brina Sabrina Leone

Jasper Carter é um detetive iniciante na polícia. Corajoso, sincero e ansioso para mostrar serviço, o recém-promovido tem como missão solucionar o caso do assassinato dos bilionários Edgar e Donna Patterson, um dos casos mais complexos da cidade. Com seu parceiro, o oficial Richard Bullock, Jasper conhece o único sobrevivente do assassinato: Peter, um garoto de 12 anos, filho do casal, por quem ele imediatamente sente uma grande afeição. Hellsworth é uma cidade perdida nas sobras, fundada em uma terra esquecida por Deus. Seria um simples policial capaz de lutar contra uma cidade cruel?


Krimi Nicht für Kinder unter 13 Jahren.
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O Piloto


Hellsworth era uma enorme cloaca localizada no leste americano. Uma enorme fossa onde tudo o que é deplorável e sórdido encontra solo para prosperar.

A noite finalmente chegou, havia uma garota caminhando pelas ruas frias de Hellsworth. Sally Spawol se equilibrava pelos muros da cidade. Ela possuía cabelos loiros, ondulados, olhos azuis e possuía em média 12 ou 13 anos. Estava sempre usando uma camiseta suja, um colete de couro negro, calças jeans e surradas, e coturno nos pés. Ela era reconhecida também por suas incríveis e incontestáveis habilidades de equilíbrio, agilidade, e flexibilidade que ela possuía por natureza. Sally Sparrow era uma garota que podia escalar um prédio, saltar sobre eles e invadir um apartamento sem ser notada. Habilidades essas, que ela aprimorou muito, diante da extrema dificuldade que ela encontrava vivendo nas ruas da grande metrópole.

Às oito horas da noite, ela entrava em um beco, caminhando abaixo da fumaça negra que cobria toda a cidade. Ela chutou alguns copos descartáveis que estavam no chão molhado, e começou a contar o dinheiro que estava na carteira que ela tinha abatido de um homem qualquer no centro. Ela jogou a carteira no bueiro e guardou os cinquenta dólares que encontrou nela. Sally respirou fundo e olhou a lua, ofuscada pelas potentes luzes da cidade. Ela procurou por alguma estrela, mas a fumaça dos carros raramente deixava o céu visível. A única luz que havia na imensidão eram três helicópteros da polícia.

Cansada, ela se sentou no chão e acariciou um pardal que surgiu ali. Ela sorriu para ele e ele se esfregou nela, como se o pequeno pássaro pedisse mais carinho. Incrível como Sally Spawoll tinha apreço por pássaros. Qualquer ave a inpirava muito e ela conseguia ter uma relação boa com qualquer pássaro que surgisse em seu caminho. Com os demais animais não, pois ela mal podia contar quantas vezes fugiu de cães raivosos, ou ela mesma perseguiu gatos só porque eram irritantes. Apenas as aves pequenas eram dignas de sua atenção.

De repente, um barulho de latas rolando assustou ela e o pássaro. Ambos olharam curiosos para o começo daquele beco, vendo uma lata rolar pela rua molhada e suja. Em seguida ouviram risadas. O pardal saiu voando, e Sally se escondeu entre os dois prédios de tijolos, ficando atrás das latas de lixo, mas ainda observando a rua. Ela pôde ver um casal e seu filho. Logo ela os reconheceu dos jornais. Se tratavam de Edgar e Donna Patterson e seu filho de 13 anos, Peter. Os Patterson eram donos da Fundação Patterson e eram, basicamente, o único nome em energia limpa na cidade.

Donna era alta, loira, possuía um nariz pontudo e uma boca larga com dentes brancos. Edgar era alto, branco, cabelos negros e estava sempre de terno. Peter, o único filho do casal, também possuía uma pele pálida, cabelo finos e negros e dentes bem brancos como os da mãe.

A família Patterson parecia ter voltado de alguma festividade, pois estavam bem arrumados e cheios de joias. Donna também ria muito, o que faria qualquer um crer que ela havia bebido vinho demais.

Sally observou o momento exato em que eles caminhavam conversando, quando, do nada, eles pararam e tomaram uma expressão de seriedade.

—Oh, meu Deus— disse Donna, abraçando Peter.

—Calma— disse Edgar, cauteloso, tomando a frente dos dois.

Do ponto de vista de Sally, ela não podia identificar o que os havia assustado. Curiosa, ela começou a subir na parede de tijolos do prédio. Por ser um pequeno espaço que separava os dois prédios, ela pôde subir com facilidade, se apoiando nas paredes de ambos. Já em um ponto mais alto, ela pulou na escadaria de incêndio do prédio do lado esquerdo. Pisando com passos de pena, ela se alastrou pela escada, imperceptível, até ter uma boa visão do que estava havendo.

Se tratava de um assaltante. Um homem de tamanho médio, barrigudo, de gorro negro no rosto, usando um chapéu marrom, uma jaqueta de couro, calças jeans, sapatos pretos e uma arma apontada para os Patterson.

—Me passa o dinheiro!— ordenou o assaltante.

—Sem problemas— respondeu Edgar, seriamente, pegando sua carteira —Nós vamos cooperar

—As jóias!— exigiu o homem após enfiar a carteira de Edgar no bolso.

—Tudo bem— concordou Donna, apavorada, removendo seu cordão de pérolas, enquanto Peter não conseguia encarar a situação, e permanecia apavorado, com o rosto na saia da mãe.

Donna entregou o cordão, que o assaltante puxou da mão dela com força, o arrebentando e deixando várias pérolas caírem no chão. O homem armado encarou o casal assustado e o garoto que chorava em silêncio.

Sem contestar, ele disparou e atirou contra Edgar, o que assustou a todos. Antes que ele possa cair no chão, O assaltante também atirou em Donna. O casal caiu, enquanto o sangue começava a jorrar. Sally Sparrow tampou a boca, impedindo um grito espontâneo que sairia.

Sem reação, Peter encarou o assaltante, que agora era um assassino, e o viu apontar a arma para ele.

O homem mascarado, após um período em silêncio, abaixou a arma e correu para longe, se perdendo no mar de pessoas que havia em Hellsworth.

—Mãe! Pai!— gritou Peter, os sacudindo, desesperado diante do sangue que os tomava —... Não!— ele berrou para os céus, entre seus pais já sem vida.



No centro da cidade, a delegacia da polícia de Hellsworth estava mais movimentada que nunca. O primeiro andar, baseava-se em um grande espaço cheio de mesas e cadeiras para cada dupla de policiais, no canto esquerdo havia duas celas pequenas, que caberiam 5 pessoas cada uma, destinadas apenas para prender criminosos antes de mandá-los para a prisão. No lado direito, duas escadas para a área acima, onde ficava mais algumas mesas e depois um "sub-andar" que abrigava a sala da delegada. Como o prédio da delegacia só possuía um andar, o local se tornava um tanto apertado e ficara lotado rapidamente. Além do salão principal, havia um corredor para a sala dos arquivos, o vestiário, a sala de embalsamento e banheiros.

Em meio a tanta confusão, falação, um mar de rostos, havia um homem que se destacava. O verdadeiro alcoólatra, alterado gritava e berrava enquanto era levado por um policial. Ele se aproximou da cela, e conseguiu se soltar e bater no policial, agarrando o pescoço de uma policial que estava perto dele.

—Eu quero meus remédios!— berrou o homem e todos os policiais da delegacia carregaram e apontaram suas armas para ele —Eu preciso dos meus remédios!— ele continuou, mantendo a mulher com o refém.

—Solte ela!— um dos policiais ordenou.

—Primeiro os meus remédios!— o homem berrou, removendo a arma da oficial e dando dois tiros para o teto, colocando a arma na cabeça dela logo em seguida —Consigam os meus remédios!

—Não atirem!— ordenou Jasper Carter, descendo as escadas —Eu cuido disso!

Jasper Carter era um policial recém formado. Tinha em média 30 anos. Em seu terno azul escuro com gravata vermelha não era possível ver seus músculos, mas ele os possuía e, de certa forma, definidos. Tinha a pele clara, cabelos castanhos em um penteado moderno. Seus olhos também eram de mel e era, senão o mais jovem, um dos, na delegacia de Hellsworth.

—Eu só quero meus remédios!— continuou o bêbado, vendo que Jasper era o único policial que se aproximava sem usar uma arma em mãos.

—Se acalma. Olhe para mim... Não olhe para eles...— conduziu Jasper, tentando acalmá-lo —Meu nome é Jasper. Jasper Carter. Qual é o seu?

—Eu preciso do meu remédio— ele respondeu, cerrando os dentes.

—Tá bom. Vai ficar tudo bem. Olhe para mim... Que tipo de remédio precisa?

—Um especial. Está na primeira mesa. Eles tiraram de mim quando me trouxeram

—Tudo bem, calma— assentiu Jasper, olhando para trás e avistando o pote branco na primeira mesa da delegacia. Um outro policial logo pegou o frasco e trouxe até as mãos de Jasper —Obrigado. É esse?

—É sim...

—Ok, tudo bem— ele abriu o frasco e pegou uma pílula —Aqui... pegue— ele esticou a mão e o homem rapidamente pegou a pílula e a enfiou na boca, mas sem remover a outra mão da arma que ameaçava a vida da policial.

Já mais calmo, o homem soltou a mulher e jogou a arma no chão. Rapidamente os demais policiais o cercaram, o algemaram e o prenderam na cela.

Após alguns aplausos, Jasper voltou para sua mesa, que dividia com seu parceiro detetive Richard Bullock, um homem de 49 anos. Ele era branco, possuía,uma barriga protuberante, olhos casados, cabelos de fios finos e grisalhos, assim como sua barba. Estava sempre usando uma calça jeans preta, camiseta social clara de botões com uma gravata preta, sapatos marrons como seu sobretudo e seu chapéu fedora.

—Valeu pela ajuda— disse Jasper, irônico, vendo que o parceiro não havia movido um músculo e continuara lendo seu jornal.

—Sabia que dava conta, Carter— respondeu Richard, com desdém —Além disso, foi babaquice o que fez

—Babaquice?!— indagou Jasper.

—Se um homem toma a arma de um policial, você dá um tiro no idiota!

—Se eu atirasse, todo mundo ia ficar alterado. Seriam tiros para todos os lados

—Se alguém tem uma arma sem permissão, leva tiro. É rápido e básico, oras!— ele alegou rindo.

—Esquece, já passou

—Não tenta bancar o herói... Hellsworth não funciona assim, novato

—Eu sei bem como é...— Jasper murmurou para si mesmo.

—Como é?

—Nada. Só estava me perguntando sobre essa barba de Matusalem aí

—É um disfarce— justificou Bullock, fazendo Jasper rir —É pra um caso

—Está disfarçado de quê? Desempregado alcoólatra?

—Esqueceu do vício em prostitutas— ele respondeu rindo e contagiando Jasper.

—Hey, Carter, Bullock!— um policial os chamou com o telefone em mãos —Homicídio duplo perto de teatro. É com vocês

—Ah, qual é, Daniel?— questionou Bullock, cansado —Pede para outro. Nosso turno está quase acabando

—É, quase— respondeu o policial —Vão logo!

Quando o Cadillac Eldorado de carroceria preta do detetive Bullock parou no beco, o local já possuía duas viaturas de polícia e alguns policiais já cercavam a área.

—Já tem gente aqui, por que mandaram a gente vir?— questionou Bullock, estacionando.

—Será por que nós somos do departamento de homicidio?— restrucou Jasper, ríspido.

—É, pode ser— aceitou Richard enquanto ambos desciam do carro.

—Olha quem vem lá— disse um dos policiais ao ver Richard e Jasper se aproximando —O Lendário Detetive Bullock! Não vai parar de trabalhar nunca?

—Timmy, tá bonitão, hein— elogiou Richard batendo no quepe dele —Esse é meu novo parceiro, Jasper Carter. O que temos aqui?

—Venham— ele os levou até a cena do crime, mostrando os dois cadáveres que estavam como encontraram, apenas com a exceção de possuírem um pano sob os corpos —Acabei de chegar, mas, ao que parece, um casal levou um tiro. O filho viu tudo. O coitadinho ainda não disse nada— ele apontou para Peter, que estava sentado na escada de incêndio de um dos prédios, com um cobertor sob os ombros, ainda muito pensativo, repetindo a cena varias vezes em sua mente.

—Vou falar com ele— avisou Jasper e Richard assentiu. Ele se aproximou de Peter, que o olhou, ainda com os olhos cheios de lágrimas, totalmente traumatizado —Oi. Meu nome é Jasper Carter. Sou detetive... Qual seu nome?— ele perguntou e Peter até abriu a boca, mas não conseguiu proferir nada —Tudo bem... Não precisa dizer nada...

—Oh, merda...— murmurou Richard após remover o pano do rosto das vítimas e os reconhecer da mídia.

—Que foi?— perguntou o policial.

—Olha, Timmy, me faz um favor— ele pediu se levantando-se —Você não me viu, tá?

—Eu estou te vendo bem aqui. Qual o problema?

—São Edgar e Donna Patterson— alegou Richard, fazendo o policial Timmy arregalar os olhos —Não quero essa dor de cabeça. Liga pra Unidade de Crimes Especiais, eles vão adorar

—É, Bullock, mas eles não estão aqui. E o seu parceiro está falando com a testemunha— apontou o policial —Então... O caso é todo seu, meu chapa.

—Mas que droga— bufou Richard, encarando seriamente Jasper.

—Peter— respondeu o próprio para Jasper Carter —Meu nome é Peter Patterson.

—Quer me falar o que aconteceu, Peter?— perguntou Carter, atencioso. O garoto tremeu ao abrir os lábios, mas não conseguiu falar sobre. Ele apenas conseguia chora —Peter...— Jasper se aproxima ao se sentar ao lado do garoto —Eu sei como está se sentindo. E eu prometo, por mais escuro e assustador que possa parecer, a luz sempre surge no final. Não dá pra ver ainda, eu sei, mas ela está lá...

—...A gente...— ele respirou fundo e, encorajado por Jasper, conseguiu se acalmar —A gente tinha ido ao teatro, passávamos por aqui para pegar um táxi... Um homem saiu das sombras. Ele era alto, com uma máscara preta. Ele usava um chapéu, luvas... E um sapato brilhante. Ele pegou a carteira do meu pai e o colar da minha mãe... E depois atirou neles. Sem motivo nenhum— ele relatou segurando firme as lágrimas —Eu deveria ter feito alguma coisa!... Mas eu estava com medo...

—Você não podia ter feito nada para impedir o que aconteceu. Mas pode fazer algo agora— ele alegou, observando a dor e o sofrimento visível nos olhos do garoto —Você tem que ser forte. Seja forte. E eu prometo que vou encontrar a pessoa que fez isso...

O garoto enxugou suas lágrimas e assentiu com a cabeça.

Um homem com cerca de 46 anos, branco, cabelos grisalhos, usando um smoking de camurça e sapatos negros atravessou a faixa de isolamento da polícia. Peter, assim que o viu, correu em sua direção e o abraçou fortemente.

—Jasper Carter— o próprio se apresentou ao homem misterioso de olhos azuis.

—Charlie Patterson— o homem respondeu sem deixar de abraçar Peter —Eu sou...— ele engoliu em seco ao avisar os corpos ao longe —Pai do Edgar...

—Vamos encontrar quem fez isso, senhor— garantiu Jasper.

—Você é novo aqui, não é?— perguntou Charlie, com uma sobrancelha arqueada, acariciando os cabelos do neto.

—Algo assim...

—Boa sorte, amigo— ele disse em tom de pêsames —Vamos, Peter... Cabeça erguida, olhos à frente. Não deixe que te vejam chorar...

Aquelas palavras, as últimas que Charlie Patterson direcionou a ele, ficaram presas na cabeça de Carter. Ele foi embora pensando nisso, e mal dormiu enquanto analisava o tom de voz que o avô de Peter lhe desejara uma boa sorte.

Na manhã seguinte, Jasper Carter e Richard Bullock encontravam-se em uma cafeteria qualquer no centro de Hellsworth. Richard possuía uma cara péssima, de quem não pregou os olhos na noite passada.

—Não deveríamos ter ficado lá quando tiraram as vítimas?— perguntou Jasper, sentando-se no banco do balcão.

—Por quê?— questionou Richard, fazendo sinal para o garçom —Olha, Carter, me faz um favor. Não fala com as testemunhas até eu mandar

—Qual é o problema com você?

—Meu problema, soldadinho, é que você meteu a gente num problema enorme

—Ah, é? E por quê?

—Nunca ouviu falar em Edgar e Donna Patterson?

—Sim... De passagem... Donos da Fundação Patterson, não é?— questionou Jasper, dando a primeira mordida em seu croissant —Empresários ou algo do tipo, certo?

—São os mais ricos de Hellsworth— comentou Richard, enquanto ambos recebiam uma xícara de café —Você nem imagina a pressão se não resolvermos o caso logo

—Então é só a gente resolver o caso— respondeu Jasper, tentando enxergar o motivo que deixava Bullock tão incomodado.

—É, tá bom, Sherlock. Foi um assalto aleatório de rua. O culpado pode ser qualquer um dos dez mil bandidos por aí

—Hey, marionetes do governo!— uma voz masculina disse ao entrar na cafeteria.

Jasper e Richard se viraram e se depararam com Hiram Broock e Donavam Jones. Hiram era um homem de porte grande e forte, negro com uma barba rala e escura, careca. Usava sempre um sobretudo marrom sob o terno sem vida. Donavam era uma mulher baixa, magra, possuía descendência latina, cabelos cacheados e negros. Usava sempre uma jaqueta de couro sob uma camiseta qualquer e calças escuras.

—Oh, merda...— murmurou Richard, vendo-os se aproximar —Se não são Broock e Jones, Unidade de Crimes Especiais. Esse é meu novo parceiro, Jasper Carter

—Muito prazer— disse Jasper, vendo que Hiram ficava ao lado dele e Donavam seguia para o lado de Richard.

—Soube que pegou o caso dos Patterson— comentou Donavam —Foi uma coisa horrível.

—É— concordou Richard, enchendo seu café de açúcar.

—Alguma pista?— ela perguntou, o encarando.

—Acabamos de começar— respondeu ele.

—Vou ser direto— disse Hiram -—Quer que a gente tire o caso de vocês?

—Não— respondeu Jasper, seriamente.

—Calma aí— interveio Richard.

—Não, não— negou Jasper, encarando seu parceiro.

—Por que o querem?— perguntou Richard —Vocês têm alguma pista?

—Não. Só precisamos da publicidade— respondeu Donavam.

—Bom... Sei lá...— Richard considerou a proposta.

—Qual é, sabemos que está com medo desse caso, Bullock— respondeu Jones.

—Pode apostar que estou— ele confirmou.

—Faça a coisa certa pra variar— comentou ela.

—Pra variar? Quem você pensa que é pra me dizer isso? Vai se fuder, vai...

—Está bem, amigo— interveio Hiram, observando a expressão de raiva de Donavam —Como quiserem. A gente só queria ajudar mesmo...

—Eu quase dei o caso para vocês— disse Richard, enquanto eles saiam —Mas vocês não se contêm, não é? Tinham que me desrespeitar...

—Já entendemos, Bullock— respondeu Hiram, sorrindo —Passar bem...

—Não liga pra eles— disse Richard para Jasper —São idiotas hipócritas que pensam que fazem o bem... Vivem falando mal da gente, como se eles fossem anjos! Ah, que isso? Por favor...

Na delegacia, a capitã Peny Longh fazia questão de mostrar para Jasper e Richard o pronunciamento do prefeito Holmes sobre o assunto. Peny possuía cerca de quarenta anos, era loira, gordinha e muito severa com o dever.

—Como prefeito dessa cidade grande, eu juro, que todos os culpados desse crime hediondo serão capturados e punidos da melhor forma possível. Eu prometo!— garantiu o prefeito Holmes no noticiário da TV.

—Coitado— sorriu Peny —Primeiro uma onde de crimes, e agora isso. Usem todas as pessoas e recursos que precisarem. Mas resolvam o caso

—Deixa com a gente, capitã— respondeu Richard —Jasper, pode nos dar um minuto?

—Claro— assentiu Carter, saindo da sala.

—A resposta é não— afirmou a capitã assim que a porta se fechou.

—Olha só, é o seguinte: eu não to afim de trocar a fralda de ninguém!— exclamou Richard, furioso.

—Ensine ele— ordenou a capitã.

—Não! Qualquer um, não me importo, esse novato é um mala!— ele esbraveja.

Enquanto Richard discutia com a capitã Longh, nem se deu conta de que as salas do distrito não eram à prova de som. Logo, todos da delegacia poderiam ouvir a discussão dos dois, e acima de tudo, os berros de Bullock.

—Você vai trabalhar com ele!— exclamou a capitã.

—Vai pro inferno!— ele berrou e saiu da sala, nervosos.

—Estava implorando para trabalhar comigo?— perguntou Jasper, irônico ao ver Richard sair da sala.

—Isso aí— concordou Richard, sorridente, enquanto todos os policiais os olhavam —Ela disse que você é um herói. E seu pai era um promotor importante antigamente. Então, eu preciso ficar calado e fazer o que ela mandar— ele comentou vestindo sua jaqueta de couro marrom —Olha, rapaz, você é influente. Por que não pede uma transferência?

—Desculpe, mas a ação está toda aqui— Jasper respondeu expressando um fosco sorriso —Vai ter que me aguentar

—Carter, você parece ser um cara legal. Mas essa cidade e esse trabalho não são legais. Entendeu?

—Não— ele respondeu, seriamente.

—Esse é o seu problema.

—Você é um cínico— desafiou Carter —Um cínico, desleixado e apático!

—Cê tem razão— respondeu Richard, rindo —Certo, soldadinho, vamos caçar uns ladrões... E, pra sua informação, eu nem sei o que é ser apático!

As buscas dos dois detetives começaram. Carter e Bullock interrogaram vários marginais. Traficantes pequenos, ladrões de carteira, mendigos, enganadores de comércio informal. No entanto, Jasper começou a ficar cansado da repetição que aquilo se tornava. Ninguém parecia saber de algo, ninguém conhecia a descrição do assassino dos Patterson, ou, talvez, ninguém queria dar com a língua nos dentes. A cada interrogação, que sempre terminava com Bullock enterrando o punho na mandíbula de algum criminosos, Jasper percebia que aquilo não levaria a lugar algum.

Quando finalmente voltaram para a delegacia, estavam sem nenhum sinal de por onde começar. Jasper lia os jornais sobre a fatalidade, enquanto Richard permanecia com os pés sob a mesa, reclinado na sua cadeira, expremendo os olhos com os dedos. Bullock parou de pensar no quão horrível estava quando viu Harvey Quinzel, da perícia, caminhado entre as filerias de policiais. Harvey era bem pálido, tinha cabelo negro e bem penteado ao gel. Mesmo que usando roupas sociais, não era visto sem seu jaleco e óculos fundo de garrafa que escondia seus olhos verdes e enigmáticos.

—Hey, se liga— chamou Richard, rindo.

—O que foi?— perguntou Jasper, de aproximando.

—Ta vendo aquele cara ali? De jaleco e gravata borboleta— ele apontou para Harvey.

—Sim, o que tem?— perguntou Jasper, confuso.

—Fala aí se ele não parece aquele pássaro esquisito— zombou Richard, rindo —Qual é mesmo o nome? É... Condor! É isso, um Condor— acrescentou, em uma gargalhada sincera.

—Bullock...— Jasper assumiu uma expressão séria, de repreensão.

—É verdade. Olha!

Por ter o nariz um pouco mais curvado que o normal, possuir um gogó protuberante e ter um cabelo escurecido e imóvel, Harvey Quinzel realmente lembrava um Condor; uma espécie de ave de grande porte. A gola branca e bem dobrada de Harvey reforçava a imagem do pássaro, pois o animal também possuía um colar branco em torno do pescoço. Ele sempre movia a cabeça para onde vinha o barulho, pelas suas lentes gigantes, dependendo da luz que batia, suas pupilas ficavam vermelhas por diversas vezes.

—Para com isso, Bullock— cortou Jasper, seriamente.

—Que foi? É verdade— respondeu Richard, ainda rindo enquanto Harvey Quinzel se aproximava.

—Bom dia, detetives— disse Harvey, sorridente, com um saco de evidências em mãos.

—E aí, Condor— respondeu Richard, gargalhando.

—Bullock!— Jasper chamou sua atenção —Oi, Harvey. Eu posso ajudar?

—Hã... Bom, sim...— ele respondeu, tentando ignorar Richard —O que há em nenhuma parte mas em todos os lugares, exceto quando algo é?

—O quê?— indagou Jasper, confuso.

—Não temos tempo para suas adivinhações arcanas— respondeu Bullock —Fala logo, o que descobriu na balística?

—É uma bala de cuproníquel de calibre 45 de 20 gramas— ele respondeu, animado —Saiu do peito de Edgar Patterson

—É uma bala de seis dólares— comentou Richard, pegando o saco de evidências com a bala dentro.

—Sim— confirmou Harvey —E que tipo de arma...

—Não pergunta, só fala— interrompeu Richard, impaciente.

—É de uma pistola que não existe na nossa base de dados— respondeu Harvey, sem emoção —E também não tem digitais.

—Mais alguma coisa?— perguntou Richard.

—Sim. O que há em nenhuma parte mas em todos os lugares, exceto quando algo é?— ele voltou a perguntar, ansioso.

—Precisa de ajuda profissional, Harvey— respondeu Richard, seriamente —É sério. Vai se tratar...

—A resposta é "nada"!— Harvey gritou para os dois detetives que se afastavam —Entenderam? Nada! É o nada, o vazio, um vácuo!

Enquanto desciam as escadas, Jasper começou a analisar, mentalmente, os fatos, tentando fazer alguma ligação. Foi quando uma pequena teoria surgiu.

—Sabe, Bullock, eu estava pensando— ele começou —O cara tem sapatos brilhantes, usa armamento de primeira, ninguém nas ruas sabe quem ele é... Talvez não seja das ruas

—Como um assaltante playboy?— questionou Richard —Alguém que mata e assalta por diversão?

—Quem ia fingir ser das ruas? Um assassino profissional ou alguém com um rancor pessoal com os Patterson?

—Como um profissional saberia que os Patterson passariam pelo beco?— perguntou Richard, pensativo.

—Boa pergunta.

—Eu sei o que fazer, Carter. Se não tivermos respostas logo, é só a gente falar com a Hannah Mongford

—A Hannah Mongford?— indagou Jasper, indignado —A que trabalha para o mafioso do Raymond Rooney?

—Sim. O assassinato dos Patterson aconteceu no território dela. Se alguém sabe o que aconteceu lá, esse alguém é Hannah Mongford...

Carter e Bullock pegaram um constante trânsito por debaixo da fumaça negra de Hellsworth até chegar no clube The Fallen Angel

Carter e Bullock entraram no enorme salão. Jasper não conseguiu, nem por um segundo, deixar de observar o esqueleto de tubarão que havia na parede, como um quadro na entrada. Passaram entre as cores vermelhas e pretas, observando o enorme aquário que continham pequenas espécies de tubarões negros, que nadavam aleatoriamente pela água azul escura.

—Fala pra Hannah que eu estou aqui— pediu Richard para o garçom, que limpava alguns copos no bar.

Hannah Mongford era dona de uma beleza soberba. Aos 27 anos, era incrivelmente influente e dona de seu próprio negócio. Tinha um corpo esplêndido, com curvas volumosas e chamativas. Ela possuía longos cabelos loiros, mesmo que suas raízes sejam escuras. Haviam tatuagens distintas por todo seu corpo, com uma visibilidade maior para uma mulher com olhos furados que ela tinha estampada em seu busto. Vestia-se impecavelmente, com uma camiseta preta de grandes botões, uma calça da mesma tonalidade, saltos e um sobretudo vermelho vivo jogado sob o ombro.

Hannah estava nos fundos do clube, batendo em um homem, cortando o rosto do sujeito com o a soco inglês que ela mesma havia modificado, colocando dentes de tubarões como lâminas nele.

—Eu gosto muito de você— ela disse, enquanto o homem, ensanguentado, gritava de dor —Mas acho que você não gosta mais de mim...

—Eu... Eu gosto sim de você...— ele murmurou, enquanto ela levantava a cabeça dele puxando seu cabelo.

—Então cadê o meu dinheiro?— Hannah perguntou lentamente, tentando colocar as palavras dentro do cérebro dele.

—Eu vou... eu vou conseguir...— ele garantiu e ela mais uma vez o arranhou com os dentes do tubarão.

Ao seu lado, observando o homem sofrer com uma certa excitação, estava Pierre Prevot, um jovem animado e cheio de vida, mesmo que sua aparência física possa expressar o contrário. Pierre era um francês de uns 20 anos. Ele era magro, esquelético, tinha uma pele tão pálida que beirava ao cinza; o que dava-lhe o aspecto de ter sido afogado há semanas. Seus olhos eram escuros e com grossas olheiras roxas. Era visível alguns acnes negros em sua face esbranquiçada, tendo uma protuberância em seu nariz comprido e um tanto torno. Seu cabelo era do mais escuro negro, e também parecia encharcado, caindo sob a cabeça um tanto pontuda como uma franja lateral. Usava roupas de gala, como um smoking todo preto acima da camiseta social branca, tendo uma corrente dourada saindo até o bolso, onde se encontrava um relógio de bolso, sapatos bem lustrados e pontudos. Pierre Prevot segurava o guarda-chuva de Hannah, impedindo que a água da chuva da noite passada, que ainda estava nos prédios, caísse nos preciosos fios de cabelo da chefe. Os olhos obscuros de Pierre brilhavam a cada murmuro, a cada gota de sangue que escorria. Ele estava tão entretido com o sofrimento do sujeito, que não percebeu quando Hannah foi caminhar e saiu da proteção do guarda-chuva dele.

—Pierre!— ela gritou, chamando a atenção dele enquanto dois capangas vinham com o garçom.

—Desculpe, madame— ele correu e colocou o guarda-chuva sobre ela.

—Se o meu cabelo ficar frisado, você vai ver!— ela o ameaçou.

—Senhora, o detetive Bullock está aqui— informou o garçom.

—Certo... Rapazes, mantenham ele aquecido— ela ordenou, encarando os capangas.

—Sim, senhora— confirmou Rurgh, o homem branco, grande, que sempre usava um terno, o homem mais confiável de Hannah —Hey, Pierre, quer tentar?— ele perguntou estendendo um taco de beisebol para ele, enquanto Hannah entrava no clube.

—Eu posso?— Pierre Prevot questionou, ansioso.

—Aproveita— disse Rurgh, entregando o taco a ele.

—Obrigado, senhor Melkin— ele agradeceu, cordialmente e olhou fixamente para o homem no chão.

Deu um forte golpe na boca do estômago do homem, que gemeu de dor, o que causou riso em Pierre. Continuou batendo cada vez mais forte no homem, e a cada murmuro de dor, Pierre se divertia mais e mais.

Quando entrou no salão principal, Hannah logo abriu um largo sorriso para Richard, que a retribuiu com o mesmo gesto.

—Bullock, meu policial favorito— ela disse de braços abertos.

—Hannah, minha Sharkgirl— ele a respondeu, abraçando-a.

—Por onde você tem estado?— ela perguntou, trocando beijos no rosto com ele.

—Por onde não estive?— ele respondeu, sorridente.

—Quem é o seu amigo?— Hannah perguntou, observando Jasper de cima a baixo.

—Detetive Jasper Carter, senhora— o próprio respondeu seriamente.

—Você é uma coisinha e tanto...— ela afirmou, mordendo os lábios, enrolando o cabelo fino e loiro dela.

—Senhora, foi um grito que ouvimos vindo lá de trás?— indagou Jasper, ouvindo os berros do homem.

—Foi. Os rapazes estão assistindo um filme de terror— alegou ela, seriamente.

—Ah, é sério?— desacreditou Carter.

—Não. Na verdade, um dos meus funcionários está me roubando— respondeu ela, irredutível —Então estamos dando uma surra nele.

—Relaxa, junior— interveio Richard, diante do olhar de desaprovação de Jasper —A Hannah tem liberdade. Os funcionários dela são durões, ela tem que lidar com eles— argumentou ele, provocando um largo sorriso nela.

—Então... Essa não é uma visita social?— ela perguntou, o estudando, acariciando o peito dele.

—Infelizmente não— respondeu Bullock —A capitã me mandou te perguntar sobre o assassinato dos Patterson

—Uma coisa terrível— ela comentou e outro grito de dor veio dos fundos, deixando Jasper inquieto.

—Olha, Carter, se está incomodado, por que você não vai até lá e pergunta se alguém quer fazer uma queixa?— sugeriu Bullock, o encarando seriamente —Se você não se importar, Shark...

—Oh, não— ela respondeu, jogando os ombros —Mi casa és tu casa

—Então eu vou lá...— afirmou Jasper, seguindo o corredor.

No beco, Pierre Prevot ainda espancava o homem, que já vomitava sangue, sem nenhum limite ou intenção de parar.

—Pierre, chega— disse Rurgh, vendo o homem começar a fechar os olhos.

—É, pega leve, peixinho— disse o outro capanga.

—Sabe que eu não gosto de ser chamado assim!— exclamou, Pierre, furiosos.

—Ele não parece um daqueles tubarões com chifres?— debochou o homem, cutucando Melkin, ante ao olhar de puro ódio de Prevot —Todo darkzinho, com essas roupinhas, e essa pele cinza aí... Você parece um Narwhal

—Pare com isso!— esbravejou o francês, com sangue em seus olhos, jogando as mãos para trás e dando o rosto à frente.

—Olha— riu o homem —Esse teu narizão aí lembra o chifre daquele tubarão!

—Para o seu governo, os Narwhais não são tubarões, e sim baleias— respondeu Pierre, em tom categórico —E aquilo não é um chifre, e sim um dente! E, por último, eu não me pareço com um deles!

Pierre havia se exaltado e gritado, quando, no segundo posterior, Jasper Carter abriu a porta.

—Cheguei tarde para a reunião?— perguntou Jasper, invadindo o local.

—Quem é você?— perguntou Butch, intrigado.

—Jasper Carter, polícia de Hellsworth.

—Ah, você veio com o Bullock— assentiu o capamga, aliviado —É um prazer, Jasper. Eu sou Butch Melkin

—Solta o bastão— ordenou Jasper, encarando Pierre.

—Claro— ele jogou o mesmo no chão imediatamente.

—Calma, policial— disse Butch —O Pierre e o Raul aqui só estavam... Se divertindo. Não é, garotos?

—Diversão pura— assentiu Pierre.

—Está... Tudo bem— confirmou o homem, que possuía os dentes quebrados —É... É divertido...

—Você é novo aqui, não é?— perguntou Butch, enquanto Jasper encarava com tristeza o pobre homem.

—Digamos que sim— respondeu Carter.

—O que está achando de Hellsworth?

—Até que é legal— ele respondeu, sério, notando que os três capangas de Hannah o encaravam friamente—Até mais...

Carter regressou para o salão principal, onde Hannah e Richard riam como bons amigos, divindido uma garrafa de whisky.

—E aí, Carter, está tudo certinho por lá?— perguntou Richard e Jasper apenas assentiu com a cabeça —Legal

—É sempre um prazer te ver, Bullock— disse Hannah, se despedindo tocando seus lábios nos dele por um rápido período de tempo.


Quando a noite deu o ar da graça em Hellsworth, as luzes da cidade se acenderam e ofuscaram qualquer estrela visível no céu. No centro da cidade, na cobertura de um prédio enorme de 20 andares, Jasper Carter esperava, nervoso. Ele usava um terno azul complacente, estava bem perfumado, bem penteado após um longo banho quente depois de um cansativo dia de trabalho.

Pela janela, observava a cidade imunda aos seus pés. Mármore negro e brilhante era onde ele pisava. Sob ele, um teto espelhado escuro, com um lustre de cristais. Ao seu redor, móveis mais caros que toda a academia de polícia de Hellsworth. Mesas, cadeiras, sofás e plumas mais raras e de maior valor que tudo o que ele já vira na vida.

O suor dele escorreu pelo cabelo até o queixo quando ouviu o bater dos saltos negros no mármore. Ele se virou, e a sua frente, dentro de um vestido negro, colado ao corpo, instintivamente sexy e elegante, estava a marquesa Swan. Ivy Swan, a marquesa, possuía o cabelo naturalmente loiro, volumoso, longo, ondulado, sedosos e brilhantes, de dar inveja em qualquer mulher. Seus olhos eram grandes pedras de esmeralda. Os lábios, pintados por um vermelho sangue, eram carnudos, enviesados em um sorriso que certamente intencionava a sedução. Seu corpo também era chamativo, pois possuía curvas bem definidas e visíveis. Seus seios, embora fartos, não eram do tipo grande que causa dor nas costas. Eram proporcionais a ela, assim como seus glúteos que eram visíveis, mas não exagerados. Com toda a mais remota certeza, ela era uma mulher muito atraente, em vários aspectos.

—Nossa...— ele sussurrou, boquiaberto.

—Olha só para você— ela se aproximou e colocou as mãos em torno dos ombros dele —Todo charmoso nesse terno lindo... Eu estou tão feliz de não ter mais que usar aquele uniforme idiota

—Disse que eu ficava bonito— ele lembrou, sentindo-se estúpido, enquanto observava o brinco brilhante dela.

—Eu menti— ela sussurrou ao pé do ouvido dele, e seu hálito de menta, misturado ao seu perfume doce, povoavam os mais íntimos pensamentos lúcidos de Jasper. Ela o beijou lentamente no rosto, se afastou e pegou sua pequena bolsa retangular de cor escura e zíper reluzente —Está pronto?

—Ivy, eu estou tão exausto... Temos mesmo que ir nesse negócio?— ele questionou, e viu a expressão radiante dela sumir aos poucos.

—Não— ela lançou um sorriso triste, salpicado com decepção —Claro que não...— jogou a bolsa no sofá de volta.

—Obrigado— ele suspirou, removendo o casaco, vendo-a descer dos saltos.

—Me deve uma...— ela murmurou, jogando-se no sofá branco e fofo —Então, fala comigo...

—Não descobrimos nada sobre o caso dos Patterson— ele comentou afrouxando a gravata —Fiz uma promessa para Peter Patterson e não consigo cumprir...

—Mas vai conseguir— ela respondeu, removendo os brincos.

—Eu não sei...— ele murmurou, cansado e cabisbaixo, sentando-se no sofá ao lado dela —Talvez seja demais para mim...

—Ei, duvido muito que isso seja demais para você— ela respondeu, acariciando o rosto recém depilado, sentido os poucos traços de barba dele —Mas... Mesmo que seja, sabe se virar, não sabe?

—Eu...— ele olhou nos fundos dos olhos verdes dela e sentiu calmaria, sentiu todo o estresse dele diminuir ao modo que ela o acariciava —Sim, eu sei...

—Então faça isso.

—É— ele respirou fundo —Eu me viro, tem razão.

—Está com fome?— ela perguntou colocando as pernas no colo dele.

—Eu estou bem. Comi cachorro quente— ele respondeu com uma mão no joelho dela e a outra entre os cabelos loiros da marquesa.

—Olha, quando eu for a senhora Carter e você estiver morando aqui pra valer, vou preparar uma dieta saudável para você— ela garantiu, fazendo-o sorrir, o que a contagiou, fazendo com que ela revelasse dentes perfeitos.

—Você não existe...— ele disse fazendo seus lábios abraçarem os dela.


Em meia hora, o celular de Jasper estava tocando sob a mesinha de vidro da sala. Ele deixou o corpo seminu da loira deslumbrante e se levantou do chão, sentindo o ar gelado bater em seu tórax desprovido de vestimenta.

—Eu tenho uma pista!— informou Richard Bullock assim que Jasper atendeu o telefone. Pelo que ele podia ouvir pelo telefone, seu parceiro estava em um local muito movimentado, devido ao alto som de múltiplas conversas e drinques batendo —Me encontra na Quatro com a Grundy em meia hora

—Estou indo— ele afirmou, desligou o celular e observou Ivy, no chão, deitada em um sono calmo. Incrível como até adormecida Jasper via a beleza devastadora dela.


Eram seis da manhã quando Jasper, já em novos trajes, avistou o chapéu de detetive de filmes em preto e branco do Bullock no local combinado. Assim que se aproximou o parceiro, sentiu um forte cheiro de álcool e o viu com uma garrafa de alguma bebida com as mesmas substâncias, que ele logo atirou longe e tentou, duas vezes, se levantar.

—Você está bem?— perguntou Carter, vendo os olhos vermelhos dele.

—Vou ficar— Bullock repondeu, groque —Só bebi um pouco.

—Bullock...— Jasper o repreendeu, tomando uma expressão paterna.

—A Hannah ficou sabendo de algo— ele informou, variando entre um lado e outro, como se decidisse para que lado ia cair —Disse que tem um cara tentando vender um cordão de pérolas antiquado com armação de ouro com dois fios quebrados

—Como o que a Donna Patterson estava usando— respondeu Jasper, seriamente.

—Isso mesmo. O nome dele é Bruce Moody...

Guiado por Bullock, enquanto o sol começava a dar as caras em meio à fumaça que guardava a cidade, entraram em um prédio clássico que abrigava alguns apartamentos. Enquanto subiam as escadas de madeira e passavam pelas portas verdes e as paredes descascadas e mofadas, Bullock dizia as informações que Hannah havia conseguido para ele:

—O cara é um marginalzinho de rua com uma ficha longa. Assalto, agressão, estupro, extorsão, tráfico de drogas...

—Incrível— disse Carter, sarcástico, assim que chegaram no apartamento prometido como o de Bruce Moody.

Jasper bateu duas vezes na porta, cordialmente, e logo a mesma foi aberta. No entanto, não era Bruce Moody, como esperado, quem abrira a porta. Do contrário, para a surpresa dos olhos arregalados de Carter e os embassados de Bullock, era uma pequena garota que os recebia. Com a porta semiaberta, a garota bochechuda, de, pelo menos, dez anos, ruiva, olhos claros, cabelo, rosto e roupas sujas, os encarava com um olhar pidão e carente.

—Oi... Qual seu nome?— perguntou Jasper, atencioso, se abaixando para ficar com os olhos na altura da garota.

—Malva— ela repondeu com a voz fraca, rouca e tímida.

—Malva, o papai está em casa?— perguntou Jasper e a garota deu um passinho para trás, hesitante.

—Ele não é meu pai se verdade...— ela murmurou, assustada —E você não que falar com ele...

—Por que, Malva?— ele perguntou e viu a garota olhar para dentro da casa por um instante.

—Ele é malvado— ela sussurrou e pôde ser ouvido o barulho de um copo de vidro encontrar uma mesa de madeira.

—Quem é?— a voz masculina, rouca e potente saiu de dentro da casa.

A garota sumiu, correndo para dentro e a porta foi reaberta pelo próprio Bruce Moody. Ele era grande, gordo, tinha uma carranca na face, usava um moletom que o deixava ainda mais corpulento. Tinha uma corrente de ouro —provavelmente falso— abaixo da barba mal feita, pois o pescoço estava em falta.

—Bruce Moody?— presumiu Jasper, levantando-se —Precisamos conversar.

—Eu não fiz nada— se antecipou, arrogante.

—Então será uma conversa agradável— afirmou Carter, destemido.

3. Oktober 2023 13:10 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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