Caminho calmamente em direção à cozinha, passando pelo corredor com portas laterais. A casa se encontra totalmente silenciosa, algo incomum. Conforme me aproximo da cozinha, sinto uma fragrância adocicada, misturada com algo metálico... Este aroma me recorda algo, turvo demais para enxergar com clareza. Está na minha frente, quase ao meu alcance. Quase...
De repente, me sinto nauseado. Minhas pernas fraquejam, e me apoio em uma das paredes. Agora minha cabeça também dói. Procuro me recompor e seguir em frente. A cada passo, me sinto mais fraco, e a cefaléia piora, como se houvesse uma barreira na entrada para a cozinha, me impedindo de atravessar. Quando estou a três passos da cozinha, a dor já está insuportável. Minha visão escurece. Mais um pouco e não conseguiria... mas consegui.
Imediatamente após entrar na cozinha, recobrei minhas forças. A cefaléia também se foi, e minha visão voltou ao normal. Dou uma rápida olhada ao redor da cozinha, e vejo meu pai, debruçado sobre a mesa. Imediatamente, reconheço a fonte do agradável aroma. A névoa se dissipa, e as memórias da noite passada vêm a luz. Não consigo conter um sorriso de satisfação. Me aproximo de meu pai. Tão trabalhador, sempre dedicou tanto à sua família... Está tendo seu merecido descanso. Afago com delicadeza sua nuca, e sinto o local de misericórdia. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto um bom filho. Não sinto fome, então apenas tomo um copo de água e volto para o corredor.
A sensação sufocante não me atinge dessa vez, é claro. Não há mais motivos. Sinto o chamado da natureza, e entro no banheiro. A cortina que serve de divisória para a banheira está fechada, mas não preciso abri-la para saber que é minha mãe que ali reside. Mesmo assim, encaro a cortina por um bom tempo. Algo aqui está diferente, sinto a ausência da fragrância doce de antes... Ah, claro! Como pude me esquecer? É claro que eu teria sido mais delicado com ela. Saio do transe ao sentir uma pontada na bexiga. Me apresso a fazer minhas necessidades, e aproveito para escovar meus dentes. Vejo as pílulas de mamãe na pia. Sempre a alertei que remédios e bebidas não resolveriam sua vida, mas ela nunca me deu ouvidos... Pelo menos tenho a certeza de que estará em paz, agora. Deixe que a água leve seus problemas embora, mãe.
Ao voltar para o corredor, ouço um grunhido abafado vindo da última porta. Intrigado, entro no quarto. Lá está meu irmão menor, uma criança alegre e cheia de energia. Cheia de vida... Não poderia tirar isso dela tão de repente. Observo com carinho cada detalhe seu: seus pequenos olhos avermelhados, as lágrimas navegando por suas bochechas macias, sua boca cuidadosamente amordaçada, suas pernas... Sempre admirei as perninhas de meu irmão. Apesar de infantis, apresentavam virilidade. Olho para suas panturrilhas. A da direita, bem definida e bonita, e a esquerda... Ah! Não consigo conter um curto gemido de satisfação ao me lembrar de minha última refeição. De repente, sinto meu estômago roncar. Só precisava de algo para estimular meu apetite. Meu irmãozinho parece ter percebido, pois seus grunhidos abafados começaram a se transformar em gritos.
Cuidadosamente, pego meu irmão no colo, e me dirijo até a cozinha.
Vielen Dank für das Lesen!
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