pensadorlouco Pensador Louco

Acordando na pior ressaca de sua vida de muitas, Gomide levanta tentando catar os cacos de sua existência, lembrar o que o deixou naquele estado, e seguir adiante. Porém, o encontro em seu apartamento com uma viajante do tempo que não estava lá, o faz repensar seu presente e passado. Pelo pouco tempo que lhe restava vivo para isso.


#13 in Science Fiction Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#381 #295 #378 #misterio
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Capítulo um

Gomide acordou. Ao menos era o que ele achava ter feito, mas qualquer passante imaginário o teria visto apenas se remexer e cair da cama num gesto assustado, depois abrir os olhos e girá-los ao redor, procurando se certificar de onde estava. Exceto que, claro, ele não estava na cama. Havia dormido no chão, e o que ele pensara ser cair na verdade fora uma tosse somada a soluço somada a susto somada a convulsionar a cabeça e amassar o nariz contra o piso de cimento bruto.

Ainda bem que não tinha ninguém em volta para ver.

Ressaca galopante, como o Ceifador brandindo uma foice velha, montado em um jegue e partindo em sua direção para cobrar o preço da noite anterior. Se a morte parecesse aquela dor de cabeça, era algo a se temer sem sombra de dúvida, e Gomide faria de tudo para fugir, pelos dois ou três dias que levaria até abrir mais uma garrafa.

Ainda olhando ao redor, certificou-se de estar em casa. Estava. Verificou se estava vestido. Estava. Cagado, mijado ou vomitado? Trinta por cento todos os três, cotando por baixo, mas pelo menos não sentia dores, cortes ou ardências externas, significando que não havia feito nenhuma merda muito grande.

Só as mesmas merdas de sempre.

Levantou-se na quinta tentativa. O.k., quinta e meia, porque pisou em uma garrafa vazia de cachaça e quase voltou a cair, mas acabou dando certo após a sessão gratuita de equilíbrio-é-o-cacete-que-a-maldita-sala-ainda-gira-e-eu-nem-sei-o-que-é-giroscópio. O apartamento de um cômodo o olhava em censura. Já fazia tempo desde que o sentira como um cúmplice, um amigão. Depois de tantos anos de maus tratos, as paredes agora o faziam lembrar da velha Genésia, sua professora de Geografia, que praticamente patenteara esse olhar contra ele.

Por que estava pensando essas coisas? Ainda devia estar alucinando, de tanto Pau Pereira durante a noite. Delirium Tremens, ou qualquer outra babaquice assim.

Tremendo, foi até o banheiro. Passou o sofá-cama, a poltrona azul marinho puída, os montes de roupa suja e mofada no chão. Deixou a sala/cozinha do quitinete e saciou a vontade do Ceifador na torneira da pia esmaltada e manchada de amarelo. Água. Áaaaaaaagua. Áaaaaaaaaaaaagua. Mais três aspirinas para garantir afugentar a morte lenta. Pacote padrão. Kit de sobrevivência instalado. Desistiu de urinar na privada lascada quando notou que sua escova de dente nadava estilo crawl lá dentro. Acompanhada do suco gástrico deixado lá. Parecia lhe dar um bom dia acompanhado do dedo médio.

O homem não teve forças ainda para xingar o universo. Entrou de roupa e tudo no chuveiro.

Água. Despido devagar. Tudo terminava em água, chegou a essa conclusão. Testa colada na parede de azulejos. Tinha de alguma forma rasgado a cortina do chuveiro, maldito fosse se pudesse saber o que acontecera, mas a casa estava uma zona pós-apocalíptica mesmo. Um outro Gomide, refeito, capaz de raciocinar, limparia tudo depois.

Ou não.

Primeiro precisava se concentrar. Seu estado era tão lastimável que nem podia saber certamente se tudo o que via era real. Podia muito bem estar acordando no motel Sayonara, aquele de duas quadras pra lá, novamente, e achar que estava em casa até se deparar com a conta e perceber que a conquista da noite levara sua carteira na cara dura.

Mudança no status quo. Da sala, um zuuuum floreado de efeitos especiais o tirou do torpor. Som que o fazia lembrar de um velho seriado assistido pelo pai, quando Gomide era moleque. Viagens Incríveis, qualquer coisa assim. Apanhou-se murmurando o tema, mas tudo o que saiu de sua boca foi um “Anhanhãnha” que não fazia sentido algum. Era tarde, relembrar doía ainda mais. A primeira coisa que faria depois de sair do banho seria desligar a tevê, parar com aquele festival de luzes azuladas piscando.

Arregalou os olhos. Muito. Água e sabão entraram ardendo feio. Gomide manteve os olhos abertos quase ao ponto de suas órbitas escaparem.

Lembrou-se de não ter televisão há seis meses.

De repente, se deu conta de talvez não estar sozinho. Ou isso ou estava alucinando pior do que pensava. Qualquer das duas, ou ambas, e não podia ser boa coisa. Devia ter checado atrás do balcão conjugado da cozinha que dividia a “salaquarto” com coisa alguma. Saiu e se enxugou tão rápido que havia colocado a cueca sem nem largar a toalha.

1. Juni 2022 06:59 3 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Daniel Trindade Daniel Trindade
Olá! Faço parte da Embaixada Brasileira do Inkspired. Estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação de sua história. Espero que ela seja prestigiada por muitos leitores aqui em nossa comunidade. Sucesso e felicidade em sua arte! ♡
February 15, 2023, 16:08
Norberto Silva Norberto Silva
Um puta começo foda para mais uma história que promete. Adoro o jeito que vice constrói as comparações, o lance da ceifadora montada num jegue, foi sensacional! E que gancho filha da puta foi esse? Vou correndo pro próximo capítulo! Parabéns!
June 09, 2022, 21:14

  • Pensador Louco Pensador Louco
    Norberto, que bom ter gostado da ambientação desde conto. É capaz de ele ser um dos mais curtos da série, mas tenho um carinho todo especial por ele. Abração. June 10, 2022, 09:30
~

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