Faz exatos 23 minutos que eu estou te observando enquanto você corre de um lado para o outro do quarto procurando sabe-se lá o que. E o jeito que você esbraveja e xinga o próprio ar, a forma como o seu cabelo balança enquanto você se move com pressa e até suas expressões irritadiças me causam uma sensação estranha – porém boa – de nostalgia.
Eu não lembro exatamente quando eu me apaixonei por você, mas eu lembro perfeitamente quando ultrapassei a barreira. Eu me lembro do limite que cruzei entre o meu corpo e o teu e talvez, pra minha mente maluca, esse seja o marco. O ponto zero.
Pele e lábios e saliva e cheiro e suor e dedos e unhas e batimentos cardíacos e cabelos grudados e pernas entrelaçadas e risos abafados e sussurros e juras de amor e mordidas e arranhões e suspiros e nós.
Como você adivinhou, eu realmente fiquei com medo de te transpassar, Taehyun, mas quando eu cruzei a linha percebi que não tinha o que temer. Talvez os sinais da tua pele sejam os pontos que marcam a fronteira que jamais existiu entre nós dois. Mesmo com todas as incertezas e vazios.
E a nossa diferença gritante não é algo que me assusta. Na verdade me parece muito mais como um complemento, uma coisa a mais em mim e em você. É como se nós fôssemos uma combinação culinária inusitada, mas que, surpreendentemente, deu certo. Absurdamente certo.
– Minho, você vai ficar só me olhando ou vai me ajudar?! – você diz num tom visivelmente irritado.
Seu rosto estava levemente vermelho e esbaforido, alguns fios do seu cabelo negro grudavam na sua testa brilhante e sua expressão facial não era das mais convidativas. As olheiras profundas das noites mal dormidas entregavam o quanto você estava se dedicando em terminar todas as suas obras a tempo para a exposição desse fim de semana. Essa sua mania de deixar as coisas pra última hora é sua bênção e sua maldição.
E agora, nesse exato instante em que você me encara inquisitivo, seu rosto não me parece tão esmagadoramente divino. Sua beleza tão elegante e delicada não me parece mais tão perfeita. Você me parece humano, Taehyun, e isso é indiscutivelmente lindo.
– Minho?!
– Você é lindo. – eu digo quase num sussurro. Foi muito mais uma auto constatação do que qualquer coisa. – Você é realmente lindo.
Por breves segundos, sua face que sempre ostenta um ar superior, quase arrogante, desmanchou-se por inteira. Eu vi toda a sua armadura cair no chão, Taehyun, e isso só te tornou mais belo ainda aos meus olhos. Você finalmente teve a guarda desmontada e eu pude vê-lo completo e repleto de falhas. Isso sim é divino, a divindade em ser cru.
Eu achei que jamais conseguiria te ver por inteiro, porque você tem essa coisa de estar sempre na defensiva e não deixar ninguém ultrapassar o seu limite. Mas você esqueceu que eu tenho a chave da tua pele, Taehyun. Você esqueceu que eu sei a senha dos teus olhos.
– Sabe... – você começou a frase passando os dedos magros e tatuados pelos fios colados na testa – Às vezes você me deixa perdido.
O seu olhar nervoso e, acima de tudo, curioso, demonstrava toda a sua confusão. Eu não sabia que te causava batalhas caóticas correndo pelas veias.
– Perdido em que sentido?
– Como se você fosse um quadro confuso e bagunçado que eu não sei interpretar.
– Eu devo me sentir preocupado com esse sentimento?
– Jamais.
E então você sorriu amavelmente e o seu corpo me sussurrava dizendo que queria que eu te bagunçasse.
deixa eu bagunçar você
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