Ouvi Dizer Follow einer Story

— Inkspired Land existe?

— Onde você ouviu isso?

— Da moça da casa verde.

O homem se abaixa se deixando ficar da mesma altura do menino.

Ele apóia uma mão no ombro dele e fica a observar, como que ao leo a rua vazia.

— Inkspired Land! Nem sei mais como chegar lá. Sabe? Ouve um dia em que, diversas pessoas dotadas de muito talento uniram-se para criar uma cidade utópica.

— Utópica?

— Quer dizer que não existe.

— Então criaram uma cidade nova?

— Isso.

— E pode?

— Bom... Eles uniram seus dinheiros e compraram um imenso terreno aonde começaram a construir casas. Modéstia a parte, as casas ficaram lindas!

"Então, tão logo as construções ficaram prontas, todos se mudaram para lá. Cada um pra sua residência.

Enquanto lá viviam cada um fazia a sua arte da maneira que melhor lhe convie-se no horário em que quisesse. E ninguém lhes perturbava porque estavam demorando muito com isso porque 'tinham' que ir fazer outras coisas!

Era perfeito!

Mas alguns deles estavam com dificuldade para vender suas obras. Como esses passavam fome por não ter dinheiro pra comer, ficou decidido que todos teriam que, dali por diante, unir seus dinheiros para que todos pudessem ter alimento.

Durante um tempo, pareceu que estava dando certo, mas como todo mundo sempre quer ter muita coisa para si, logo começaram a ficar indignados porque estava lhes faltando dinheiro para adquirir bens.

Então investiram o dinheiro daquela vez, em sementes e mudas de todo tipo e todos fizeram uma horta e um pomar.

Parecia então, estar tudo resolvido, não é?

Entretanto, havia quem não tivesse "dedo verde" e com isso, não demorou nada para logo se ver no terreno vizinho alfaces completamente melados, abacaxis todos secos, etc..

Nova horta teve que ser feita, dessa vez, uma comunitária, que ficaria sendo cuidada por apenas uma... Ou talvez, duas pessoas, especialistas nisso.

Por isso, logo foram para a casa que vivia sempre apagada pois, o canteiro e o pomar de lá eram impecáveis! Então, por mais que achassem que aquela pessoa já havia se mudado de lá, óbvio estava, que não foi embora. E como essa pessoa parecia ter o dom de cuidar de plantas, imediatamente esscolheram-na para ser responsável pela plantação comunitária.

Mas houve um problema: Ao chegar na frente da casa, eles bateram palmas, chamaram, 'Ô, de casa!' e ninguém apareceu!

Como foi impossível comunicar-se com essa pessoa, não sabiam porque, decidiram então, encontrar a 'mulher dos gatos', que assim era, popularmente chamada, por ter uma casa, cheia de gatos! Entretanto, na realidade, nem eram tantos. Eram só cinco, uma família.

Mas a mulher dos gatos se recusou a obter essa tarefa dizendo que sua vida já era muito atribulada!

Na cara dela responderam que tudo bem, que compreendiam. Mas, mal se afastaram e já começaram a falar dela:

'— Que vida atribulada? Ela nem trabalha! E mora aqui de graça!

— É, a gente devia ensinar a ela uma lição! Afinal, se não fôssemos nós, ela nem estaria aqui!

— Lição! Como se isso fosse possível!

— Mas é possível! Sabe o pessoal que mudou pra aquela casa ali? – apontou enquanto falou.

— Sim, foi uma dupla, né?

— Fiquei sabendo que são dois assassinos!

— Que é iso? Exagero!

— Verdade! Vocês não notaram que aquele cara que morava ali nunca mais voltou pra casa? Mataram ele! Por isso ninguém mais o viu!

— Mas não era uma mãe e uma filha que estavam morando ali?

— Eu nunca vi mãe assassina!

— Eu também não vi criança matar! Boneco já, mas criança? Não!

— Eu já! Mas tava possuída!

— Cruz, credo! Bangalô, bate na madeira três vezes!

— Não adianta nada sese não bater de verdade na madeira três vezes seguidas!

— Madeira! Onde tem madeira? Preciso de madeira! Me deixa entrar pra bater na sua mesa? – dizia, enquanto de alguém tocava a campainha.

— Podíamos nos livrar dela. Não está contribuindo.

— Mas se fizermos outra junção de dinheiro pra mais uma despesa todo mundo vai embora e acabou nossa cidade!

— Não tinha pensado nisso! Acha mesmo que vão cobrar?

— Mas é claro, se são profissionais!

— Mas não os denunciamos! Isso não vale como crédito?

— Não bati na madeira, ainda assim, espero não morrer.'

Bom, por fim, decidiu-se que o líder é quem iria ficar a cargo disso, 'já que ninguém queria colaborar. Porém esse, era outro que também se sentia muito ocupado porque participarparticipava de diversos concursos literários. Literários, não de escrita pois só escrevia se houvesse alguma clara oportunidade de ganhar dinheiro, nunca por esporte. Então ele pediu para o 'homem da casa silenciosa' lhe ajudar, fornecendo os alimentos a quem precisasse nos dias e horários em que ele não estivesse disponível pra isso. Ou seja: Todo dia!

Foi então que esse homem começou a contar pra todo mundo todas as coisas que ouvia todos dizerem na cidade sobre os outros pois, como sua casa era muito silenciosa, ele ouvia tudo!

Eis que se descobriu traição, roubo de ideias de histórias, arte e muito mais coisas! Ao mesmo que todos percebiam que era verdade o que ele fofocava, todos o temiam! Justamente porque ele não mentia! 'O que será que ele sabia delas?', pensavam aflitas!

Até que um dia, ele revelou o plano de assassinato daqueles, que já te falei.

Foi o que faltava pra ninguém mais lhe dar ouvidos! Começaram, a partir dali, a dizer que o tudo o que contava não era verdade! Que nada do que um dia disse realmente fora real! Tudo balela! 'Causos', porque isso coisa de gente velha!

Então o velho homem parou de ajudar e voltou a nunca mais sair de sua casa escura e silenciosa porque não podia ligar nem um rádio porque eletricidade não tinha! Ele já tinha problemas demais pra ficar ajudando quem não merece!

Mas o cameraman! Ah! Esse nunca perdia tempo! Sabia que filmaria um grande filme um dia! Embora pudesse parecer louco para a maioria visto que, se não estava trabalhando em um estúdio, como poderia?

Foi então que um dia ele decidiu fazer um cinema drive-in na maior parede do condomínio. Digo: da cidade.

A projeção começou com muita gente falando alto, enquanto comia pipoca para se fazer de parte interativa com o filme, quando na realidade o assunto de suas conversas nada tinha haver com os acontecimentos mostrados nas imagens gravadas que estavam sendo mostradas!

Até que eles se sentiram forçados a serem telespectadores do que na parede estava sendo mostrado."

— Eles ficaram sendo... "paredespectadores"? Ri, ri, ri!

— Correto! Agora, continuando... Você sabe o que lhes chamou tanto a atenção?

"Eis que notaram que os atores, eram eles! Mas ninguém havia concordado em atuar para ele! Nem sabia que ele estava filmando por ali!

A filmagem, que fora feita sem diretor, bem que parecia ter tido realmente um roteirista, embora, ninguém que tivesse assinando esse papel existisse! Mas se existisse, teria sido legal descobrir o seu nome! Pois creio já ter me esquecido como se chamava aquele cuja casa era sempre tão silenciosa que chegavamos a crer não estar em casa e só descobriamos que ainda morava lá, porque reclamava quando invadiam seu terreno e lhe perturbavam com barulho e pedras!"

— Pedras?

— Sim. Jogavam pedras e davam, enormes pancadas na porta, às vezes, até com pedaços de madeira, para fazer bastante barulho, a fim de assustar-lhe e perturba-lhe para que assim reclamasse, para saberem se ainda morava ali ou se a horta verdejava sozinha, como que por puro encanto ou magia de duendes! Mas enfim! Fato é que, tudo o que aquele homem contava, no vídeo estava!

"Foi então que o 'burburão' (aumentativo de burburinho) se calou.

Todos estavam chocados com a realidade: os culpados, os inocentes e os errados em falar mau do homem da casa silenciosa! Pois viram que não era mentira!

Pena ele não estar lá pra olhar! Era muito reservado!

Mas continuemos.

Após a exibição de sua maior filmagem de vida (que merecia até um Oscar), Inkspired Land, se acabou!

E o filme dele nunca mais foi exibido a ninguém.

Os que conspiravam assassinato depois disso chegaram a mudar até de estado na esperança de serem esquecidos e considerados 'boa gente' por aqueles que nunca antes os viram.

Mas não sem antes pintar de verde a casa da moça que morava junto a sua mãe numa tentativa de mostrar que ambas eram 'loucas' quando na realidade, talvez, fossem as mais criativas do lugar! De outra forma, então porque estavam tão interessados em roubar a arte delas?

Inkspired Land tinha tudo para ser um bom lugar e seria se não fosse tudo isso e muito mais! Porque isso, é apenas um resumo."

— Mas... Como a moça sabe desse lugar?

— Talvez porque ela seja a única pessoa ainda capaz de encontrar os personagens maravilhosos que um dia, existiram lá.

— E como ela sabe isso?

— É um talento dela.

— E você, como sabe disso?

— Porque eu sou o homem se sentia muito ocupado, porque na realidade, eu nem morava lá! Apenas adquiri uma casa no mesmo lugar porque eu queria ter a chance de chegar perto de uma menina. Então... Como eu estava sempre fora observando-a e quando voltava, dormia...

— E quem era ela?

— É aquela que ainda observo, mas agora, só a casa, pois sua porta, nunca mais vi aberta depois aquele dia. Mas que creio ainda será minha.

Falando nisso, como conseguiu falar com ela? Ela abriu a porta ou foi a janela?