentro de seu amado. Ambos sentiam-se maravilhados, ainda demorando um tempo para se recuperar. Oliver estava suado e ofegante, enquanto o outro parecia não ter esse problema tirando e amarrando a camisinha.

- Da próxima vez, eu me alimento antes de fazermos... – Comentou o vampiro. - Parece injusto que você fique assim enquanto eu não demonstro nada...

- Então vamos ter outras vezes? – Perguntou o rapaz esperançoso. – Você gostou de mim? Vamos ser namorados?

- Sim para todas as suas questões! – Sorriu o outro, abraçando mais forte o garoto ainda de costas para si que retribuiu como pode.

- Quer beber agora? – Convidou o humano, mostrando o pescoço.

- Não acha que está sendo um tanto inconsequente?

- Não, eu pensei em tudo antes de investir nisso... sei o que estou fazendo Isaac, quero te alimentar.

Comida fresca é algo que Isaac nunca recusaria, ainda mais quando o seu amante lhe oferecia seu próprio sangue para fazer o organismo gelado do vampiro funcionar. O homem aproveitou a posição, apenas se levantando minimamente. Lambeu toda extensão do pescoço do humano, fazendo-o se arrepiar. Era apenas para que não sentisse tanta dor. Ele estava com fome, então acabou sendo rápido em avançar nas veias de Oliver.

Nosso protagonista sentiu um tremendo desconforto apesar das preparações, afinal, ainda era uma mordida animalesca. Mas deixar o pescoço tenso não adiantaria, então relaxou nos braços do namorado e deixou o seu sangue ser sugado com deleite pelo vampiro. Apenas quando o coração do morto-vivo começou a bater acelerado contra suas costas, soube que o banquete havia terminado.

Isaac fez questão de limpar toda e qualquer gotinha daquele sabor maravilhoso, além de anestesiar a pele ferida e buscar um curativo para seu namorado, que estava fraco por tudo que aconteceu. Após o cuidado, ambos ficaram agarrados de frente um para o outro conversando sobre seu futuro eterno juntos e trocando palavras de amor, que inicialmente não achavam que sairiam de seus lábios. Até que Oliver desmaiou e o outro foi cuidar de suas coisas, sentindo-se feliz como nunca.

No final, toda inconsequência dos nossos protagonistas teve uma consequência boa, comparada ao que podia acontecer: o amor, que surgiu tão contraditoriamente como uma flor crescendo numa pedra.

Talvez nem tão surpreendente, afinal, a partir do momento que Isaac abriu uma frestinha de seu coração para o humano entrar, deu forças para este enfrentar o seu passado e moldar seu futuro. Apenas um pequeno empurrão que atou seus futuros e os fez aprenderem o poder que tinham juntos. O destino é curioso, não?

28. Februar 2018 19:10 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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