whatapanda Políbio Manieri

De certa forma, ele acabara aprendendo a apreciar as noites de chuva...


Fan-Fiction Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#fns #Gaara-Lee #naruto #shinki #metal-lee #gaara #rock-lee #gaalee #leegaa #drama #familia
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Tempestade

Notas Iniciais:

Estava morrendo pra escrever algo daí era pra ser um angst, mas virou um fluffy e muita chuva e muito carinho.

Ah, também foi minha primeira tentativa com narrador em segunda pessoa, espero que tenha ficado razoavel :)

Boa leitura!

____________________________

Tormenta.

Uma barreira, um lugar a salvo, uma chance de fugir.

Você sonha com fogo e feridas que não se curam. Gritos no vazio de uma noite sem lua. Uivos de dor que te quebram, de novo e de novo, de uma culpa que é sua e de ninguém mais.

Você abre os olhos num lugar escuro. O que é estranho, pois tem a sensação de que eles continuam fechados. O cheiro ácido impregna suas narinas e há uma sensação estranha de que alguém te observa, fazendo o pouco do ar ficar cada vez mais rarefeito em seus pulmões.

Ali não há deserto, não há sequer areia. Só um pequeno cômodo, um caixão em forma de quatro paredes onde não há espaço suficiente. E, por mais que olhe, e por mais que procure, você está só.

Então, por que você não se sente seguro?

Você ouve clamor. Vozes abafadas que escapam pelo buraco da fechadura por trás do ruído fraco de algo que parecia raspar... Pedras ou unhas. E aí você se dá conta, e então lembra, como um estalo de uma memória perdida: esta não é a primeira vez.

Não é a primeira vez que a maçaneta queima sua mão ao tentar fugir. Uma bola de cinzas se forma em sua boca ao tentar gritar e não há nada que possa impedir seu corpo de queimar.

E você pensa, quem sabe, até fosse para ser assim.

Quem sabe, de fato, você já tivesse até queimado antes junto com tudo e com todos, porque o que sobrou intocado se sentia tão deformado e rompido que é como se nada tivesse restado.

Então, por que angústia cresce sufocando suas entranhas?

Um vidro quebra. Uma criança chora. E o brilho que havia pouco, se torna tão mais claro e ofuscante que você consegue sentir o vapor escaldar sua pele e evaporar suas lágrimas.

Não de novo. De novo não.

Você precisa sair dali. Precisa correr, precisa se esconder, mas o que sente ao tentar se mover é o sinal de que as solas de seus pés estão costuradas ao chão.

Então ali você fica. Se sentindo arder e se deixando despedaçar.

Você abre a boca pra falar. Para tentar emitir qualquer som que possa provar que está vivo ou que ainda é humano. O que sai são os resquícios de misericórdia que ninguém poderia chamar de respiração.

Quando você inspira, o osso da costela prensa seus órgãos internos e a única esperança que te resta é a de que alguém enfie a mão por sua garganta e salve, ao menos, seu coração.

Enrolado em seus próprios braços, não há para onde escapar, então você apenas afunda. Afunda até não haver mais parede para escorregar. Afunda até que não há mais abismo por onde cair e a crueza do piso ao fim da queda seja a única certeza a lhe salvar da morte certa.

E já não há som, mas o abafar das mãos contra seus ouvidos não te traz o menor conforto.

Não há fogo, embora o calor das labaredas seja real demais para que você se atreva a duvidar.

O gosto do cobre na ponta da tua língua e a certeza ficta de que nada mais te rodeia no mais profundo espaço de seus pensamentos mantém você ali. E te permite resistir. E te obriga a se entregar.

Em algum lugar um sussurro ecoa e você pouco acredita que ainda seja o murmurar de sua sanidade. Um arrepio te atinge pelo corpo. Paralisa e dói. Suas mãos tremem mas você sabe que não é de frio, e que aquele molhado a empapar seus dedos não é de água.

Você fecha os olhos sem notar que estavam abertos.

Você reza.

E amaldiçoa.

Um piche viscoso cobre seus tornozelos, sujando suas meias e afogando suas esperanças. Ainda que você tivesse certeza de que não passava de uma poça, segundos antes.

Gradativamente desaparece o chão por baixo de seus pés e você fica sem ter onde se sustentar. Você não consegue mais se soltar daquelas cordas e não há saída, então você se deixa afundar naquele inferno.

No mais profundo inferno, os demônios choram.

[...]

Uma batida na porta, um grito de socorro.

Mas, aquele grito não vem de fora e por isso você o deixa entrar.

E você respira.

Ainda que você saiba que seus olhos já te enganaram uma vez e que, afogado pela culpa e vergonha, você não consiga sequer raciocinar naquele mundo sem nome, você não tem dúvidas... está vivo.

Porque agora parece que todas as chamas que tanto te perseguiram se concentram em seus pulmões, inflamando forte com a quantidade grande de oxigênio que você deixa passar.

A dor não chega e a carne não queima. Não há fogo e os gritos do silêncio calaram. Naquelas trevas em meio ao vazio, tudo o que você consegue perceber é uma porta aberta e o barulho de chuva.

Uma forte e torrencial chuva.

E um nome.

É o seu nome.

Alguém te chama quase ao mesmo tempo em que o estrondo do trovão parte os céus ao meio e você levanta a cabeça, atordoado.

Você pisca e olha ao redor, mas o cheiro é fresco de flor e a sombra daquela silhueta agachada chama seu nome de uma maneira que você reconheceria em qualquer lugar.

Lee.

E quando você enxerga o rosto dele pela primeira vez, consegue sentir um tecido pesado encostando em sua testa. A madeira antiga rangendo com a mudança de seu peso sobre ela.

É o armário. O maldito armário.

Você senta ao chão, quase desaparecendo debaixo do monte de roupas limpas penduradas naquele breu interminável.

Sua cabeça dói e você a segura para tentar impedir que se parta ao meio. Antes que consiga se situar, o flash branco de um raio ilumina o quarto. No cintilar da luz você percebe a mão que ele estende em sua direção.

Você sente que seus tremores não foram embora e ainda tem medo de descobrir seus pés presos ao chão, mas aquela pequena esperança faz seus pensamentos calarem e seu braço se mover.

E todas as suas incertezas se desfazem diante da veracidade daquele toque que você toma. Tão firme, convicto e seguro de que não te deixará cair.

Você não diz nada quando o abraça. Ele também não pergunta.

Tudo se torna menos errado. Tudo se torna menos pesado.

Você está em casa.

– Não me assuste assim desse jeito.

Você franze o cenho para ele.

Lee está certo. Cada pesadelo te leva a um local diferente. Seu corpo age por conta própria e busca refúgio, e nem sempre nos lugares mais óbvios. Ou seguros.

Você apenas se aperta mais no tecido branco da camisa dele e respira.

– ... Desculpe.

Você consegue ver os olhos dele varrerem por cada detalhe de sua silhueta nas sombras, como se avaliasse, procurasse por qualquer dano.

Satisfeito ou aliviado, ele sorri.

– Não se desculpe. – e enleva suas mãos, seguras entre as dele, em direção aos lábios, enquanto fala – Estou contente que você não se machucou.

E pensasse também que não, mas é como se você pudesse ouvir cada junta de seu corpo rangendo em protesto. Suas costas rijas como quem passara muito tempo carregando uma cruz, ou simplesmente parado numa posição desconfortável.

Sua boca está seca e sua garganta arde. Você sequer percebe o quanto estava dormente até sentir o sangue voltar a circular pela extensão de seus dedos quando o ar quente os atinge.

Mais um raio, outro trovão.

Por baixo de suas pálpebras pesadas, você volta os olhos para o vidro cinza da janela. Hoje é uma noite fria. Escura. Por que não há luz?

Você o questiona, tentando soar o mais cuidadoso possível, porque isso não é uma reclamação. Ele não responde, em vez disso calmamente direciona suas palmas para as laterais do próprio pescoço e a sua pele arrepia em resposta ao repentino contraste de temperatura.

Você não sabe como nem porque, mas Lee é quente.

Sempre é tão quente como se por dentro fosse inteiramente banhado pelos raios de sol de uma tarde de primavera. E tinha de ser porque você sente cada grama de calor emanar pela ponta de seus dedos e subir em direção ao peito, devolvendo a cor às suas bochechas e aquecendo seu coração.

Quando ele fala, o tom de voz é cuidadoso e compreensivo, daqueles que sempre utiliza quando queria dizer que tudo ia ficar bem. E ele sente muito – e claro que sente muito. Estourou algum fusível ao fim da rua. Não há energia.

Não havia o menor indício de claridade nem mesmo do lado de fora. O quarto em si era um negrume, mesmo com as persianas suspensas. A única iluminação provinha do céu avermelhado e dos raios azulados que rasgam violentamente a paisagem, tão próximos ou tão distantes.

No parapeito apenas as sombras das gotas contra o vidro fechado, deixando o mundo turvo com a água, e o contorno dos móveis ao redor esparsos, tingido de preto.

Próximo à janela, a cama vazia com seus lençóis bagunçados havia perdido seu calor. As portas abertas denunciavam que ele esteve te procurando pela casa.

– E você me achou.

A frase soa íntima e baixa mas, por mais que o céu despencando sobre o telhado fosse o suficiente para abafar qualquer som ambiente, ainda assim você sabe que ele ouviu.

Porque não há escuridão no mundo que te impeça de ver o riso tão próximo, nem de varrer embora todas as incertezas quando ele se levanta e te puxa junto para se manterem de pé. A mão afastando algum cabelo de seus olhos, enquanto diz:

– Eu sempre vou achar você, Gaara.

Mais do que palavras, você sente, isso é uma promessa. Lee sempre cumpre suas promessas. E mais, havia algo sobre uma lanterna em alguma gaveta perdida da cozinha e, tudo bem. Você se sente confortável e senta na cama. Ele vai, você fica.

O barulho dos passos no assoalho se perdem pela distância. Com isso você solta o peso do corpo, desabando contra a superfície macia em suas costas.

Você estica as pernas e empurra os travesseiros, acumulando todos em um canto. Há tantos deles. Muitos. Mais até do que já seria considerado exagerado para duas pessoas. Isso porque Lee é atencioso, mas também é metódico e "Gai sensei diz que o conforto é muito importante para uma noite de sono plena e satisfatória".

Você escolhe um travesseiro particularmente macio para se abraçar enquanto deita, afunda o rosto e permite aquele cheiro preencher seus pulmões.

Lee havia lido num livro sobre óleos essenciais e flores. E você se lembra exatamente porque ele falou durante uma semana inteira sobre – o que o levou, eventualmente, a acabar todo o estoque de lavanda da Floricultura Yamanaka. Por isso há tantos ramos espalhados pelo quarto e a essência está borrifada em todos os lençóis.

Por mais que você insista não ter necessidade, você admite que algo nesse cheiro traz conforto. Talvez seja exatamente sobre isso que se trata, afinal... Você não sabe ao certo.

Você apenas reconhece como cheiro de casa e isso te faz bem.

E a vaga ideia do quanto Lee se esforça para fornecer tranquilidade às suas noites destrutivas traz uma sensação de cócegas na base de sua barriga que, com o tempo, você aprendeu a associar com felicidade.

Esses momentos são preciosos e tão raros que tudo o que você quer é relaxar e, ao menos uma vez, fechar os olhos e esquecer. Mesmo quando você os abrir e se deparar com nada mais que barulho de tempestade e ausência de luz, aquele perfume de flor e calor de primavera vão mostrar o caminho de casa.

Do lado de fora do quarto há um estalo. Um ruído tão pequeno que passaria imperceptível por baixo de toda aquela trovoada, se não fosse por suas habilidades sensoriais. Você reconheceria aquela assinatura de chakra em qualquer lugar, sob qualquer circunstância, mas é a pequena hesitação que você nota que te mantém parado em seu lugar, aguardando a manifestação.

Uma mãozinha se apoia no batente lateral da porta, e as sombras revelam um contorno pequeno demais para oferecer qualquer ameaça.

– ... Papai?

Shinki.

Acostumados com a pouca luz, seus olhos podem o ver por completo agora que você sentou na cama. Descalço no chão frio, a roupa parece grande demais para ele porque as mangas cobrem parte de suas mãos.

– O que houve?

A criança puxa a barra da própria camisa e baixa a cabeça, do modo como sempre se dispunha cada vez que estava prestes a revelar algo embaraçoso. Apesar da pouca idade, Shinki possui um gênio bem forte. Você sabe que ele se espelha em você, mas não tem muita certeza se isso é tão vantajoso no final das contas.

Você não quer que seu filho tenha medo de se expressar mas, por hora, apenas dá-lhe tempo para encontrar as palavras certas e nomear aquela tensão que você consegue notar pairando em seu redor.

– Não consigo dormir... – você se mantém quieto. Ele não terminou.

Um clarão de poucos segundos ilumina o quarto seguido de um tremendo barulho que indicava que havia caído perto demais, e você o vê tremer e se encolher mais por trás da porta. É então que você entende.

Em silêncio, você se limita a descobrir o espaço ao seu lado e bater com a mão, convidando-o à cama. Ele praticamente corre toda a distância entre vocês dois como se estivesse fugindo de algum monstro e se enfia embaixo das cobertas.

Outro raio cintila.

Você passa-lhe o braço por cima dos ombros, enquanto o observa.

– Eu odeio tempestades. – Ele resmunga abafado, o rosto contra o tecido de seu pijama.

E com aquela pequena figura amedrontada apertada contra si, as trevas já não parecem assim tão assustadoras.

Em Suna quase não há tempestades. Ao menos, não como essa. É natural que seu menino se sinta um pouco inseguro diante ao que não tem costume.

– Não precisa ter medo. Vê? – você o mostra a janela, onde as gotas se movem como cascata, arrastadas pelo vento – É apenas barulho e luz. Não vai te machucar.

– Eu não estou com medo. – Shinki dificilmente admite uma fraqueza, você sabe, por isso não questiona, não há necessidade – Mas é tanto barulho...

Embora fosse raro, você se lembra de uma noite de chuva há tantos anos atrás. Não foi a única mas foi a primeira, e você era tão pequeno para compreender e Kankuro muito turrão para admitir, mas foi uma tempestade tão violenta que vocês se infiltraram no quarto de Temari no meio da noite e quase foram atacados pelo susto que causaram.

Ela brigou, mas deixou que se deitassem junto a ela. Deixou até que você mantivesse o urso enquanto vocês três dormiam juntos numa cama pequena demais para tanta gente, mas segura, porque ela disse que não havia nada a temer e que pela manhã vocês teriam uma bela surpresa.

Na época não havia como você saber, mas quando chove no deserto as flores hibernando abaixo da superfície de repente florescem, ansiosas para aproveitar o pouco da chuva. E o que era amarelo queimado ontem, amanheceu tomado pelos mais diversos tons de rosa... e você passou a não temer mais as tempestades.

Claro que isso ocorreu num passado muito distante, bem antes de todos aqueles problemas. Mas era uma lembrança boa, uma das poucas de sua infância que você guardava com todo o carinho.

– No deserto, os anciões costumavam dizer que só chove quando um pecador implora pela absolvição aos céus... – você começa, e tem a atenção dele – Eu não acredito nisso. A chuva é tudo aquilo que prepara a terra para a mudança de estações. Algumas vezes é forte e agressiva, outras, é tão leve que é impossível de ver. Mas é apenas água. A natureza é sábia. – você sobe sua mão pelas pequenas costas até repousar sob a cabeça dele e lá se manter – As vezes, como a terra, as pessoas também precisam de chuva. Uma chuva pesada que os lave, reorganize e que conduza o caminho para o nascer das flores. Agora pode parecer que não tem saída e que não chega ao fim, mas vai ficar tudo bem pela manhã.

Shinki se mantém quieto no silêncio que o final da tua fala deixou. Copiando a você novamente, quem sabe, porque você se pega recorrendo aos fantasmas das próprias palavras no reforço necessário às suas próprias convicções.

Porque, ao reparar os dedos curtos soltarem um pouco o aperto em suas vestes, talvez você esteja começando a se convencer que há espaço para mais do que pesadelos em uma madrugada de chuva.

Lá fora no corredor a madeira entrega o peso de passadas desorganizadas demais para um ninja e, sob o olhar atento dos que estão ali, Lee entra no quarto. Traz nas mãos uma caneca e um certo embrulho, cuidadosamente pendurado em seu pescoço.

E você sorri.

– Oh. – ele para ao pé da cama assim que avista Shinki nos lençóis, fazendo graça – Parece que encontrei o fugitivo.

Quase que de imediato, o pequeno que se enterrava nos braços dele se vira, zangado, apontando o dedo para vocês e reclamando:

– Aah, você me abandonou!

A acusação é o suficiente para o outro te soltar, cruzar os braços e fazer uma cara impaciente. Parece que Shinki perdeu um pouco do seu temor, ainda que, aparentemente, tenha largado Metal Lee sozinho no quarto por conta disso.

– Ué. Você também tá aqui, não tá?

Passando por cima da briga dos dois, você remete sua atenção para a caneca estampada que Lee estende em sua direção.

– Acho que esta é uma noite de muitos medos. – ele diz. Com isso você acredita que Lee não encontrou a tal lanterna. Mas não sabe dizer se é tão necessário ainda, à essa altura do campeonato. De qualquer forma, ele não esteve disposto a retornar de mãos vazias – Está quente.

Conforme as instruções, você aceita. Segura o copo pelas bordas com as mãos e a abaixa no nível de seus olhos. Você sente o calor do vapor lhe aquecer a ponta do nariz e vislumbra o líquido branco que cheira à leite e mel.

Lee lembrou que você não gosta de açúcar para adoçar suas bebidas.

Você sorri e o agradece, triscando os lábios na beirada. Não é chá, mas está morto e te relaxa.

– Você também não consegue dormir, pai?

Shinki te pergunta. Mas Lee senta na cama, rápido em respondê-lo.

– Não por muito tempo! – ele fala alto, erguendo o punho em ênfase. São duas da manhã. – O papai aqui é um especialista em pegar no sono.

– É mesmo? – você está curioso mas, levando em consideração todos os detalhes meticulosamente planejados durante a madrugada, você pensa se ele talvez tivesse razão – O que você sugere?

– Huuum... – ele ergue suas grossas sobrancelhas enquanto coça a bochecha.

– Pode contar uma história?

Os olhos dos dois pequenos brilham sobre a sugestão de Shinki. Quanto a isso, você apenas suspira, decidindo que é um pouco tarde demais.

– Queremos que vocês durmam e não que fiquem ainda mais acordados.

Metal faz uma expressão devastada, franzindo um bico e cruzando os braços. Ele costuma ser tão expressivo quanto Lee.

– Mas, mas... Gai sensei diz que é importante gastar a energia da juventude para termos uma boa noite de sono – ele argumenta.

– Sim, juventude! – Shinki ergue os braços, completando.

Parecido até demais.

Você estreita os olhos e Lee levanta as mãos, rendido, numa expressão de quem não tem culpa. Estavam todos esperando pelo seu veredicto, embora você não pudesse ser menos enfático.

– Vocês não vão transformar o quarto em ringue de disputas. Não no escuro, às duas da manhã. Debaixo de chuva.

Diante seu tom não há espaço para discussões.

– E que tal uma música?

– Com que som, Shinki?! Estamos sem luz!

Eles discutiam entre si como se estivessem debatendo as opções que durante uma reunião de negócios. Mas, pelo menos parecem ter esquecido um pouco do céu que desaba sob suas cabeças e isso já traz alguma paz.

Um pouco alheio ao que decidiam, você bebeu mais um pouco. Ao abrir os olhos você encontra o olhar de Lee, sorrindo ternamente em sua direção, como se pudesse ler seus pensamentos. E você imagina que, se fosse para ser assim, gostaria de poder se acostumar à uma rotina como essa.

– Ei, eu posso cantar pra vocês!

Você engasga. Salvo por dois segundos de concentração que, felizmente, te impedem de soltar o leite pelo nariz.

– Você, papai?

Metal está radiante. Shinki, por outro lado, faz a maior cara contrariada que consegue, cortando-o antes que tivesse chance de responder e o fazendo murchar em seu entusiasmo.

– Não, Metal, ele não pode.

Lee cruza os braços e ergue uma sobrancelha, vestindo uma expressão indignada que não tinha como ser levada à sério.

– Vocês dois são muito difíceis.

– Você é feliz demais. – bom, o que Metal tem de Lee, Shinki tem de você. Mas Lee está visivelmente se divertindo.

Conseguindo conter suas tosses, você balança a cabeça concordando com seu filho e o deixando abertamente – mais – chocado. Mas, tão rápido quanto isso, ele se recupera.

– Bom, eu aposto que uma bela canção de ninar é tudo o que vocês precisam para dormir com os anjos.

Ele não pode estar falando sério. Mas está.

Você pisca por um segundo e o travesseiro que estava ao lado de Shinki agora estava amassado contra a cara de Lee.

– Não. – ele repetiu.

O silêncio que se seguiu poderia dizer muita coisa, mas a maneira como Lee levanta as mãos em formação de ataque e a expressão em seu rosto demonstra que talvez fosse uma boa ideia afastar sua caneca de perto dali.

Você só tem tempo de seguir sua intuição e depositar o copo numa mesa de cabeceira próxima antes que Lee cumprisse a ameaça e avançasse sobre as crianças.

A cama não é tão grande assim e metade do espaço está repleto de travesseiros. E nem mesmo o barulho de chuva caindo feito tiroteio sobre as calhas do telhado é o bastante para ofuscar a pequena gritaria perto de você.

– Ele me pegou, socorro, Shinki!

Armado com sua almofada, Shinki montou em cima das costas de Lee que se digladiou feito uma montaria e havia encurralado um Metal caído, aos gritos, sobre a cama.

– Por que você não enfrenta alguém do seu tamanho?

– Como você?

Buscando qualquer coisa que estivesse ao alcance de sua mão, Lee segura a ponta de outro travesseiro e arremessa, derrubando Shinki.

Faz meses que seu filho não se diverte tanto e Lee é ótimo com crianças, isso faz você feliz. Mas, em meio a tanto pulos, a cabeceira da cama range e os travesseiros começam a ser atirados à esmo na escuridão, esvoaçando as pétalas das lavandas espalhadas pelo quarto.

Um travesseiro voa, atingindo o vidro da janela.

– Ei. – Você tenta se manifestar em meio à confusão.

– Não, eu não! – Shinki grita.

Além das flores, agora há penas. Você separa os braços, tentando interferir.

– Ei, vocês.

Algo é lançado com bastante força em sua direção. Força o suficiente para lhe acertar em cheio na testa e ainda fazer sua cabeça recuar. O travesseiro cai, fazendo poof sobre o colchão. Quietamente você encara os três petrificados em sua última pose de guerra.

O tempo para, exceto pelas pequenas partículas roxas e brancas soltas pelo ar e presas nos cabelos.

Com a expressão mais séria do mundo, você lentamente agarra na fronha do travesseiro mais próximo. E arremessa.

– Aaah! Abortar missão! Abortar!

Metal lacrimeja e parece já ter desistido de tentar contra-atacar. Com sua entrada na guerra, você e Lee conseguem subjugar os pequenos. Shinki ainda se debate, em vão.

– Não é justo! Vocês são dois grandões!

Com isso, Lee subitamente para em seus movimentos e te encara com uma expressão que denuncia mais do que você gostaria. Não. Traidor!

Você tenta se esquivar e se defender mas está encurralado por todo aquele monte de gente fazendo estripulia por cima de si. Bate, bate, bate, até que a castigada costura da arma improvisada finalmente se rasga e a revoada de plumas explode pelo quarto exatamente quando uma trovoada violenta faz tremer o vidro da janela.

O cômodo inteiro vibra tão forte que todos param o que estão fazendo e se dão conta, enfim, da tempestade e da falta de luz.

No escuro ainda está difícil você respirar. Ainda há grito e ainda há choro, mas então as vozes são êxtase e as lágrimas de alegria. O fogo é de chuva e o vapor de vento. E você nota que ainda não consegue se mover muito, mas não se importaria em ficar assim para sempre.

Porque o que faz o ar rodopiar fora de seus pulmões agora não é medo.

A seriedade do momento vacila quando o silêncio é quebrado por um som. Um som que inicia baixo e contido, um tanto engasgado, mas logo fica nítido.

Você está rindo. Bem além disso, está gargalhando.

Uma risada estranha, leve, que contagia por um tempo. Onde ali, debaixo da corrente forte de água, nenhum raio consegue ressoar mais alto que o tom da sua felicidade. No quarto apertado de barulho não resta espaço para pesadelos.

E eles riem com você. Riem de você. Riem até chorar. Riem até doer. E até ninguém conseguir mais respirar naquela escuridão. Porque cada pedaço de ar tem pluma e flor, e a chuva ainda bate aterradora contra o vidro da janela. Forte e agressiva, ou tão leve que impossível de ver a olho nu, mas apenas água.

E a natureza. A natureza é sábia.

Sobram só dois travesseiros na cama e está tudo bem. Você espana a superfície do colchão e eles se acomodam debaixo dos lençóis, completamente alheios à quantidade de branco e roxo que se acumula em toda parte. Mas a palavra certa para definir, na verdade, é "amontoar", porque Metal se espalha por cima de Lee e Shinki se acomoda ao meio, entre os seus braços.

Naquelas mesmas trevas de antes você sente o nariz coçar com as penas que ainda flutuam ao seu redor. O cheiro de lavanda é intenso e o gosto do mel ainda é bem evidente na ponta da língua.

Debaixo de todas as mãos e pés que finalmente parecem sossegar Lee está olhando para você e sorrindo. E aquela mão a acarinhar seus cabelos é sua garantia, ele não dormirá até ter certeza de que tudo está bem.

Você percebe que o sentimento estampado naquele discreto sorriso é real, porque aquela pequena sensação na base de seu estômago é felicidade.

Lee é atencioso, mas também é metódico.

Por isso sempre cumpre suas promessas.

Você se curva para frente. Apenas o suficiente para um encostar de lábios. Num carinho tão leve quanto mudo, que ainda contêm mais palavras do que seria possível na própria voz. Ali, flutuando entre a leveza do beijo, a maciez dos travesseiros e o perfume de flor, você sente o pesar dos olhos e os fecha.

Lá fora o céu continua a quebrar, mas aqui dentro o aglomerado de corações batem tranquilos e a respiração ressona suave.

No caminho que os dedos dele percorrem por entre seus fios você relaxa, e permite que o barulho da chuva pesada caia, lave sua alma, reorganize suas ideias e conduza o caminho para o nascer das flores.

E você sabe, tudo ficará bem.

Porque você agora também consegue sentir como se seu próprio interior fosse inteiramente banhado pelos raios de sol. Então você apenas se afunda mais naquele espaço cheio e se aconchega naquele calor de primavera.

E você respira.

E então, dorme.

27. Februar 2018 01:05 1 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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Políbio Manieri Being alive...

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Lux Noctis Lux Noctis
AH NÃO! AH NÃO!! A H N Ã O!!! Que coisa mais angustiante no começo. Sério, já tava começando a ficar com pena do Gaara, até que por fim o Lee apareceu, encontrando ele, porque sempre encontraria <3 Eu tô muito soft com essa leitura, e eu tô feliz demais por ter pedido links desse ship maravilhoso. Porque o que o Lee tem de animado, o Gaara tem de centrado e na dele. A balança fica perfeita com esse casal. E como se já não bastasse me matar de amores com um Lee todo cuidadoso, ainda me coloca as crianças pra atazanar a noite de tempestade *-* E eu nem ligo pra crias, mas isso ficou fofo demais, porque a imagem do Gaara dando espaço na cama pra um pequetucho, protegendo ele da tempestade. Eu preciso de mais desses dois, de momentos nos quais o Lee afaga os fios do Gaara para proporcionar a ele uma boa noite de sono. E quero o Lee cantando pra infernizar as crias. 2 bjs! P.s.: parabéns pela história fofa que me fez sentir trequinhos bons na barriga <3
December 11, 2018, 17:36
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