Estava sendo uma noite de cão.
Desde que ele e Sam salvaram Castiel do jugo de Rowena, as coisas não estavam certas, como se algo fosse deslocado do costumeiro, mudando toda a configuração de tudo. Que diabo era...?
"Eu posso consertar você...", Dean repetia isso na sua cabeça, e essa frase de Castiel tomava conta de todo o ambiente. E a simples possibilidade do toque oferecido pelo anjo provocava-lhe o que ele não podia nomear. Aí ficavam ele e Sam com a cara estragada porque o irmão se recusava a ser consertado antes dele!
"Eu estou bem..." O rosto machucado era o que menos importava. Era até bom que a dor dos ferimentos apontasse para si mesma, porque era algo real e que existia no mundo. Todo o resto, não.
Levantou-se num pulo e ligou o som. Quer saber? Pouco importava que fossem três ou quatro da manhã! Mas terminou por desligá-lo antes de acabar a primeira estrofe do rock que tocava. Ah, deixa quieto. Tanto Castiel como Sam estavam se convalescendo das suas respectivas condições: Castiel daquela maldição dos infernos e Sam por Oregon, com os "gouhlpiros"... Também, os ruídos dentro da sua cabeça latejavam mais alto que qualquer canção que escolhesse.
Contudo, mal desligou o aparelho, escutou batidas na porta e a voz de Castiel logo em seguida, perguntando do lado de fora se ele estava bem.
Que pergunta maldita!
Quis não responder nada e fingir estar dormindo, porém Castiel jamais entenderia o recado e continuaria ali até de manhã. Resolveu abri-la:
— Está tudo bem, Cas. Eu não sabia que o som estava com um volume tão alto — ele disse olhando para trás, em direção ao aparelho. — Mas já desliguei, está tudo certo.
A verdade é que estava difícil encará-lo. Sabia que já estava estranho aquele clima, mas não podia evitar. Bastava mirá-lo para ver de novo e de novo e de novo a cena em que era socado até ser quase nocauteado, para depois ver Castiel sacar o punhal na intenção de matá-lo. E então Dean se via apelando pela própria vida, gritando o quanto precisava dele. E depois Castiel oferecendo a cura, levantando para tocá-lo... Não...
Sacudiu a cabeça e finalmente olhou-o, tirando forças do quinto dos infernos: o outro não entendia nada mesmo, permanecia parado à porta, esperando qualquer coisa, ao ponto de deixar a cena ridícula.
— É sério, Cas, eu estou bem!
Castiel respirou fundo. Dean só podia ser muito estúpido para não notar o quanto ele estava transtornado com suas próprias atitudes. Era insuportável vê-lo com o rosto deformado; cada ferimento lembrava sua carne de lastimá-lo...
— Não sei mais o que dizer, Dean...
— Mas não tem nada pra dizer, Castiel, vamos parar com isso. Você estava amaldiçoado e fez o que foi programado pra fazer. Eu estou aqui, vivo e bem. Pronto.
— Gostaria muito de fazer algo para remediar...
— Acho que se você esquecer que isso aconteceu, já ajuda muito. Também, convenhamos, não é a primeira vez que você me enche de porrada — Dean tentou brincar, mas acabou provocando um efeito contrário, visível na expressão contraída do amigo.
Que se dane!
A verdade é que já poderiam dar boa noite um para o outro e ir cada um para sua cama.
Mas, que son of a bitch!, Castiel continuava parado à porta! Isso era torturante, por que ele insistia em ficar ali, em perdurar aquela situação, meter o dedo nas feridas, em machucar mais aqueles sentimentos?
Experimentou ser direto:
— Bem, Cas, acho que já está...
Mas ele não terminaria a frase. Castiel levou as mãos ao seu rosto, prendendo-as em seus cabelos, e o trouxe para si, enquanto dizia do mais íntimo:
— Por favor, Dean, me deixa curar você...
Dean não fez nada além de receber aquele gesto, escondendo a cabeça no pescoço de Castiel. Sabia que aquela cura nada tinha a ver com sua condição física e não podia estar mais estarrecido por Castiel percebê-lo, mesmo através de todas paredes que ele erguera a fim de esconder...
E então, todas as conjecturas explodiram na sua cabeça naquele instante, tornando-o outra coisa. Pela primeira vez em sempre, sentiu-se diluído no momento, parte de alguma coisa muito maior que si mesmo, que a escuridão, que o destino, que o mundo, o sistema solar, a via-láctea e o infinito.
Tinha medo de se dar conta de que quando dissera a Castiel que o necessitava, era de forma muito mais complexa e muito menos entendível que ele podia aguentar. Tinha medo de entrar em um caminho sem volta, porque ter alguém na sua vida e ter o dever de protegê-lo sempre custava um preço muito alto. E perder Castiel não era uma opção, nunca.
No entanto, ali, ele não era um caçador, tampouco Dean Winchester, e por isso não teve medo de aceitar os lábios que lhe eram oferecidos.
Só assim o anjo foi capaz de sair de onde estava: ainda aos beijos, Dean puxou-o para dentro do quarto e fechou a porta detrás de ambos.
Vielen Dank für das Lesen!
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