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Por mais alegre que Park Jimin parecesse ser, algumas coisas de seu passado desconhecido o perturbavam noite e dia. Sim, ele não conhecia a história de seus pais, muito menos a sua. Era como se sua vida começasse quando adolescente; essas são as únicas memórias que ele tem. Park Jimin não era muito de acreditar em destino, muito menos em amor à primeira vista — ele era bem cético para muita coisa, na verdade. Até que em um belo dia dos namorados, enquanto trabalhava no seu segundo turno na cafeteria da cidade, ele conheceu Min Yoongi, o menino estranho de cabelos azuis. É então que coisas estranhas começam a acontecer e todos os questionamentos de sua vida vêm à tona, o seu passado se fazendo mais presente do que nunca. Quem era Min Yoongi e por que tudo começou a acontecer tão de repente?


Fan-Fiction Bands/Sänger Nur für über 18-Jährige.

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From the past, to the future: to eternity.

Escrito por: @mindokyu


Notas iniciais: Olá, amorecos da Mari!

Tudo bom com vocês? Eu espero que sim! :3

E chegamos com mais uma fanfic no 2MP e essa é especial, porque, no caso, ela é a continuação de “Love to Kill”! SIM a continuação existe e ela está aqui *grita loucamente* Espero que gostem de verdade.

E, ah! Essa fanfic pode, sim, ser lida separadamente, ela consegue se manter como uma one-shot, MAS ENTRETANTO TODAVIAAA, o melhor é ler “Love to Kill” antes, para conseguir pegar todos os mínimos detalhes da história!

https://getinkspired.com/pt/story/155813/love-to-kill

Muito obrigada, Noh (@minie_swag) por ter tido toda a paciência do mundo em betar essa fanfic, por não me bater a cada ‘disse’ e por ser esse amor de pessoa comigo; muito obrigada mesmo! Quero agradecer também a Hyerix (@hyerix) por ter feito essa capa linda linda linda com todo amor e carinho!
E por último, mas não menos importante, quero agradecer do fundo do coração a todos vocês, leitores, que tiram um tempinho precioso do seu dia para ler nossas fanfics!

Bora para a leitura!


~~

Eram quase 7h da manhã quando o celular começou a tocar incessantemente uma música qualquer, o barulho fazendo o dono, demasiadamente sonolento, apalpar a mesa de cabeceira até encontrar o aparelho e desligá-lo, querendo apenas alguns minutinhos a mais na cama. Park Jimin até gostava de acordar cedo, mas ainda assim tinha certa dificuldade em sair da cama gostosa que o abraçava, ela praticamente clamava para que ele ficasse ali o dia inteiro, com suas mantas quentinhas e felpudas. Era metade de fevereiro, oras, e sabia o que isso significava: muito frio. Porém, o pequeno apartamento onde morava não se pagava sozinho, muito menos com a ajuda de seus pais, então o trabalho o esperava e o despertador estava ali para lembrá-lo disso. Sem outra opção, Jimin coçou os olhos com as costas da mão, bocejando e se espreguiçando como um gatinho, pronto para começar o longo dia.

Apesar do frio intenso que quase cortava seu rosto, coberto parcialmente pelo grande cachecol que rodeava seu pescoço, o sol brilhava forte no céu. Park Jimin amava dias assim, ensolarados e frios, estes eram seus preferidos, ótimos para fazer seu caminho diário com sua bicicleta, já que esta era uma das paixões do menino. Normalmente Jimin iria andando para a escola de dança, pois a mesma ficava muito próxima a sua casa, mas como acordou mais cedo do que o normal — colocar o despertador para tocar alguns minutos antes tem suas vantagens — resolveu fazer um caminho mais longo para refletir em como sua vida estava no momento.

Sim, Park Jimin tinha muitas coisas para refletir na vida, mas, desde o dia anterior, o que não saía de sua cabeça era a conversa que teve no final do seu turno na cafeteria onde trabalhava.

A conversa que ele próprio considerava uma das mais estranhas de sua vida.


— Boa noite, senhor. Espero que tenha tido um ótimo dia. Qual bebida vai querer? — disse Jimin, soando o mais amigável que podia. Quando terminou a frase, encarou o menino que aparentava não ser tão mais velho que ele e sorriu ainda mais quando percebeu como o outro estava. O menino o olhava com os lábios entreabertos e olhos arregalados, como se estivesse espantado. O cabelo azul claro, quase branco pelo fato da cor já ter desbotado, caía levemente por um de seus olhos. — Senhor… No que posso te ajudar? — perguntou novamente.

— Finalmente! — Foi o que recebeu em resposta do menino que sorria largo, mostrando grande parte da gengiva.

— Hm… Finalmente? — perguntou confuso. Achou toda a situação fofa, porém não podia deixar de achar estranho. Era cada cliente que aparecia por ali.

— Er… Quer dizer… oi… — Percebendo o que tinha falado, o menino do outro lado do balcão apenas balançou a cabeça, como se estivesse tentando arrumar os pensamentos. — Desculpe, eu… eu vou querer um expresso com leite.

— Sem problemas. — Sorriu Jimin, anotando o pedido. — Qual tamanho?

— Pode ser pequeno.

— Okay. — Sorriu mais uma vez para o menino de cabelo azul e sorriso sincero. — Qual seu nome, por favor?

— Yoongi, Min Yoongi — disse o menino.


Um arrepio passou pela sua espinha, quase o fazendo perder o equilíbrio em sua bicicleta.

Min Yoongi. Um simples nome que quase o tirou o sono. Quase! Porque se tem algo nesse mundo que Jimin ama fazer é dormir, raramente perdia o sono. Mas, sim, Min Yoongi, o menino que chegou bem no final de seu turno no café ontem, o menino simpático, com sorriso largo, cabelos azuis pálidos e uma boa conversa.


— Então, o que acha de sairmos algum dia desses? — perguntou Yoongi, sem nem pensar duas vezes.

— O quê? — disse Jimin, os olhos arregalados.

Por essa ele não esperava.

Park Jimin reparou no olhar felino que o outro tinha, nos lábios finos que se abriam num belo sorriso, nas mãos pequenas, onde uma delas tinha uma tatuagem que subia de seu pulso até seus dedos. Os cabelos azuis, a pele alva, tudo. Tudo nesse menino gritava “tipo exato de Park Jimin”.

Então, por que não tentar?

— Isso mesmo que escutou, vamos sair algum dia. Não precisa ser hoje, claro. Mas outro dia, que tal? — Sem delongas, Yoongi largou o copo de café em cima do balcão e pegou seu celular, entregando para Jimin colocar seu número de contato.

Jimin o olhou espantado; na verdade, ele estava, sim, encantado, como ele mesmo disse que o menino fez consigo. Ele estava encantado por esse estranho que entrou no café às 9h da noite em um dia dos namorados e o bagunçou todo por dentro.

— C-claro... Vamos marcar, sim. — disse Jimin, anotando seu número no celular do outro.

— Ótimo — disse Yoongi, por fim, terminando seu café e lançando mais um de seus sorrisos lindos. Ele amava sorrir, ele sempre amou sorrir perto de Jimin. — Te mando uma mensagem então, para marcarmos algo.

— Ficarei no aguardo, então — disse Jimin, segurando o celular perto do peito.

— Até mais, Jimin-ssi.

— Até, Yoongi-ssi.


Nunca, em toda sua curta vida de 25 anos, alguém o chamou para sair, assim, sem nem o conhecer direito. Jimin sabia que era bonito, seus cabelos de cor dourada como ouro reluzente, — natural, sim, senhor! — seus olhos castanhos claros, um sorriso de deixar qualquer um doidinho por si. Porra, Jimin sabia que era lindo, mas, assim… Alguém chegar tão ávido, logo pedindo o seu número e o chamando para sair? Bom, isso nunca o aconteceu antes.

E sabe o que foi mais assustador? A velocidade que Jimin aceitou toda a situação, sem pestanejar.


[...]


Era exatamente esse pensamento que rondava sua mente ao parar sua bicicleta no bicicletário de seu primeiro trabalho. Jimin era professor de dança em uma escola pequena perto de sua casa. Por maior que Seul fosse, morar em um bairro mais afastado tinha seus benefícios. Ele adorava o quão aconchegante era o lugar que lecionava, adorava principalmente o fato de ser aceito sem nem mesmo terminar sua faculdade de dança.

Dizer que seu dia era corrido era quase uma piada. De manhã dava aulas, na parte da tarde estudava e, para completar, fazia um turno de algumas horas na cafeteria vizinha a seu apartamento. Jimin precisava do dinheiro para se manter e pagar a faculdade, seus pais não tinham tanta grana assim para continuar bancando o menino mesmo depois de ele sair de casa. Ele amava demais seu pequeno apartamento, era tudo o que mais prezava no momento.

Então, se precisasse se desdobrar em cinco para fazer acontecer, ele se desdobraria.

O ar morninho da escola o abraçou, acolhedor. Os corredores estavam cheios de bolsas de seus alunos e alguns sapatos jogados pelo corredor. Era uma casa pequena que fora transformada em escola. A dona amava a dança e não pensou duas vezes ao abrir uma escola para crianças. A paixão pelo lugar também foi instantânea com Park Jimin, que aceitou o pedido para lecionar ali assim que foi lhe dada esta opção.

— Tio Chim! Tio Chim! — escutou ao longe uma voz fina e fofa o chamar. Era Ahra, uma de suas alunas mais dedicadas. A menina, de rabinho no cabelo e lábios pequenos e rosados, corria em sua direção, abraçando-o pela cintura. Era o único lugar que ela alcançava, e Jimin achava isso adorável.

— Bom dia, Ahra! Como está, minha pequena? — Terminou de abraçar a menina, segurando sua mãozinha e andando em direção à sala. — Espero que esteja animada para a nossa aula de hoje.

— Eu tô muito, Chim! — dizia Ahra, pulando e andando até a sala. — Eu amo sua aula, eu amo muuuuito. — Fez um bico para falar “muito”, quase fazendo Jimin apertar as bochechas fofas da menina. O autocontrole que ele tinha que ter era gigante, todos seus alunos eram fofos demais e ele queria apertar todos, um por um.

— Então, vamos logo começar, que tal? — Abaixou-se para abraçar a menina, que mesmo assim continuava a pular, deixando a cena um tanto quanto engraçada.

Park Jimin era feliz, muito feliz.

Um dos momentos que trazia esse pensamento à tona era quando ele parava para olhar suas crianças. Sim, as crianças dele. Jimin tinha um carinho gigante pelo trabalho que fazia na pequena escola.

Sua vida não era das mais fáceis, porém não era das mais difíceis. Quando parava para analisar, conseguia entender que tivera muita sorte, seus pais ajudavam com o que podiam e ele conseguia se manter, por mais que sobrava pouco tempo para seu lazer.

Porém, tudo tem seus dois lados, e aquilo que o trazia tanta paz, também era parte de seu tormento.

Em meio a pensamentos tão belos, os seus pesadelos mais profundos apareciam, quase fazendo com que seu belo sorriso sumisse.

Observar suas crianças dançando a coreografia que acabou de ensinar o deixava muito feliz, mas era exatamente nessa hora que seus maiores demônios apareciam.


— Mãe, por que eu não tenho nenhuma foto de criança? — perguntou Jimin, no alto de seus 18 anos, jogado no sofá, enquanto folheava algumas fotos antigas que sua mãe pegara para limpar.

— Que besteira, meu filho! — respondeu a Sra. Jung. Os olhos vertidos para qualquer coisa que não fosse o filho adolescente. — Claro que temos fotos suas.

— Mãe, tem fotos apenas da minha adolescência. — perguntou sem tirar os olhos das fotos que tinha em mãos. Todas elas eram de quando tinha mais de 10/11 anos, nenhuma outra foto datava anos anteriores.

— Talvez estejam em outras caixas, meu filho. — Apressada, juntou todas as fotos de cima da mesa e as guardou, pegando até mesmo as que estavam nas mãos de Jimin.

— Mas, mãe…

— Nada de “mas”, querido. Chega dessa história de infância que você sempre tenta falar. — Ela não estava brava, mas sempre reagia desse jeito quando Jimin começava a falar de sua infância. Ela sempre fugia. — Você não acredita na sua mãe?

Em segundos, nenhuma foto podia ser vista naquela sala. Todas já estavam devidamente guardadas.

Cansado, Jimin nem tentou retrucar, era sempre a mesma coisa, sempre a mesma história.


A música animada tocava ao fundo, as crianças dançavam de um lado para o outro, pulando no ritmo da mesma e fazendo a coreografia que acabaram de aprender. Ao ser chamado mais uma vez por um de seus alunos, Jimin saiu de seus devaneios e voltou para a realidade. Chacoalhou a cabeça, tentando a todo custo tirar os pensamentos ruins que o invadiam e finalmente prestar atenção no que o seu aluno perguntava.

— Tio, Jimin! Tio! — Seu aluno, Haehyun, puxava a barra de sua camiseta. — Podemos começar a música de novo? Eu gostei muito dessa dança.

— Claro, querido — disse Jimin, saindo de perto da janela onde havia se posto a observar a rua e seus devaneios. Precisava focar em suas crianças, em sua aula. Chega de ficar perdido em pensamentos tristes. — Vamos do começo, todo mundo — falou mais alto, fazendo as crianças ao seu redor prestarem atenção em si.

Mas, o fato era que, toda vez que estava perto de suas crianças, este pensamento em específico o atormentava.

Park Jimin não tinha nenhuma prova de sua infância, nada, nem uma foto sequer. Podia ser tudo coisa de sua cabeça, mas não tinha como não achar tudo muito estranho.

Como seria possível alguém não ter tido infância? Não fazia o menor sentido.


[...]


As aulas da manhã foram incríveis e, como sempre, conseguiram deixar o seu humor melhor e aquela tristeza repentina que o abateu ficou de lado. Estava pronto para continuar com seu longo dia.

Não tinha muito tempo para comer entre uma atividade e outra, então passava rapidamente em uma padaria próxima e pegava um lanche para comer na faculdade. Sabia que por trabalhar muito com seu corpo, sua alimentação tinha que ser a mais saudável possível. Esse era um ponto que Jimin sempre prometia melhorar, mas ainda não tinha conseguido cem porcento.

— Mas vai pegar um lanche de novo, Jimin-ssi? — Era Hoseok quem falava, o menino alegre que sempre o atendia na lanchonete em seu caminho. Nem precisou de muito para ficarem amigos, se é que podiam se chamar assim. Hoseok tinha uma personalidade tão alegre e convidativa, daquelas que combinava com a sua automaticamente. Jimin normalmente comparava Hobi ao sol, de tão alegre e quente que o menino era.

— Sim, Hobi-ah. Não vou ter tempo, tenho uma prova teórica em menos de meia hora e preciso chegar correndo na faculdade.

— Você precisa se cuidar, garoto. Não pode ficar se enchendo de pão. — Soava preocupado, o outro. Apenas queria o bem do menino de cabelos dourado que sempre fez questão de cuidar, por mais que este não se lembrasse de nada.

— Juro de dedinho que da próxima vez eu pego uma salada.

— Jura mesmo? — perguntou Hoseok, desconfiando do menino.

— Juro! Agora eu preciso sair correndo.

— Cuidado, Jimin-ssi. Vai com calma, menino — disse rindo, despedindo-se do outro em seguida.


[...]


O dia passou corrido, como todos os outros. Jimin sabia que talvez não fizesse bem — a longo prazo — viver tão intensamente assim, mas era o único jeito que ele conseguia levar a vida no momento. Era bom, pensava ele, já que não tinha tempo para pensar em seus problemas.

Entre a ida da faculdade para o café, onde finalmente finaliza seu dia, pegou seu celular esquecido no fundo da mochila. Park Jimin era conhecido por seus poucos amigos como aquele que nunca respondia mensagens ou atendia ligações. Ele era desligado nesse quesito e, muitas vezes, se sentia mal por ficar tão distante.

Jeongguk e Taehyung que o diga! Os dois meninos, colegas de sala de Jimin, nunca perdiam uma oportunidade de aporrinhar o de cabelos dourados.

Não era sempre que tinha mensagens à sua espera, não tinha muitos amigos, seus únicos contatos sendo o de seus pais e seus poucos colegas de faculdade e trabalho.

Porém, naquele dia, havia uma mensagem de um número desconhecido. Cerrou o cenho, abrindo a mensagem depressa, a curiosidade o ganhando, como sempre. Até que a confusão saiu de sua mente quando lembrou quem poderia ser e, pelo conteúdo da mensagem, provavelmente estava certo.


Olá, Jimin-ssi.

Desculpa a demora para entrar em contato, mandar essa mensagem, que seja. Bem… espero que possamos nos ver de novo, em breve… Espero.

Até mais.


Jimin apenas riu enquanto lia a mensagem confusa, desengonçada, até. Provavelmente era Yoongi, claro, ele não se encontrou com mais ninguém sem ser o menino de cabelos azuis. Mordeu os lábios, relendo a curta mensagem desde o começo. Não fazia tanto tempo que a tinha recebido, dessa vez não se sentindo tão culpado por largar o celular no fundo da mochila, esquecendo-se completamente do aparelho. Não muito depois, assustou-se com o barulho estridente de mais uma mensagem chegando.


Esqueci de avisar que sou eu, Min Yoongi.

Eu sou mt burro mesmo.

Dsclp.


Não precisava ter nenhuma assinatura para saber, claro. Mas resolveu responder o menino, escrevendo o seguinte:


Olá, Yoongi-ssi.

Eu não respondi antes porque não sabia quem era, me assustou um pouco.

Tbm quero te ver de novo, espero que consiga passar no café mais vezes.

Jimin.


Ao reler a mensagem, sentiu um frio na barriga. Não era nada de seu feitio cair na lábia de qualquer menino bonito que aparecesse no café ou até mesmo na faculdade. Outro arrepio passou por seu corpo quando apertou enviar.

Fazia muito tempo que Park Jimin não se deixava levar. Seu coração estava quentinho ao responder Yoongi desse jeito, então ele assim o faria.

Mais um barulho pôde ser ouvido, mais uma mensagem em seu celular.


“Foi mal se te assustei, esqueço dessas coisas, não sou tão bom com tecnologia.

Você vai estar no café hoje?


Olhou ao redor, reparando que estava parado no meio da calçada, enquanto pensava no que responder. Tinha que apertar o passo se quisesse chegar no horário para seu turno no café. Então, apenas respondeu:


Sim, vou estar.

Te espero lá.

Jimin.


Assim que apertou enviar, guardou o celular na mochila, andando o mais rápido que podia. Se Yoongi ia ser direto, Jimin também ia fazer a sua parte.

Sim, o menino sabia que era estranho, mas algo em Yoongi o chamou atenção de um jeito que nunca tinha acontecido antes.

Já tinha deixado tantas chances de achar alguém passar, por puro medo de sua parte. Não iria deixar essa passar. Pela primeira vez na vida, iria fazer o que seu coração mandava.


[...]


Os passos apressados deram certo, já que chegou faltando um minuto para seu turno começar e só ganhou um olhar feio de seu chefe. Correu para a sala dos funcionários para se trocar, colocando o avental do trabalho. Ajeitou o cabelo por debaixo da boina que sempre usava como parte do uniforme, sorrindo para o espelho. Por mais que não quisesse admitir, sabia que a cor rosada em suas bochechas não era por conta da corrida, não mesmo. Ele estava deveras ansioso para encontrar Yoongi naquela noite.

O relógio brincava consigo, Jimin tinha certeza. A cada vez que olhava, parecia que o ponteiro não tinha se movido um segundo sequer. Bufou sabe-se lá quantas vezes enquanto fazia os pedidos que iam chegando. A cada copo que pegava, olhava ansiosamente para o nome e, quando não via o nome que tanto esperava ali, bufava mais uma vez.

— Você está bem, Jimin? — perguntou seu colega de trabalho, olhando-o preocupado. Era bem perceptível a cara um pouco fechada do menino enquanto preparava os cafés, por mais que tentasse esconder.

— Estou sim, Choi — respondeu, forçando um sorriso. — Eu só estou cansado. — Foi tudo o que se propôs a responder.

— Hum, tudo bem, então. Se precisar de algo, me avise.

— Obrigado — disse, findando a conversa que não estava muito afim de ter.

As esperanças já nem existiam mais quando o relógio batia 9:50 da noite. As portas estavam prestes a serem fechadas, seu colega já tinha saído de seu posto e só restou o menino ali, sozinho, para fechar a loja.

Até que o barulho da porta se abrindo o pegou de surpresa.

— Desculpa a demora. — Foi a primeira coisa que ouviu a pessoa que acabara de entrar falar. Ainda estava de costas, mas não precisava se virar para seu coração ficar mais calmo, a ansiedade agora o pegando por outro lado.

— Eu pensei que não viria mais — disse enquanto terminava de lavar um copo que estava na pia. Calmamente, virou-se para o balcão, encontrando Yoongi debruçado sobre o mesmo.

— Eu disse que viria, não disse? — perguntou Yoongi, a respiração ofegante como se tivesse corrido para chegar ali.

— Não, você não disse. — Relembrou-se das mensagens trocadas mais cedo. — Eu que disse que estaria aqui, o que é óbvio, já que eu trabalho aqui. — Segurou o riso, queria soar mais sério do que estava se sentindo, seu coração acelerado demais para conseguir conter a felicidade.

— Pensei que a minha pergunta estava clara — finalizou Yoongi, não querendo prolongar esse assunto. — Tem como me fazer um café? Ou já está fechado?

— Já está fechado, mas para você eu abro uma exceção. — Jogou o pano de cozinha que tinha em mãos sobre os ombros. — Vai querer o quê?

— Só um expresso com leite, está bom.

— Não está muito tarde para tomar um expresso? — perguntou Jimin, não esperando a resposta e indo fazer o pedido do cliente.

— Não, eu não durmo cedo — respondeu Yoongi, simplório. — Aliás, muito bom saber que abrirá uma exceção para mim.

— Isso não significa nada — brincou Jimin, ainda de costas, fazendo seu trabalho. — Você é um cliente, Min Yoongi. Temos que tratar os clientes bem.

— Um cliente que consegue exceções não é um só mero cliente.

Sem que Jimin percebesse, Yoongi passou para a parte de trás do balcão, assustando-o quando apareceu bem ao seu lado.

— Min Yoongi, pelo amor de Deus, não pode ficar aqui! — Sua voz saiu fina e acusatória. Se alguém os visse ali, levaria uma advertência com toda certeza. — É proibido!

— É Deuses, não Deus — respondeu Yoongi. — E o proibido é muito mais gostoso, não é mesmo?

— O quê? — perguntou, incrédulo com o que tinha ouvido. Ficou confuso com a resposta que o menino de cabelos azuis lhe deu.

— Nada, deixa quieto. — Sorriu ladino, mudando de assunto novamente. — Quero aprender como se mexe nessas máquinas todas.

— Por quê?

— Curiosidade, ué! Não pode? — respondeu Yoongi, chegando mais perto de Jimin e pondo-se a observar cada passo que o menino fazia. Não pôde deixar de observar também como as bochechas do loiro ficaram rubras de repente.

Yoongi amava aquele rosto envergonhado, a saudade com que estava de beijá-lo chegava a doer no peito. Respirou fundo, não deixando que tais pensamentos o tomassem por completo, focando apenas no momento presente, no menino que tanto amava fazendo seu café às quase 10h da noite.

— Você não tem jeito mesmo — disse Jimin, voltando sua atenção para o preparo da bebida. Não queria demonstrar como seu corpo reagia apenas pelo fato de ter Yoongi perto de si. Não queria se deixar levar por esses pensamentos de como seu coração acelerou apenas com a presença do menino de cabelos azuis.

Os dois estavam sentados um de frente para o outro, perto da janela. A rua estava bem mais calma do que o esperado; por mais tarde da noite que fosse, o movimento costumava a ser maior. O sinal de fechado já estava pendurado na porta do café, as luzes estavam, em sua maioria, apagadas, deixando o ambiente bem aconchegante. Jimin não conseguia desgrudar os olhos de Yoongi por um segundo sequer, seguindo, curioso, cada movimento que o outro fazia. Um simples levantar de dedo ao levar a xícara aos lábios, os olhos se fechando enquanto sorria.

Deus, por que Jimin estava com tanto sentimento bom dentro de si?

— Então você não trabalha? — Os assuntos eram leves, casuais, apenas para se conhecerem melhor. Jimin queria conhecer Yoongi melhor.

— Sim e não — respondeu Yoongi, não querendo falar muito sobre sua vida. — Eu tenho uma herança do meu falecido pai, mas eu escrevo.

— Oh, que legal! — Jimin apertava uma mão na outra, sem ter muita certeza de onde colocá-las. — Escreve por lazer ou como trabalho?

— Os dois. — Yoongi tomou mais um gole de seu café. — E você? Além de ter o dia todo ocupado, o que faz nas horas vagas?

Jimin riu com o modo que o outro disse, mas deveria chorar por ser a mais pura verdade.

Aish! Eu gosto de trabalhar, me ocupa a mente.

— Do quê?

— De certas coisas que eu não quero pensar — respondeu Jimin, sendo o mais sincero do que pretendia ser.

Yoongi ficou sério de repente, findando seu café e largando a xícara na mesa. Segurou as mãos inquietas do menino, olhando-o no fundo dos olhos.

— Eu sei que… a gente não se conhece tão bem... — Yoongi respirou fundo, fazendo uma pausa em sua fala, o medo de deixar escapar alguma coisa que não devia era grande demais. — Mas pode contar comigo, tá?

O calorzinho bom subiu por todo corpo de Jimin ao ouvir o que o outro disse.

— Obrigado, de verdade — agradeceu Jimin, apertando as mãos entrelaçadas nas suas. — Eu… eu não sei o que é ainda, mas… algo em você me acalma.

O pobre coração de Yoongi falhou uma batida ao ouvir tal confissão, segurou as lágrimas — ainda escuras — que teimavam em querer cair toda vez que pensava em Jimin.

— Que bom, eu fico feliz de saber disso.

Deixou um leve selar nos nós dos dedos de Jimin, rezando para todos os Deuses para que a dor de seu coração não pudesse ser sentida pelo outro.


[...]


Já passava de meia-noite quando Park Jimin chegou ao seu apartamento, a conversa com Yoongi durou mais do que o planejado. Ficou combinado de saírem de verdade no sábado, dia em que Jimin tinha folga de todos seus afazeres, mas o menino de cabelos loiros não precisou que esse dia chegasse para sentir o coração pulsar forte pelo outro. A conversa que haviam acabado de ter já fez esse serviço muito bem feito.

Acendeu a luz da sala, largando suas coisas no pequeno sofá e indo direto para o banheiro. Precisava de um banho para relaxar depois do longo dia que teve. Sua mente estava por todo o lugar, uma bagunça de pensamentos, bons e ruins. Um banho morno seria uma boa solução para amenizar tudo o que sentia. Mas, ao tirar a camiseta, percebeu algo de muito estranho acontecendo ali. Em seu peito, havia uma marca, pequena, que se assemelhava a um coração com uma flecha passando bem ao meio. Claro que era apenas parecido, a marca não era exatamente nítida, mas Jimin gostava de pensar que ela era, sim, um coração. Porém, hoje ela estava diferente; a cor natural dela era quase branca, como qualquer outra marca de nascença, mas, naquela noite, ela estava avermelhada, a pele no local estava irritada, como se Jimin tivesse passado a mão repetidas vezes.

O que mais cedo naquele dia Jimin pensou ser o calor em seu peito, era na verdade um incômodo em sua marca.

— Eu preciso mesmo de um banho — comentou consigo mesmo, terminando de se despir e ligando o chuveiro.

Não sabia ao certo o que sentir, o que pensar, por mais que dúvidas tenham o assombrado naquele dia, Jimin estava cansado, exausto e queria só terminar seu banho e dormir.

Deixaria todas as suas preocupações para depois.


-x-


O sol leve do inverno brincava no céu claro e sem nuvens, pronto para se pôr. Era sexta-feira e Jimin estava no jardim de sua faculdade, aproveitando o tempo livre antes de ir para o café com seus dois amigos, Jeongguk e Taehyung. Ambos cursavam História, e Jimin só agradecia a qualquer força do universo por tê-los colocado em seu caminho.

— Você está com uma carinha preocupada, Chim — comentou Taehyung, deitando nas pernas de Jeongguk. Os três garotos estavam debaixo de uma árvore, aproveitando o dia lindo e frio que fazia em Seul.

— Eu estou um pouco, Tae. Mas não é nada de grave, não se preocupe — Acalmou o menino que o olhava sério. Não queria deixar seus amigos preocupados por nada, era besteira sua se apegar a coisas desse jeito. A mente de Jimin funcionava assim, muitas vezes ficava remoendo sentimentos dentro de sí.

— É pelo mesmo motivo que você não para de olhar seu celular? — perguntou Jeongguk, que acariciava lentamente os cabelos marrons de Taehyung.

— Como assim?

— Você está com a fuça enfiada nesse celular desde o começo da semana, queridão. — Sorriu Jeongguk. Sabia que o menino loiro estava escondendo algo, e sendo ele Jeon Jeongguk, filho de Afrodite, sabia que era o coração de Jimin que estava sofrendo. — Vai, desembucha quem roubou seu coração.

Ao ouvir as palavras saindo dos lábios de Jeongguk, Taehyung deu um leve tapa em sua perna, chamando sua atenção. E só então Jeongguk percebeu como tinha falado a frase.

Eita, porra!

— Ninguém roubou meu coração… Eu acho — respondeu Jimin, voltando o olhar para os meninos com caras de espanto perto de si. — O que foi? Por que essas caras? Viram um fantasma, foi?

— N-não… Não foi nada… — Foi Taehyung quem retomou a conversa, querendo logo mudar de assunto para não piorar a situação. — Mas, então, o que aconteceu?

Jimin respirou fundo, baixando o olhar para o chão, observando a graminha verde clara que cobria toda essa parte do campus. Ele não queria admitir que Yoongi chegou do nada e mexeu com seu mundo de um jeito extremamente diferente, se ele falasse isso em voz alta se tornaria real, não é mesmo? Mas, também, Taehyung e Jeongguk eram seus únicos amigos e talvez tivessem como ajudar com toda a confusão que se formava dentro de si.

— Eu conheci alguém…

— Eu sabia que era macho! Vai, conta tudo! — declarou Jeongguk, quase dando um pulo de felicidade e levando Taehyung junto consigo.

— Hey! Cuidado, Gukkie! Quase me machucou — Taehyung coçava a cabeça dolorida pelo quase pulo do menino mais novo.

— Nem se animem muito, nem se animem muito — aquietou-os Jimin, arrumando-se melhor em sua posição, pronto para contar o que estava guardadinho em seu coração. — Eu o conheci no café onde trabalho, sabe?

— Ai. Meu. Deus. A fanfic começa no café! Estou animado! — comentou Jeongguk.

— Cala a boca, fanfiqueiro. Deixa o Jimin falar — Taehyung deu um peteleco na cabeça do menino. Essa criança não podia ouvir uma história de amor que já ficava todo ouriçado.

— Então, como eu ia dizendo… — Fez uma pausa, olhando de olhos semicerrados para Jeongguk. — Eu o conheci no café e nós estamos conversando. Passamos o começo da semana nos falando por mensagem.

— Só por mensagem? — Foi Taehyung quem o interrompeu dessa vez.

— Não, nós conversamos pessoalmente uma vez, por mais tempo, quero dizer. — Jimin gesticulava com as mãos enquanto falava, era bom demais finalmente colocar todo esse sentimento para fora. — Mas nós marcamos um encontro amanhã.

— Um encontro?! — berrou Jeongguk, dessa vez derrubando Taehyung no chão.

— Caralho, Gukkie! — choramingou Taehyung com a cara enfiada na grama. Esse menino era impossível mesmo.

— Acho melhor sentar direito, Tae, ou ele vai acabar com você — aconselhou Jimin, rindo da situação.

— Desculpa, bebê, mas você sabe que eu não aguento ouvir uns romances assim e ficar de boa! — disse Jeongguk, ajudando Taehyung a se sentar.

— Nós sabemos, e eu te conheço há muitos e muitos anos para saber disso — resmungou Taehyung.

— Tá, mas então… Amanhã é o grande dia? — perguntou Jeongguk.

— Sim, sim. Nós vamos jantar em um restaurante no centro da cidade. — As grandes e fofas bochechas de Jimin começaram a esquentar, a colocação rosa ficando aparente em segundos.

— Awn, que amor!!! — Jeongguk quase não se aguentava de felicidade. Há tempos queria saber como andava a vida amorosa de Jimin, mas o menino sempre desconversava falando que não tinha ninguém no momento.

— E como é o nome do felizardo? — perguntou Taehyung. Até mesmo ele estava começando a ficar animado.

— Min Yoongi.

O silêncio reinou nos segundos seguintes, Taehyung e Jeongguk não podiam acreditar no que estavam ouvindo.

— Como? Repete o nome, eu não sei se entendi direito — pediu Taehyung, forçando um sorriso.

— Min Yoongi, ué. É o nome dele. — Ou Jimin não percebeu a cara de desespero dos meninos, ou ele fingiu muito bem. — Ele chegou no café um dia desses e começou a conversar comigo. Logo de cara percebi que ele estava meio que flertando comigo e, por algum motivo desconhecido por mim e pelo universo, resolvi dar bola — disse de uma vez só. — Nada de muito incrível, não, podem sossegar esse fogo de vocês.

— T-tá… É… — A animação de Jeongguk já não era mais a mesma, a preocupação tomando conta de suas feições. — Mas toma cuidado, tá?

— Ué, pivete, não era você mesmo que, minutos antes, estava todo animado? — questionou Jimin, começando a perceber o clima estranho que pairava entre eles. — O que foi?

— Nada, nada! É besteira desse menino avoado — respondeu Taehyung, dando uma beliscadinha na perda de Jeongguk. — Aproveite muito o seu encontro amanhã.

— Tá… Eu vou. — Jimin estava confuso com a mudança repentina de atitude dos dois amigos, mas a hora tinha passado rápido demais e já tinham que ir embora. — Vamos andando, preciso trabalhar. — Levantou-se e limpou as vestes sujas pela grama fraca de inverno.

— E nos conte como foi, tá? Conta tudo! — ordenou Jeongguk, um pouco mais invasivo do que de costume.

— Vocês estão muito estranhos! Eu, hein! — Cruzou os braços, fechando a cara. — Eu sei que eu nunca falo dessas coisas com vocês, e eu até pensei que ficariam animados.

— Nós estamos animados! — disse Taehyung, cortando a linha de pensamento de Jimin.

— Mas depois que eu falei o nome dele parece que tudo mudou! — O olhar do loiro era bravo. — Vocês o conhecem, por algum acaso?

— Não! — responderam rápido demais, em uníssono.

— Então não têm motivo para ficarem preocupados — concluiu Jimin, baixando um pouco o tom de voz. Estava exausto demais mentalmente para brigar com seus dois únicos amigos. — Eu sou bem grandinho e sei me cuidar.

— Grandinho onde? Tô vendo não! — E lá estava o Jeongguk brincalhão que Jimin tanto gostava.

— Te dou cinco segundos para correr, pirralho!


[...]


Naquela mesma noite, Taehyung e Jeongguk estavam na casa que ambos compartilhavam, deitados, prontos para dormir, até que Taehyung não aguentou mais evitar o assunto que estava preso dentro de si desde aquela tarde.

— Eu estou preocupado, Gukkie — comentou, virando-se para o menino ao seu lado. — Eu não acredito que Yoongi conseguiu achar Jimin.

— Eu também tô, Tae — respondeu Jeongguk, abraçando-o forte. Estava com medo do que poderia acontecer, das consequências que poderiam cair sobre todos por conta disso. — Eu pensei… Eu pensei que depois de tudo o que aconteceu, Yoongi seria proibido de sequer chegar perto de Jimin.

— A culpa não foi dele, Gukkie, você sabe.

— Eu sei, eu sei! — O olhar incrédulo do menino se fazia presente em suas feições. Foi tão difícil perder Jimin uma vez, não queria perder o amigo de novo. — Não foi culpa dele, mas ele o matou, Tae!

— E se arrependeu! Ele abriu mão da eternidade, aceitou todas as punições.

— Ele não deveria vir atrás do Jimin, Tae!

— Você não iria atrás de mim? — perguntou Taehyung, soltando-se do abraço do namorado.

— É diferente, Tae-ah — respondeu Jeongguk, respirando fundo e fechando os olhos. — Desde o Olimpo aquele filho de Hades de uma figa não tinha nada com Jimin!

— Pelo amor de Zeus, Jeongguk! Eles se amavam, eles se amam! — falou Taehyung, sentando-se na cama. — Me surpreende você, mais do que qualquer pessoa, não entender isso.

— Eu sou filho de Afrodite e consigo sentir o amor verdadeiro, sim — disse Jeongguk, um tom mais sério em sua voz. — Mas eu ainda não consigo…

— Amor, olha pra mim — Taehyung levou as mãos ao rosto branquinho do menino, que tentava a todo custo desviar o olhar do mais velho. — Deixa os dois se entenderam, tá?

— Eu só não quero que alguma coisa de ruim aconteça.

— Não vai acontecer. — Deixou um leve selar nos lábios que tanto amava beijar. — E se acontecer, a gente resolveu vir para a Terra para ajudar, não é mesmo?

— Sim, nós… nós viemos ajudar.

— Só confia, tá? Confia no amor, por favor — pediu Taehyung, dando um fim no assunto, colando seus lábios nos de Jeongguk.


-x-


Ser acordado naturalmente pelo sol da manhã era muito melhor e efetivo do que pelo barulho do despertador. Finalmente o tão esperado sábado chegou, dia que teria seu primeiro encontro com Yoongi. Dizer que Jimin estava animado era uma besteira, ele estava radiante. As preocupações de outrora foram amenizadas com uma bela noite de sono, seu coração finalmente entendendo que era hora dele tomar conta de seus sentimentos e deixar-se guiar por seus instintos.

Aproveitou o começo do dia para ajeitar toda a casa, mandar mensagem para os pais perguntando como estavam, até mesmo mandou mensagem para o casal de amigos que tanto amava. Por mais estranha que fora a última conversa que tiveram, falar tudo em voz alta ajudou Jimin a entender seus sentimentos.


[...]


A cada tiquetaquear do relógio, o coração de Jimin pulsava mais forte e a ansiedade crescia. Já estava banhado e pronto para sair de casa, olhando mais uma vez no espelho para ter certeza de que tudo estava nos conformes. Escolheu uma roupa especial para a ocasião, mas que ainda gritasse “Park Jimin”, queria mostrar como realmente era para o menino à sua espera. Calça jeans preta, bem colada ao corpo e com um rasgo na altura do joelho, uma blusa felpuda branca de gola alta e um grande sobretudo preto, para o proteger do frio. Os cabelos dourados estavam jogados para trás, deixando sua testa à mostra. É, ele estava pronto para encontrar Min Yoongi.

O restaurante que combinaram era perto de sua casa, então nem precisou pedir um carro para o levar até lá, alguns minutos caminhando já resolvia esse dilema. Não fazia ideia se era perto de onde Yoongi morava, não sabia ainda desse detalhe, mas, se a sorte estivesse a seu favor, saberia em breve.

Ficou parado na frente da porta do lugar por uns 10 minutos, até que sentiu uma mão o tocar na cintura, levando um susto com o ato.

— Demorei? — perguntou Yoongi. Jimin virou-se ao ouvir a voz do outro, mas as mãos do menino de cabelos azuis não o largaram nem com o movimento repentino.

— Não, eu acabei de chegar. — Sorriu Jimin, os olhos virando duas linhas crescentes com o ato. — Oi! — cumprimentou, sem saber como continuar a conversa.

— Oi. — Riu Yoongi, achando graça na situação. — Vamos entrar? Fiz uma reserva para nós.

— Uau, que chique! Uma reserva para nosso encontro — brincou Jimin, acompanhando os passos de Yoongi até a entrada do lugar. O restaurante não era nada chique, mas era um daqueles que gritava “primeiro encontro de casais!”. Era bonito e aconchegante, todo iluminado por velas e luzes baixas.

— Eu tenho que impressionar meu date.

— Será que conseguiu? — desafiou Jimin. Algo dentro de si gostava de desafiar Yoongi, não sabia o porquê.

— Pelo seu olhar perdido e sorriso que não sai desses lindos lábios, eu tenho certeza que sim.

Aish, bobo! — Deu um tapa no braço de Yoongi. — Eu tô feliz, é isso.

— Feliz por sair comigo?

— Sim, feliz por sair com você — respondeu Jimin, olhando nos olhos de Yoongi.

Sem muita demora foram levados para a mesa onde iriam jantar. Ela era mais afastada, toda decorada com flores e velas.

— Acho que não tiveram tempo de tirar a decoração de dia dos namorados — comentou Yoongi, folheando o cardápio.

— Estão aproveitando a época para ganhar mais dinheiro — respondeu Jimin, fazendo o mesmo que o outro menino. — E o dia dos namorados nem faz tanto tempo assim.

— Foi o dia que nos conhecemos — comentou Yoongi, baixando o livreto em suas mãos e olhando para Jimin. — Seria isso um sinal dos Deuses?

Min Yoongi falou como uma piada, claro, porque se os Deuses fossem mandar um sinal, obviamente não seria esse, muito menos seria encontrar Jimin dentre todas as pessoas de Seul.

— Será que os Deuses, como você diz, queriam que a gente se encontrasse? — como se lesse a mente de Yoongi, Jimin respondeu. O menino de cabelos azuis o olhou estranho, com medo de deixar escapar qualquer coisa.

Uma das punições era nunca fazer com que Jimin lembrasse de sua vida passada.

— Eu acho que foi um sinal sim, mas talvez não deles.

— Você acredita em mais de um Deus? — perguntou Jimin, a curiosidade fazendo-se presente.

— Acredito.

— Tipo… Buda? — questionou Jimin.

— Não, tipo… Zeus, Afrodite, Hades… — Ao citar os nomes dos Deuses do Olimpo, uma fisgada em sua mão direita pôde ser sentida, a mão onde tinha a marca.

— Tipo Mitologia Grega? — perguntou Jimin, espantado com a crença do outro. Era deveras interessante que em pleno 2020 alguém acreditasse em Mitologia Grega.

— Sim, exatamente isso.

Park Jimin não era alguém que indagava a crença das outras pessoas, sabia que cada um tinha a fé que lhe convinha, mas ficou muito curioso para saber mais sobre esse lado de Yoongi. Mas, assim que a pergunta lhe veio à mente, fora interrompido pelo garçom.

— Estão prontos para pedir? — indagou o garçom, olhando-os com o rosto mais amigável possível.

— Sim, sim. — respondeu Yoongi, percebendo como o moço que trabalhava ali estava impaciente, já que fazia uns belos minutos que estavam segurando o cardápio.

Min Yoongi ficou grato pela interrupção, não era um assunto que queria tratar agora, muito menos deixar o outro curioso sobre isso. O medo de acabar estragando a chance que teve era grande.

Assim que o pedido foi feito, não demorou muito para a comida chegar e a conversa mudou de rumo, indo para um lado muito mais casual. Jimin relaxava a cada segundo que passava perto do menino de cabelos azuis, a bebida em suas mãos também ajudava a deixar o clima mais sereno, e, com isso, a mente de Jimin se deixava levar, até arriscava alguns toques na mão do menino a sua frente entre uma garfada e outra.

A comida estava ótima, o papo mais ainda. Jimin tinha certeza que ambos queriam a mesma coisa, os sinais foram bem claros. O sorriso que Yoongi não tirava do rosto só podia ter um significado, os toques que ambos deixavam na tez um do outro também eram sinais nítidos de interesse.

A luz da lua banhava a cidade pouco movimentada, enquanto os dois meninos andavam lado a lado. Yoongi gentilmente convidou Jimin para ir até seu apartamento, e claro, Jimin aceitou sem nem pensar duas vezes.

A caminhada foi curta e lenta, a conversa sobre amenidades indo de vento em polpa. Quantos anos tinham as crianças que Jimin ensinava? Era poesia que Yoongi escrevia? Música? Roteiros? Jimin tinha muitos amigos? Saía muito para festas e bares? Quais eram os livros favoritos de sua vida? Filmes? Séries? Todos esses temas foram abordados de forma superficial e profunda, suave e brusco. Tais conversam saíram dos lábios de ambos como as ondas do mar, às vezes rasas, às vezes profundas e com mais sentimentos.

— Pronto, está entregue — disse Jimin. Queria saber onde estava pisando, se tinha entendido certo os sinais que até então foram lhe dados.

— Entregue? Mas eu te convidei para entrar e subir. — Era um apartamento pequeno, bem no centro da cidade. Tinha cara de ser daqueles bem aconchegantes. Jimin estava louco para subir.

— Você me chamou para vir até aqui, não para subir — brincou Jimin, a cara de deboche que fazia era das mais cômicas.

— Você só pode estar de brincadeira, não é? — Riu Yoongi, puxando o menino pela cintura, colando mais seus corpos. — Eu quase te comi com o olhar o jantar inteiro, sério que não notou?

— Claro que notei. — Os rostos estavam tão próximos, a respiração de Yoongi podia ser sentida na pele clara do menino loiro. — Eu só queria ter certeza.

— Certeza do quê?

— De que você me quer tanto quanto eu te quero.


[...]


O sofá era pequeno demais para os dois emaranhados de corpos jogados em cima dele, beijando-se fervorosamente. Era pequeno demais para tamanho fogo que acendia com os toques lascivos que eram deixados, mãos que apertavam, lábios que mordiscavam.

Os meninos mal tiveram tempo de entrar direito no pequeno apartamento de dois cômodos de Yoongi; as luzes mal foram acesas, deixando apenas a lua banhar o lugar.

Jimin não imaginava que seu primeiro beijo com Yoongi seria tão faminto, mas um desejo dentro de si começava a crescer a cada toque que era desferido, a cada ruído que saía de Yoongi enquanto pedia passagem com sua língua. Mal tiveram tempo de entrar no lar do menino mais velho, Jimin logo avançou sobre os lábios macios do outro e lá estavam eles, seminus no sofá pequeno que habitava aquela sala. Jimin não imaginava que cederia tudo tão rápido, que ficaria duro em um piscar de olhos, que se despiria sem a menor vergonha, que arrancaria as roupas do outro ferozmente. Nunca imaginaria que esse lado, selvagem, seu existia, nem sequer que ele era tão bom nisso. Claro que já havia transado com outras pessoas, nada sério, tudo muito casual para se tornar especial. Casual como Yoongi deveria ser, porém não era isso que seu coração clamava.

O sofá era pequeno demais para o movimento incessante de vai e vem, as estocadas que Yoongi provocava eram profundas demais para se atentarem a esse detalhe. As mãos de Jimin apertavam o tecido surrado, procurando apoio, na tentativa de se equilibrar, mas as mãos de Yoongi seguravam firmemente a sua cintura, apertando a pele, fazendo o sofá minúsculo se tornar um mero detalhe para ambos meninos perdidos em êxtase puro.

Mas, quando os únicos sussurros que restavam eram as respirações descompassadas, tentando voltar ao normal depois de atingir o ápice, eles nem sequer ligaram para o pobre sofá pequeno. Pois o que realmente importava eram os dois, abraçados e jogados no sofá, ligados de corpo e alma.

Os minutos tinham virado horas e os dois continuavam deitados, nus, no sofá da sala de Yoongi. Os dedos do mais velho acariciavam os fios dourados dos cabelos do outro, pensando em quantas vezes eles já estiveram em uma situação assim, e como nenhuma delas tinham sido tão intensas quanto essa. Yoongi pensou que teria dificuldade em tocar o corpo lindo do outro quando chegasse o dia — e se esse dia chegasse —, mas assim que Jimin avançou sobre seus lábios, tomando-os para si, não teve como resistir e correspondeu o beijo da mesma forma. Deixou cada parte de seu corpo colado com o do outro, a sensação de tê-lo para si, desse jeito carnal, era uma das coisas que mais sentia falta. Ele sentia muita falta de Jimin num todo, claro, mas o sexo com ele era de outro mundo.

Jimin não conseguia pregar os olhos, sentia a leve carícia deixada em seus cabelos por Yoongi, mas não conseguia dormir. Assim que terminaram, Yoongi o convidou para ficar, e obviamente ele aceitou, mas dormir seria a última coisa que faria naquela noite. O sexo foi bom, bom como nunca imaginou que seria. O calor em seu peito — que percebeu ser novamente de sua marca — era tórrido como nunca sentiu antes. Foi incrível, intenso, delicioso ter Yoongi dentro de si. Os lábios do outro o tiravam de órbita, assim como seu corpo. Mas um pensamento incessante rondava sua cabeça, e ele não conseguiu guardar para si.

— Yoongi, está dormindo? — perguntou, percebendo que os toques em seu cabelo tinham parado, talvez o menino tivesse adormecido.

— Não, estou acordado — respondeu um Yoongi para lá de sonolento. — Quer ir para a cama? Não é muito maior que isso, mas talvez seja mais confortável.

— Não, não é isso, estou bem aqui — disse Jimin, aconchegando-se ainda mais no peito do outro.

Estavam deitados de lado, as pernas entrelaçadas, olhando um para o outro.

— Então o que quer falar? — Passou o polegar na bochecha macia de Jimin. — Está com cara de quem quer falar algo.

— E eu quero… Eu só... não sei como colocar em palavras.

— Tente, eu estou aqui para te ouvir.

— É que… hoje… — começou a falar, mas parou por um instante, mordendo os lábios, incerto do que estava sentindo. — Hoje foi ótimo e…

— Tudo? Ou o sexo em si? — perguntou Yoongi, percebendo como o outro ficou sem jeito com o que falou. Tão diferente do Jimin que conhecia.

— Tudo, claro. Quero dizer… o encontro todo, mas… agora… o que fizemos… me pareceu tão familiar — disse Jimin, baixando o olhar. — Não sei, eu não sei explicar, mas é como se… — Riu, parando de falar e pensando no quão ridículo soaria. — Eu sinto como se eu já tivesse feito isso antes…

— Você não era virgem, né? Você já tinha transado antes, né? — perguntou Yoongi, arregalando os olhos, assustado.

— Claro que sim, bobo! Não é isso, me ouve! — Desferiu um leve tapa no peito de Yoongi, que riu sem jeito. — Eu senti como se já tivesse feito isso com você.

— Comigo?

— Sim, foi… Não sei explicar. — Jimin estava frustrado. O sentimento em seu peito era tão forte, mas ele não tinha como se expressar sem se sentir ridículo. Sem escolha, voltou a falar. — Era como se, em alguma vida passada, eu já tivesse te conhecido. — Jimin voltou a encarar o menino, que agora estava sério.

Claro que Jimin teria esse sentimento, porque ele era verdade, era verdade até demais. Não podia contar a verdade para o outro, tinha muitas coisas que estavam em jogo, a vida de ambos sendo umas dessas coisas. Porra, ele não podia contar nada, nem falar como ele se arrependia de tudo e o quanto amava Park Jimin, sempre o amou.

— Talvez é só uma sensação por eu ser muito bom de cama — brincou Yoongi, dando uma mordida na bochecha de Jimin.

Aish, Min Yoongi! Você não tem jeito mesmo! — Deu mais um tapa no peito do outro. — Eu aqui, todo sério abrindo meu coração e você aí…

— Falando a verdade! — cortou a fala do outro, fazendo Jimin rir ainda mais alto.

— Bobo! — resmungou Jimin, voltando a abraçar forte o corpo despido de Yoongi, cravando seu rosto na curva do pescoço branquinho.

— Mas é a verdade, não é?

— Sim, Min Yoongi! É verdade. — A voz saiu abafada pela posição que estava, mas tinha certeza que ele tinha o ouvido bem.

— Então fala, eu quero te ouvir falar.

— Não.

— Fala!

— Não mesmo!

— Eu não vou fazer café da manhã para você — desafiou Yoongi, o tom brincalhão explícito em sua voz. — Sem ovos mexidos para Park Jimin.

— Isso é injusto! — Levantou um pouco o rosto, um bico presente em seus lábios.

— Então…

— Min Yoongi é o cara mais gostoso com quem eu já transei.

— E…

— E fode bem para caralho — completou Jimin, voltando a enfiar o rosto no pescoço do outro, sentindo o cheirinho bom que Yoongi tinha.

— Bom garoto! Terá seu café da manhã entregue na cama!

— Com beijinhos?

— Cheio de beijinhos.


[...]


O sol que era para estar brilhando no céu de inverno deu lugar a uma chuva repentina, que caía forte e barulhenta, com raios e trovões. Jimin acordou assustado com um desses raios cortando o céu e fazendo um baita barulho.

— Mas que porra? — perguntou Yoongi, os olhos ainda fechados morrendo de sono. — Que barulho é esse?

— Está chovendo! — Jimin levantou-se, nem ligando de ainda estar pelado. Olhou pela janela só para se deparar com a maior tempestade já vista. — Está chovendo muito!

— Que estranho, não é época de chuva. — Yoongi também levantou, mais devagar e sonolento, seu corpo não funcionava bem de manhã. Colocou-se do lado do menino, observando o tanto de água que caía do céu.

— Não mesmo! O inverno normalmente é seco e sem chuvas, e ontem o dia estava lindo e com sol — pontuou Jimin, mais pensando alto do que falando com o outro. Mordeu os lábios, sentindo um leve pânico abater seu peito.

— Não vamos ligar muito para isso, tá bem? — Yoongi percebeu como o corpo do outro ficou rígido olhando a chuva, talvez Jimin tivesse medo de tempestades. Ele também tinha, afinal, essas chuvas torrenciais aconteciam exatamente quando Zeus estava puto.

Yoongi parou de andar no momento em que tal pensamento surgiu a sua mente. Caralho, Zeus estava puto. Ele deveria estar muito puto por ele e Jimin terem se encontrado. Os olhos pequeninos de Yoongi se abriram em pavor.

— Yoongi, você está bem? — perguntou Jimin, parando de andar e olhando o outro. Estava com suas roupas em mãos, pronto para se vestir.

— E-eu… eu estou… estou bem sim. — Respirou fundo, não deixaria o pavor tomar conta de si agora, não quando finalmente tinha Jimin consigo. — Vamos nos trocar e tomar o café que eu prometi, que tal?

— Só se vier com beijinhos. — Sorriu Jimin, sapeca, já vestido e indo em direção a cozinha.

— Com muitos e muitos beijinhos.

Min Yoongi não queria se preocupar com a raiva dos Deuses, ele pensaria nisso outra hora. Mas a raiva com que a chuva caía do lado de fora o preocupava.


-x-


A calmaria que estavam vivendo deveria ser o indício de algo ruim se aproximando. Sabe aquele ditado “a calma antes da tempestade”? Então, foi basicamente assim que as coisas aconteceram, e Yoongi deveria saber disso desde o começo.

As próximas semanas depois do primeiro encontro voaram tanto quanto os pássaros livres que cantarolavam na janela de Jimin todos os dias de manhã. A sensação de ser acordado com beijos quase todos os dias era uma de suas favoritas, sem contar que o café da manhã recebido na cama não era nada mal também. Yoongi tratava Jimin como o príncipe que ele era, com todo cuidado e carinho. Se Jimin se machucasse enquanto cortava a cebola para fazer o almoço, Yoongi estava de prontidão para passar água e dar beijinhos até tal machucado parar de arder; se Jimin estava atrasado para alguma coisa, Yoongi fazia questão de tentar ao máximo ajudá-lo a sair logo de casa e não se atrasar mais ainda. Era como se, por simples gestos, Yoongi tentasse se desculpar por tudo o que aconteceu no passado.

Quase dois meses se passaram, e o relacionamento dos dois meninos crescia cada vez mais. Era um belo domingo frio, o dia perfeito para ficar deitado assistindo filmes debaixo da coberta. Era exatamente assim que os meninos se encontravam, a única diferença sendo que o filme, na verdade, estava esquecido passando na televisão.


[...]


As mãos macias de Yoongi subiam e desciam pelo pescoço alvo de Jimin, enquanto ele mordiscava os lábios cheinhos que tanto amava. Não tinha um dia que Yoongi se cansasse de beijar aquela boca. Sua língua logo pediu passagem, que prontamente foi cedida por Jimin. Os braços do menino mais novo não soltavam de jeito algum a cintura do menino, apertando mais a cada momento que o beijo ia se aprofundando.

Depois de alguns minutos, Yoongi resolveu findar o beijo. No momento seguinte, sua barriga deu sinal de vida, avisando que, sim, ele estava morrendo de fome. Soltou um riso ao perceber que Jimin dava batidinhas na sua barriga, como se tentasse acalmá-la.

— O que vamos comer hoje? — perguntou Yoongi, o polegar direito passeando pela bochecha corada de Jimin.

— Ainda tem coisa na geladeira que fiz ontem, amor — respondeu Jimin, deixando um selar nos lábios de Yoongi assim que terminou de falar. O ar quase faltou os pulmões de Yoongi com o apelido que recebeu do outro. Amor… Nem na vida passada sonhou que seria chamado assim pelo menino de cabelos dourados.

— Então podemos esquentar e comer. — Soltou os braços que seguravam Jimin e levantou-se. — É macarrão, não é? Eu adorei o macarrão de ontem, ficou muito bom.

— Sim, aquela receita de molho carbonara que achei no Youtube ficou muito boa mesmo — concordou Jimin, espreguiçando no sofá assim que teve mais espaço. — Vai aonde?

— Vou tomar um banho para jantar depois.

— Beleza, eu vou esquentando a comida, então.

— Ótimo! Já volto — disse Yoongi, já de costas para o menino, indo em direção ao banheiro.

Depois de se espreguiçar mais uma vez, Jimin levantou do sofá. Já estava quase na hora da janta e a fome já se fazia presente. Porém, antes de ir para a cozinha preparar a janta, resolveu pegar seu celular, fazer comida com música é muito melhor. Na verdade, fazer qualquer coisa com música é muito mais divertido.

Logo que entrou no quarto, achou o aparelho carregando na tomada, foi até a escrivaninha que deixou o celular mais cedo e o pegou, só então reparando no quarto de Yoongi. Era um quarto simples e pequeno, com uma cama de solteiro em uma parede, um guarda-roupa e uma pequena escrivaninha, onde Yoongi escrevia seus textos. Textos estes que Jimin nunca sequer viu.

Olhou ao redor mais uma vez, o celular já seguro em sua mão, até que seus olhos caíram em um caderno que nunca viu antes por ali. Parecia uma agenda, de capa preta, com uma caveira desenhada em branco. Ao olhar o símbolo, seu coração palpitou mais forte, sem saber o motivo. Sabia que o que estava prestes a fazer era deveras errado, não tinha o menor direito de olhar as coisas do outro, mas a curiosidade estava o corroendo por dentro.

Largou o celular na cama do mais velho, pegou a agenda nas mãos, sentindo uma eletricidade passar por seus dedos ao tocar o material escuro. Respirou fundo, olhou para trás, só para ter a certeza de que Yoongi ainda estava no banho, e abriu o caderno, colocando na primeira página.

Seus olhos não podiam crer nas palavras que estavam descritas em caligrafia perfeita. Palavras que, se alguém contasse para Jimin, ele riria e o chamaria de louco. Mas, ali estavam elas, escritas pela mão de Min Yoongi em seu caderno.


Hoje é meu primeiro dia na Terra e eu estou perdido. Não sei se consigo sobreviver muito tempo com essa culpa que me corrói por dentro. Vim parar em uma cidade que é muito quente, e isso me incomoda porque me lembra do Inferno, minha antiga casa. Só falta ter um bando de morto andando pela rua para ser igual.


Logo depois, datado com mais de dois meses de diferença, estava escrito:


Por Zeus, como eu vim parar aqui? Eu não consigo me concentrar em nada, mas pelo menos agora mudei para um lugar mais frio, o que me faz parar de pensar em Hades, meu pai. Esse filho de uma puta acabou com a minha vida, me fez perder meus poderes e matar quem eu mais amo.


Jimin estava confuso com cada palavra que lia, mas seus olhos curiosos e coração acelerado não conseguiam parar de ler. As datas dos escritos ficando cada vez mais espaçadas, sendo que os primeiros foram escritos há mais de 7 anos.


Eu achei um lugar para morar, se chama Seul e fica na Coreia do Sul. Algo em meu coração podre me diz que aqui vou ser feliz de algum jeito. Ser humano é horrível para quem já foi semideus, mesmo sendo filho de Hades, eu preferia muito mais ter meus poderes de volta.


Semideus? Poder? Hades? Que porra era essa que Jimin estava lendo? E como se tudo isso já não fosse o bastante, a próxima parte fez o coração de Jimin quase parar.


“O que eu vou fazer sem ele? Como eu estou conseguindo sobreviver nesse mundo sem saber se ele está bem? Principalmente sendo tudo culpa minha. Eu… eu só queria saber se ele está vivo, se está bem! Será que seria pedir demais achar Park Jimin, meu querido filho de Eros, dono da minha alma e coração, andando por aí?


Um pouco mais abaixo, com a mesma data, estava escrito:


Eu não deveria ter seguido o que Hades pediu, eu não deveria ter desistido do meu amor e matado Jimin.


Ao ver seu nome descrito com tais palavras, largou o caderno, assustado. Este fez um barulho oco ao cair no chão. Jimin levou as mãos à boca, espantado. Não sabia que merda estava acontecendo e muito menos por que seu nome estava ali, escrito naquele caderno. E para piorar, a data era de pelo menos 7 anos atrás. O que Min Yoongi estava escondendo de si?

— Jimin? O que faz…

— Que merda é essa, Yoongi? — gritou Jimin, sem conseguir se virar para o menino. Seus olhos começaram a marejar, as mãos começaram a tremer.

— O quê? Como assim, Chim

— O que é isso, Yoongi? — perguntou mais uma vez, pegando o caderno do chão e virando-se para Yoongi. O menino ainda estava com o cabelo molhado do banho, vestindo apenas um short.

— É… isso é meu caderno.

— E o que tem escrito nele? — As lágrimas começaram a cair.

— Jimin… Não tem nada nesse caderno. Me devolve, por favor. — Yoongi tentou tirar o caderno da mão de Jimin, mas sem sucesso. O menino loiro puxou o caderno para si rapidamente.

— Eu quero que você me explique o que tem aqui, porque o que eu li não faz sentido algum.

— Você leu o meu caderno? — Agora era Yoongi quem parecia incrédulo, a voz começando a se alterar. — Você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas!

— Eu tinha sim, ainda mais quando tem meu nome escrito! — Abriu a página rapidamente, jogando o caderno no peito de Yoongi. — Tem meu nome aí, e você escreveu isso faz 7 anos! Yoongi, a gente só se conhece há meses! — gritou Jimin, levando as mãos aos cabelos.

— Jimin… — O olhar de Yoongi era de puro desespero. Jimin não podia descobrir nada, ele não podia ter lido nada do que estava ali dentro.

— Eu quero que me explique que porra está acontecendo.

— Eu… eu não posso.

— Não pode? Que porra é semideus? Hades? Poderes? — Falar isso em voz alta fazia Jimin se sentir ridículo. — Yoongi, você se droga?

— Pelo amor dos Deuses, Jimin! Não é nada disso!

— Deuses, Yoongi? Não existe porra de Deuses nenhum! — falou Jimin, rindo debochado. — Ou você escreveu isso querendo tirar uma com a minha cara?

— Claro que não… Jimin…

— Então você escreveu sobre mim neste caderno 7 anos atrás? Você nem me conhecia, Yoongi!

Min Yoongi não sabia o que fazer ou o que falar, tremia da cabeça aos pés, não podia confessar nada, a palavra tinha poder e isso era um fato. Tinha medo que se falasse algo, coisas muito ruins poderiam começar a acontecer. Aí, seria um caminho sem volta.

— Eu vou embora, para mim chega dessa palhaçada.

— Jimin, por favor, não vá embora! — implorou Yoongi, apressado segurando o braço do menino que tentava sair pela porta do quarto. — Eu não quero te perder de novo, por favor.

— Me perder de novo? — O rosto tão lindo de Jimin estava todo manchado de lágrimas e vermelho por conta da raiva e das lágrimas que não paravam de cair. — Você está ficando louco, Yoongi.

E, assim como disse que faria, saiu pela porta do apartamento de Yoongi correndo, querendo chegar em casa o mais rápido possível, sem nem olhar para trás.

A cada passo que dava, o coração doía mais. Jimin preferiu voltar andando para casa ao invés de pegar algum ônibus, sua mente não estava funcionando direito. Os pensamentos sobre o que aconteceu na casa de Yoongi não paravam de o atormentar. As coisas descritas naquele caderno, datas tão antes de se conhecerem... Nada fazia sentido! O choro aumentava a cada passo que dava.

De repente, o céu antes azul, sem nuvens algumas, parecia turvo e triste. Pesadas nuvens cinzas começaram a aparecer no céu, como se tivessem sido invocadas.

Ao virar a rua, um cachorro estava parado na calçada o observando. Jimin cessou seus passos, tentando inutilmente controlar a sua respiração acelerada. Logo em seguida, mais dois cachorros iguais apareceram detrás do primeiro cachorro. Um deles começou a rosnar para Jimin, que estava congelado no lugar, paralisado pelo medo. A rua estava vazia e nem era tarde assim. Cadê as pessoas que deveriam estar ali, porra? Jimin olhava desesperado para os lados e não via ninguém, não via saída alguma para aquela situação. Pensou estar seriamente ferrado, mas, no momento que um dos cachorros avançou em sua direção, uma luz, vinda do seu lado direito, apareceu como um raio, jogando o pesado corpo do cachorro para trás.

— Mas que porra… — disse para o vazio, os cachorros que antes obstruíam seu caminho não estavam mais lá, haviam sido espantados pela tal luz, aparentemente. — O quê…?

— Jimin, Jimin! Você está bem? — perguntou a voz que vinha da mesma direção de onde a luz havia aparecido.

— O quê… Como? — Jimin estava atordoado demais para perceber logo quem era, demorou alguns segundos longos demais para perceber que era Hoseok, o moço que lhe vendia almoço. — Hobi? O que faz aqui? De onde…

— Jimin, você precisa sair daqui, rápido — disse Hoseok, estava desesperado e falava rápido demais para o lento cérebro de Jimin entender.

— Não… Eu… Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?

— Eu preciso que você vá já para casa! — gritou Hobi. Odiava ser ríspido com alguém, principalmente Jimin, mas não tinha escolha.

— Tá… Eu…

O que quer que seja que ia falar, ficou preso em sua garganta. Sua fala foi cortada pelo barulho mais alto de trovão que já ouvira na vida. Ambos meninos se abaixaram, assustados. As nuvens estavam chegando cada vez mais perto, dando a sensação até mesmo de estarem mais próximas ao chão. Jimin nunca vira nada parecido em sua vida.

— Vai para casa, por favor.

Jimin apenas correu.

Quando chegou em seu apartamento, Jimin deparou-se com sua casa revirada, estava tudo fora do lugar, tudo de ponta cabeça. Havia coisa quebrada, roupas jogadas, papéis por todo canto. Alguém havia invadido a sua casa.

— Mas a porta está intacta! — falou para si mesmo. Não era possível que tudo de mais ruim no mundo estava acontecendo consigo e num único dia.

Suas pernas cederam, Jimin foi de encontro ao chão e chorou. Ele não tinha forças para mais nada, não conseguia parar de tremer e chorar. Coisas estranhas estavam acontecendo ao seu redor e ele nem sabia ao menos explicar o que eram. Estava tão atordoado que nem percebeu quando Taehyung e Jeongguk entraram na sua casa correndo, encontrando Jimin no chão de sua sala revirada.

— Jimin! Jimin, você está bem? — Taehyung foi o primeiro a correr ao encontro do menino, ajoelhando-se no chão, abraçando o corpo trêmulo do garoto.

— Eu não sei o que está acontecendo, Tae. Eu não sei! — gritou Jimin, sem conter mais lágrimas. — Coisas estranhas estão acontecendo.

Jimin olhava para Taehyung, mas não conseguia enxerga-lo direito, sua visão estava turva, muito turva.

— Jimin, olha pra mim. Por favor.

— Tae, eu não sei o que está acontecendo…

— Jimin!

A voz de Taehyung foi ficando cada vez mais baixa, até quase sumir. A visão, que antes era turva, começava a ficar preta, deixando tudo num breu.

A sorte era que Taehyung estava segurando firmemente o menino loiro, que caiu desmaiado em seu colo.


O casal não poderia estar mais feliz naquele momento. Tinham acabado de se casar e mudar para Seul, lugar onde desejavam morar desde muito jovens, quando se conheceram. Agora, Sr. e Sra. Jung, como se chamavam depois de terem assinado os papéis, estavam radiantes e não podiam conter a alegria de finalmente terem uma família.

Porém, essa felicidade não durou muito, pouco menos de um ano depois de se casarem, para ser mais exato. Assim que ajeitaram a vida na nova casa e na nova cidade, começaram a tentar ter o tão sonhado primeiro filho, mas, depois de inúmeras tentativas sem sucesso, veio a tão temida realidade: Sra. Jung não poderia ter filhos.

A tal notícia abateu os dois então jovens de tal maneira, quase levando o casamento ao fim. De que lhes adiantaria ficar juntos se não conseguiriam constituir família? Era isso que Sra. Jung pensava, sentindo-se culpada por não poder dar ao marido a tão sonhada família. Claro, Sr. Jung não concordava com nada que sua esposa falava, alegando que ele a amava e nunca a abandonaria.

Um belo dia de outono, resolveram sair para andar. Alguns poucos anos se passaram desde a tão temida notícia de infertilidade, mas continuavam juntos. O leve vento cortava os rostos do casal enquanto ambos andavam a beira do rio Han, lugar favorito do casal, já que foi neste mesmo local que se conheceram. Era tarde da noite, quase não havia pessoas na rua, o silêncio reinava, e era exatamente disso que precisavam, um momento de paz. Até que, de repente, uma voz vinda de entre as árvores mais próximas chamou a atenção da Sra. Jung. Assustada, cutucou o marido e apontou de onde vinha o som estridente, parecendo um choro assustado. Correram, então, seguindo o barulho, até darem de cara com um menino.

Sim, um menino de cabelos dourados como nunca viram antes.

Este chorava, assustado, os olhos fechados, mãozinhas no rosto tentando conter as lágrimas. A criança aparentava ter uns 7 anos de idade, ou um pouco mais. Talvez o menino estivesse perdido e o casal seriam os responsáveis por salvar uma criança indefesa.

— Oi, meu querido. Fique calmo, estamos aqui para te ajudar — disse Sra. Jung, segurando as mãos fofinhas da criança, tentando acalmá-la a todo custo.

— Pode nos dizer seu nome, onde mora ou onde estão seus pais? — perguntou o homem, Sr. Jung, ao lado de sua esposa.

Finalmente, a criança abriu os olhos, cessando o choro um pouco.

— E-eu… eu não sei…

— Não sabe onde estão seus pais? — perguntou Sra. Jung.

— S-sim… Eu…

— Então, nos diz seu nome, querido. Para podermos te ajudar o mais rápido possível, o que acha? — Sr. Jung abaixou, ajoelhando-se na grama, ficando da altura da pequena criança.

— Eu… Eu me chamo Jimin. Park Jimin.


O chão gelado encostava em seu rosto e Jimin não sabia o porquê. Nem sequer sabia o que estava fazendo deitado no chão gelado. Ao abrir os olhos, lentamente, pôde perceber a cor clara que tinha o chão, muito diferente do de sua casa.

Dor. Jimin sentia dor. Uma dor aguda no peito, principalmente. Os braços e pernas estavam fracos demais, mas algo em seu corpo estava diferente. Ele sentia uma energia estranha emaranhar-se em seu corpo, correr por suas veias. Ele se sentia poderoso, mas não conseguia explicar como.

Abriu os olhos, de verdade, desta vez. Virou-se com dificuldade, ficando de barriga para cima e encarando o imenso teto também de mármore branco. Grandes pilastras estendiam-se do chão até o infinito. Tudo era grandioso, majestoso. A grande sala estava aparentemente vazia, tronos gigantes rodeavam o local que Jimin não fazia ideia de qual era.

Ao tentar se levantar, a forte dor retornou com força, fazendo-o cair no chão. Sua cabeça doía, memórias, que ele cria que não eram suas, começaram a surgir, uma atrás da outra.

— Pai? Mãe? — disse fraco, para ninguém em específico. — Eu… eu estava perdido? Eu… fui encontrado por meus pais…

A claridade da sala doía seus olhos. A marca em seu peito pegava fogo como nunca antes. E mais uma vez, Jimin cedeu à escuridão.


— Jimin, está tudo bem? — perguntou o filho de Hades, já vestido com suas roupas pretas.

— S-sim… está — respondeu Jimin, virando-se para Yoongi sem saber o que fazer. A única coisa certa era que ele não poderia falar nada para o filho de Hades. — Está tudo bem.

— E o que aconteceu? Você viu a cor que está…

— Sim, mas não é nada — cortou a fala do outro, antes que as perguntas que não poderiam ser respondidas fossem feitas.

Jimin estava sem chão, estava aflito e sem saber o que fazer. Seus olhos rosados só indicavam uma coisa: amor.

E isso não estava certo.

— Tudo bem, então… Vamos… — tentou dizer Yoongi, mas foi cortado mais uma vez.

— Só… só me abraça, por favor?

Yoongi franziu o cenho, não entendendo de onde estava vindo aquele comportamento inesperado de Jimin.

Foi então que percebeu que aquela seria a oportunidade perfeita para colocar seu plano em prática.

Era perfeito, não era? Estavam sozinhos na floresta, seria a hora certa.

— Claro, vem aqui — disse Yoongi, sua voz soando bem melhor do que esperava, já que ele tremia por completo.

Era isso, essa seria a oportunidade de ouro.

Jimin findou o espaço entre os corpos, jogando-se nos braços de Yoongi, abraçando-o pelos ombros.

— Obrigado — agradeceu Jimin, mesmo sem ter motivos reais para agradecer ao filho de Hades.


Abriu os olhos novamente, um grito saindo de sua garganta enquanto a dor em seu peito aumentava.

Ele se lembrava, ele se lembrava!

Tentou levantar, forçando suas pernas a funcionarem. Elas tinham que funcionar! Força, força, funcionem!

As mãos apoiadas no mármore claro do chão da Grande Sala do Olimpo seguravam seu corpo enquanto Jimin se colocava de pé.

Aquele era o Olimpo, casa dos Deuses e semideuses. Casa de Zeus e Afrodite. Lar onde seu pai, Eros, morava.

Jimin se lembrava.

Finalmente colocou-se de pé, olhando tudo ao redor. A sala de reuniões do Olimpo era onde estava, deitado bem no meio das cadeiras altas onde os Deuses se sentavam para discutir o futuro de todos os cidadãos gregos. Tentou dar um passo para frente e falhou, quase caindo de joelhos. Estava fraco demais, a dor era quase insuportável. Será que ele ainda estava morto? E ao pensar nisso, mais uma memória tomou sua mente.


Seus olhos rosados só podiam ter um significado: amor. Jimin, filho de Eros, amava Min Yoongi, filho de Hades. Se não fosse trágico, seria cômico.

Claro que não teria como decidir nada agora, nem sabia qual era o sentimento do menino de cabelos azuis, iguais aos pai, por si. Não queria correr com nada agora, queria apenas abraçar Yoongi.

E foi então que sentiu a dor mais dilacerante de toda a sua vida. O fogo ardia em seu peito, sua voz sumiu, dando lugar ao grito de dor mais estridente e verdadeiro. Seus olhos arregalaram ao perceber que a dor era porque seu coração estava sendo arrancado, literalmente, por Min Yoongi.

A dor era tamanha, principalmente, por ter sido morto por alguém que amava.


— Não! Não! — gritou Jimin, voltando a si, percebendo estar ajoelhado no chão. Os braços tremiam tentando aguentar o peso de seu corpo. Ele precisava se levantar, ele precisava de explicações. — Tem que ser tudo um sonho, tem que ser mentira.

— Não é mentira, meu filho — disse uma voz poderosa, vinda de um dos tronos. Jimin rapidamente olhou para a direção que a voz vinha. E lá estava ele, Zeus, em toda sua glória e poder, sentado em seu trono. — Você foi morto por Min Yoongi, filho de Hades.

Jimin negou com a cabeça, não queria acreditar, por mais que suas memórias vívidas fossem a maior prova de tudo o que acontecera em sua vida, em sua vida como semideus, filho de Eros.

— Tem que ser mentira — repetiu fraco, conseguindo colocar-se de pé com certa dificuldade.

— Mas não é — respondeu novamente Zeus. — Não é, e você não deveria ter se lembrado de nada. O trato foi claro e você deveria viver sua vida como humano, na Terra, e não ter noção de nada do que se passou aqui.

— Por quê? — questionou o menino loiro, não tirando os olhos dos de Zeus.

— Porque você foi morto, mas Min Yoongi implorou que voltasse a vida. — Zeus respirou fundo, lembrando-se de como quebrou algumas regras naquele dia. — Min Yoongi teria perdido a vida junto consigo, caso contrário. Mas Afrodite sentiu que o amor de vocês dois é verdadeiro e resolveu dar uma chance, mas para isso vocês dois perderiam os poderes de semideuses, seriam expulsos do Olimpo e você, Park Jimin, teria sua memória apagada.

— Min Yoongi abriu mão de sua vida eterna por mim?

— Sim, exatamente — respondeu Zeus. — Min Yoongi continuaria a ter as memórias como punição pelo crime que cometeu, sofrendo pelo resto de seus dias. — Zeus levantou-se da cadeira, andando até a bancada a seu lado. Ali tinham várias ambrosias frescas, pegou algumas e levou ao menino fraco. Jimin as comeu, a força imediatamente voltando ao seu corpo. Como ele estava com saudade de comer ambrosia. — Mas ele não podia ter te encontrado.

— E como ele conseguiu me encontrar?

— Ainda não sei, mas algo em vocês dois é forte demais, Jimin. O amor de vocês dois ultrapassa as barreiras dos Deuses e de toda as forças sobre-humanas — respondeu Zeus, colocando as grandes mãos no ombro do menino, agora muito mais corado e com vida. — Só sei que causou uma grande confusão ao te achar e agora você está aqui.

— E ele, onde ele está? — perguntou, o desespero começando a tomar conta de seu corpo novamente. — Cadê o Yoongi?

— Isso é algo que precisamos descobrir.


[...]


A sensação de estar vestindo a túnica branca dos Deuses era uma das melhores. Jimin se sentia completo andando pelos campos do Olimpo. A graminha verde de Pã, o sol brilhando alto no céu, dádiva do deus Apolo. Jimin estava finalmente se sentindo em casa como nunca antes. Apesar de as memórias ainda serem dolorosas, ele se sentia muito bem, muito mais forte, seus poderes de semideus voltando a habitar seu corpo.

Ouviu ao longe o farfalhar das folhas sendo pisadas, alguém estava chegando perto do banco que estava sentado. E, pelo barulho, sabia quem eram.

— Eu não acredito que estamos de volta aqui! — exclamou Jeongguk, jogando-se nos braços de Jimin. — Sentimos tanto a sua falta!

— Sentiram nada! Vocês estavam comigo o tempo todo! — respondeu Jimin, grato por ter os melhores amigos do mundo todo.

— Assim que ficamos sabendo de tudo o que aconteceu, fomos para a Terra — respondeu Taehyung sério. — Nunca te deixaria sozinho, Chim. Nunca. — Sentou-se do outro lado do menino, abraçando-o fortemente.

— Claro, demorarmos um pouco para saber onde você estava, mas, assim que o achamos, não saímos do seu lado — completou Jeongguk.

— E eu sou muito grato a vocês, sério. — As teimosas lágrimas queriam voltar a cair pelo belo rosto do jovem, mas este as segurava. Não aguentava mais chorar, oras! Havia chorado mais nesses últimos dias do que em sua vida de semideus.

— Fico feliz por ter meu filho de Eros de volta — disse Taehyung, abraçando o amigo ainda mais forte.

— Eu também, Tae. Estou feliz por estar de volta. — Por mais que Jimin forçasse um sorriso, este ainda não alcançava seus olhos. — Mas, e agora? O que vai acontecer?

— Eu não sei, Chim — respondeu Jeongguk.

— Talvez seja melhor pensar nisso mais tarde, a merda já está feita e você precisa descansar para se recuperar.

Jimin apenas concordou com a cabeça, não querendo aporrinhar ainda mais seus amigos. Ele tinha acabado de voltar e realmente precisava descansar, mas o pensamento que não saía de sua mente e coração era onde estava Min Yoongi.


-x-


O cheiro fétido entrava por suas narinas, trazendo lembranças das quais ele não queria lidar agora. Min Yoongi não estava com um pingo de saudade do submundo, mas lá estava ele, parado de frente aos grandes portões do inferno, lugar que chamou de lar por muito, muito tempo.

Seus braços e pernas doíam, sua mão, marcada pela atrocidade que fizera, queimava como o inferno. A mancha estava vermelha e dolorida. Não sabia de fato o que ia acontecer agora, estava com mais medo do que deixava aparentar seu rosto apático. Havia treinado por muito tempo para esconder seus sentimentos.

Olhou ao redor, os mortos que habitavam ali ouriçados com sua chegada. Seu pai, Hades, não estava em casa, aparentemente. Todo o lugar parecia abandonado há tempos. Não que o inferno fosse algum lugar muito bonito de ser ver ou bem cuidado, mas do jeito que estava, pelo amor de Hades, era o pior que já vira o lugar ficar.

Abriu a porta de casa, entrando e procurando seu pai imediatamente. Queria respostas, queria saber o que aconteceu enquanto esteve fora. Mas, ao abrir as grandes portas para o escritório de Hades, deu de cara com alguém que não esperava estar lá. Sentado na cadeira que pertencia a seu pai, estava Eros em toda sua glória.

— O que está fazendo aqui? — perguntou ríspido, sabia que boa coisa não era, ver o Deus ali, em um lugar que definitivamente não era seu. — Cadê meu pai? — A raiva começando a tomar conta de Yoongi.

— Eu que te pergunto, fedelho. Cadê seu pai? — perguntou Eros, as sobrancelhas erguidas, desafiadoras.

— Acabei de voltar da Terra, não faço a menor ideia de onde ele esteja — respondeu Yoongi, o mais sincero que pôde.

— Ele está foragido, e não fazemos ideia de onde esteja. — Eros levantou-se da cadeira, andando a passos lentos até onde Yoongi se encontrava de pé, perto da porta. — Esperávamos que soubesse de algo, já que fez merda também na Terra e voltou para cá.

— Eu não faço ideia de como vim parar aqui.

— Você quebrou a promessa, Yoongi. — Eros fechou a cara, estava a meros passos do menino. — Você quebrou a porra da promessa e agora meu filho sofre! Você acabou com a vida dele.

— Não… Não é verdade! — retrucou Yoongi, dando alguns passos para trás.

— Claro que é verdade! Como se não bastasse você arrancar o coração dele, agora você fez com que ele se lembrasse de toda a merda que fez com a vida dele — bradou o Deus. — Ele teve uma chance de ser feliz, e você acabou com ela!

— Eu não tive culpa! — gritou Yoongi, pela primeira vez falando sobre tudo o que aconteceu, sobre tudo o que estava em seu coração. — Eu não tive culpa! Eu amo Jimin, eu o amo! Eu não queria ter feito o que eu fiz, eu me arrependi e já provei isso para todos.

— E errou de novo! Você errou mais uma vez.

— Me desculpe — disse Yoongi, abaixando a cabeça e deixando as lágrimas escuras escorrerem por seu rosto alvo. Tudo em seu corpo doía. — Me desculpe.

Eros respirou fundo, estava completamente sem paciência e, por ele, acabaria com a vida de Yoongi num estalar de dedos. Só não assim faria porque sabia que Jimin nunca, em toda sua existência, o perdoaria.

— Você sabe que terá que ser punido mais uma vez, não é? — em um tom de voz um pouco mais baixo, disse. — Seu erro foi grave, Yoongi.

— O que eu vou ter que fazer? — questionou fraco. Yoongi já não tinha mais forças para lutar, parecia que voltar à terra dos mortos o fez ficar ainda mais lânguido.

— Você vai para as masmorras.

Min Yoongi sabia que merecia sofrer; desde que veio a esse mundo como filho de Hades, ele sabia que sua vida seria cheia de sofrimento — mas desde que conheceu Park Jimin, filho de Eros, pensou que tudo poderia ser diferente. Com ele, foi quando sentiu seu coração palpitar pela primeira vez; com ele, sentiu-se o mais próximo possível do sentimento que dava a palavra “amor” toda sua beleza; com ele, aprendeu a sorrir e percebeu que até mesmo ele, filho de Hades, poderia ser, sim, feliz.

Talvez todo o castigo do mundo não fosse o suficiente para Min Yoongi depois de fazer Jimin sofrer tanto. Talvez o fim dele seria, sim, nessa masmorra podre, onde ficavam todos aqueles que não tinham lugar nem mesmo no inferno. Talvez apodrecer entre aquelas paredes podres fosse o melhor que aconteceria a ele.

Min Yoongi sabia que ser filho de Hades tinha seu lado ruim, só não sabia que sofrer por amor seria a pior de suas punições.


-x-


Algumas semanas se passaram e Park Jimin já se sentia em casa no Olimpo. Algumas memórias de sua vida na Terra foram sumindo aos poucos e dando lugar às memórias de sua vida como semideus. Depois de uma longa conversa com seus amigos, Jeongguk e Taehyung, conseguiu se localizar melhor em sua vida, as coisas começando a fazer sentido, a agonia que sentia antes sumindo aos poucos. Saber que seus dois melhores amigos ficaram com ele até mesmo no mundo humano fez Jimin se sentir o ser mais sortudo de todo universo.

Mas, apesar do alívio que o abatia, a preocupação de não saber o paradeiro de Yoongi ainda o deixava angustiado. Tentou falar com Zeus, mas este dizia não fazer ideia de onde ele estava. Para Jimin, tudo isso não passava de uma mentira, já que era impossível Zeus não saber desse pequeno detalhe.


[...]


O dia estava lindo demais para ficar dentro dos aposentos de Eros. Jimin queria banhar-se em uma cachoeira, precisava se conectar com a natureza o mais rápido possível. Sua vida na cidade ainda tinha alguns efeitos sobre si que queria se livrar, seu corpo clamava pela natureza viva. Chamou seus dois melhores amigos, que aceitaram de prontidão.

As túnicas brancas com semideuses arrastavam-se pela grama verdinha. As árvores naquela parte da floresta não eram tão densas, deixando o sol entrar com toda sua maestria. Sentir o cheiro de mata em suas narinas era tudo o que Jimin precisava naquele dia, era o que ele precisava para ter a melhor ideia de sua então vida.

— Tive uma ideia! — gritou Jimin, do nada, fazendo Taehyung e Jeongguk, que andavam mais para frente de mãos dadas, pularem de susto. — Tive uma puta ideia!

— Pelo amor de Zeus, depois desse susto que me deu, tem que ser a ideia da sua vida — disse Taehyung, uma mão espalmada em seu coração, tentando se acalmar.

— Você pode nos contar essa sua ideia, mas vamos, por favor, entrar na cachoeira primeiro? — implorou Jeongguk, avistando um pouco mais à frente a tão querida cachoeira. Estava bastante calor e ele não via a hora de se banhar nas águas cristalinas.

— Claro, claro. Estou louco para dar um mergulho — concordou Jimin, e, pelo sorriso em seus lábios, algo que estava sendo raro de ver o menino esboçar, a tal ideia deveria ser muito boa mesmo.

As roupas brancas dos semideuses foram deixadas em uma pedra bem próxima de onde estavam. Os três meninos nadavam contentes de um lado para o outro, brincando entre si, jogando água um no outro como três crianças. Taehyung tinha sentido muito a falta de seu amigo, e mesmo estando com ele na Terra, aquele não era o Jimin que tanto amava e conhecia. Esse brilho único nos olhos que o loiro tinha era apenas de Park Jimin, filho de Eros.

— Agora que estamos todos pelados dentro dessa deliciosa cachoeira, pode nos contar do seu plano mirabolante — disse Jeongguk, arrancando risadas dos dois meninos ao seu lado.

— Ótimo demais pontuar que estávamos pelados, quase me esqueci desse detalhe, cabeção! — respondeu Taehyung, dando um peteleco na testa de Jeongguk.

— Tá, tá! Vou contar — respondeu Jimin, suas mãos brincando com a água cristalina ao redor de si. — Eu acho que sei como achar Yoongi.

— Ah, não! Jimin, não! — resmungou Jeongguk, incrédulo que o menino ainda cismava com essa história. Muita coisa já tinha dado errado para que ele continuasse a insistir no outro.

— Eu não vou desistir dele, Gukkie. Eu não vou. — Fechou o cenho, cruzando os braços na frente do peito. — Eu sei que você não acha certo, mas eu o amo. Eu o amo, Jeongguk! E não vou desistir dele.

Taehyung respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos molhados em sinal de pura preocupação.

— Eu te entendo, Chim. Eu realmente te entendo, mas… Não acha que vai ser perigoso demais? Muita coisa já aconteceu, e…

— Eu não ligo! Tae, eu não ligo! — Sua voz começava a se alterar. — Mesmo morrendo, vivendo como humano e voltando, tem uma coisa que não mudou. Uma única coisa! — falou um pouco mais alto. — O que eu sinto por Yoongi nunca mudou, Tae. — As lágrimas queriam começar a cair. Era sempre assim quando pensava no menino de madeixas azuis.

— Eu te entendo, Chim! Eu te entendo. — Taehyung levou o polegar até os olhos dourados de Jimin, afastando algumas gotículas de lágrimas que teimavam em saltar-lhe os olhos. — E eu te apoio. Eu te apoio a ir atrás desse amor — concluiu Taehyung, sorrindo leve para o amigo em seguida.

— Obrigado, Tae. Obrigado mesmo.

— E qual é esse plano infalível? — perguntou Jeongguk, não tendo outra opção a não ser apoiar Jimin em suas decisões.

— Vou falar com Afrodite. Ela, com certeza, vai me dizer onde Yoongi está.

As sobrancelhas de Jeongguk ergueram-se, curioso. Realmente, sua mãe foi a única pessoa em todo o Olimpo a entender o que Jimin sentia, foi a única que o apoiou realmente.

— Talvez a sua ideia não seja tão infalível assim — disse Jeongguk, começando a esboçar seu sorriso de coelho arteiro. — Mas se tem alguém que pode te ajudar, essa pessoa é a senhora minha mãe.


[...]


No mesmo dia em que tiveram a conversa, Jimin resolveu falar com Afrodite, indo até os aposentos onde ela vivia com algumas de suas crias. Bateu timidamente na porta, a claridade sendo feita por algumas tochas que estavam acesas ao redor da grande casa de Afrodite. Não demorou muito para que uma de suas crias abrisse a porta. Era uma bela menina, de pele morena e cabelos não muito compridos.

— Olá, em que posso te ajudar? — perguntou a menina educadamente.

— Eu quero falar com Afrodite, eu… Preciso de um favor.

— Hum… Claro — disse, um pouco incerta se deveria deixar o menino loiro entrar ou não. — Vou chamá-la.

A grande casa de Afrodite não tinha esse nome à toa, ela era realmente grande, com portas e mais portas de mármore, detalhes dourados e rosados por todo canto. Era uma casa muito linda, realmente. Jeongguk tinha sorte de morar em um lugar como esse. Ouviu alguns passos à sua direita, vendo a Deusa do amor andar em sua direção.

— Mas que honra te receber em minha casa — cumprimentou Afrodite, dando um forte abraço no menino. — O assunto é tão urgente que não pôde esperar o dia amanhecer?

— Sim, é muito urgente.

— Então, por favor, me acompanhe.

Talvez fosse alguma regra entre os Deuses principais, mas todos eles tinham escritório, salas, gigantes e luxuosas. A sala de Afrodite não era diferente, ela era grandiosa e bela, assim como sua dona. Não era porque Jimin era filho de Eros, não mesmo, mas o pequeno loiro tinha uma profunda admiração pela Deusa.

— Eu posso imaginar o que te traz aqui, meu querido. — Diferente de outrora, a voz de Afrodite saiu mais séria e pausada, receosa até.

— Sim, minha Deusa, é sobre este assunto que você já deve pressentir — respondeu sério. Não tinha muito tempo a perder, queria ir logo ao assunto. — Eu quero saber onde está Yoongi.

— Eu sabia que tinha a ver com o filho de Hades. — Nos olhos de Afrodite, Jimin conseguia ver claramente toda a piedade que ela tinha de si. — Eu consigo sentir o amor quando é verdadeiro, meu querido.

— Eu sei, por isso vim falar com a senhora e…

— Mas eu não sei se posso te ajudar — respondeu Afrodite, cortando a fala do menino.

O sorriso que antes habitava os lábios carnudos de Jimin sumiu.

— Eu só quero saber onde ele está! Eu farei o que for preciso para tê-lo de volta. Por favor — suplicou Jimin, levantando-se da cadeira e juntando as mãos em frente ao rosto em sinal de prece.

— Posso até te falar onde ele está, mas não tem como fazer nada sobre isso.

— Como assim? — Assustado, Jimin estava assustado. Como assim não tinha o que fazer? Jimin iria até o fim do mundo, se preciso.

— Ele está condenado, meu querido. — Respirou profundo, com pesar, a Deusa. Ela não queria ser a pessoa a dar essa notícia ao menino, mas nenhum dos outros Deuses pareciam a fim de quebrar esse silêncio todo. — Min Yoongi está nas masmorras, meu querido. Hades sumiu e ele foi condenado em seu lugar.

— O quê? Não pode! — gritou Jimin, mesmo sabendo que isso era falta de respeito. Ninguém elevava o tom na frente de um Deus. — Ele não fez… Ele…

— Jimin, ele cometeu crimes demais, acabou juntando tudo e ele está preso, na masmorra. Não tem volta.

— Mas eu o amo e não vou desistir dele.

Foi a última coisa que disse antes de sair correndo porta afora. Park Jimin não desistiria de Yoongi.

Park Jimin não era sabia se era alguém corajoso, nunca teve que colocar esse seu lado à prova de nada. Sua vida consistia em iludir pessoas, transar com elas, baladas e mais baladas, beijos na boca, e só. Mas agora que seu coração batia diferente, agora que seus olhos já viram muito mais coisa do que esses anos no Olimpo, sabia estar pronto para colocar toda sua coragem à prova.

E teria de fazer isso sozinho.


[...]


O caminho para as profundas masmorras era aterrorizante, nenhuma luz conseguia perfurar tal escuridão. O ar era escasso, o que deixava o menino ainda mais cansado. As vestes que usava no Olimpo também não ajudavam, a barra da túnica encostava no chão, às vezes se prendendo em vários lugares — mas Jimin não desistiria. Pegou um pedaço de madeira, o acendeu com fogo que fez com suas próprias mãos e seguiu viagem.

Seu corpo tremia, e não era de frio, as forças do submundo ficavam ainda mais forte ali e tinham um efeito ruim em seu corpo. As mãos trêmulas podiam ser percebidas pelo lampejo do fogo que carregava para iluminar o caminho. Sua respiração saía pesada de seus lábios. Park Jimin estava com medo.

Ao chegar à grande porta de pedra, parou. Tinha descido metros e metros até chegar ali. Não teve muitos desafios até chegar ali, o maior deles sendo a sua mente conturbada pelo medo. Agora que estava próximo de seu destino final, o pavor crescia em seu peito. Sabia que a masmorra ficava atrás das grandes paredes de pedra, que se moveriam assim que conseguisse fugir do grande desafio: enfrentar o Cérbero, o grande cão de três cabeças.

A entrada estava fechada e obstruída, já que o monstro dormia bem na frente dela em um tranquilo sono profundo. Jimin podia ver as três grandes cabeças de olhos fechados. Seu coração pulava no peito.

Este era seu desafio, chegar até o outro lado da entrada sem ser morto pelo cão. Riu debochado e cheio de desespero. Ele estava desarmado, apenas com uma tocha em suas mãos. Quais eram as chances de ele sair vivo dessa?

— Morrer por amor é um ato heroico, né?

Só tinha um jeito de saber.

Lutando.

Assoviou o mais alto que pôde, fazendo a cabeça do meio do cão abrir os olhos. Ele não tinha certeza do que fazer, iria apenas seguir seus instintos de semideus e rezar para conseguir tirar Yoongi dessa emboscada.

Assim que percebeu ter sido acordado de seu belo sono, Cérbero levantou-se, fazendo tudo ao redor tremer. Com certeza tal estrondo pôde ser ouvido de qualquer lugar do Olimpo. Os cabelos dourados de Jimin grudavam em sua testa, o suor frio escorrendo por sua tez.

— Ei! Seu fedorento, cachorro sarnento! Vem me pegar! — Com xingamentos nada adultos, Jimin começou a chacoalhar a tocha em sua mão de um lado para o outro, tendo sucesso em chamar atenção do cachorrão.

— Porra! Porra! Porra! — Saiu correndo, assim que percebeu que o cachorro estava literalmente rosnando em sua direção. Com as três cabeças.

Jimin corria sem ziguezague, respingos de baba de cachorro caindo em suas vestes. A pata gigante do cachorro veio em sua direção, mas conseguiu afastá-la encostando o fogo na pele preta do animal. Este uivou de dor e recuou, ainda rosnando em direção a Jimin.

Só o fogo não iria ser o suficiente para atordoar o cachorro ou até mesmo fazê-lo sair de sua posição. Ele teria que pensar em alguma coisa, e rápido. O monstro mais uma vez pulou em sua direção e, na velocidade da luz, Jimin caiu para o lado, jogando-se no chão e escapando de levar uma mordida da cabeça direita do animal. Jimin gemeu pela dor da queda, o fogo começando a ficar cada vez mais fraco por conta de todos os movimentos que fazia.

— Mas que merda! — gritou para o além. — Não basta eu ter que lutar com um monstro, tem que ser com três cachorros!

Até que uma memória perdida surgiu em sua mente como num passe de mágica.

“Três cachorros no meio da rua, um raio de luz parecendo com um raio corta sua visão e espanta os três animais.”

— É isso! — berra Jimin, sorrindo como um louco! — É isso!

Jimin largou a tocha no chão, a mesma caindo com um estrondo e apagando em seguida. Fechou os olhos, correndo em direção aos monstros. Sim, Jimin estava literalmente correndo para a morte, caso o que tivesse em mente não desse certo. Juntou toda a força dentro de si e invocou o raio mais poderoso que seu pequeno corpo de semideus conseguia, unindo as mãos em sua frente, pronto para soltar o lampejo que salvaria sua vida.

Com um alto grito, deixou com que toda a força dentro de si saísse por seus dedos, fazendo um clarão cortar o caminho restante entre si e Cérbero. Abriu os olhos a tempo de ver o raio atingindo o animal bem no meio do peito, empurrando-o para trás.

Um agudo som saiu do animal, um uivo tão alto que Jimin teve que tapar os ouvidos. O corpo gigante e inerte estava caído, os olhos — todos eles — estavam esbugalhados e sem vida. As grandes paredes que trancafiavam a masmorra começaram a se abrir.

Suas pernas tremiam, toda sua força havia sido usada para derrotar Cérbero. Demorou a perceber que, sim, Park Jimin tinha provado sua coragem e inteligência — e sorte também — e vencido o monstro. Sua respiração estava descompassada, as mãos sangrando por ter dado vida ao poder que precisava para ganhar a batalha. Mas tudo aquilo podia esperar, ele tinha que finalizar aquilo que veio fazer. Precisava achar Min Yoongi.


Não demorou para achar o menino que seus olhos tanto procuravam. Depois de enfrentar o Cérbero, rezava para que achar Yoongi fosse simples. E suas preces foram ouvidas.

Assim que adentrou o lugar escuro e fétido, avistou, preso a uma das paredes, ele, o ser que fazia seu coração palpitar. Os cabelos azuis estavam sem vida, seu corpo tinha machucados por todo lado, suas vestes pretas estavam rasgadas. Os olhos de cor negrume estavam fechados; não sabia se Yoongi estava dormindo ou desmaiado. Temia pelo pior, mas só de conseguir chegar até o outro, seu coração se acalmava.

— Yoongi, Min Yoongi — chamou calmamente, chegando perto do corpo preso na parede por algemas.

Tinha diversas algemas presas, uma em cada extremidade do outro, como se ele fosse o ser mais perigoso que habitava essas terras. Eles realmente não conheciam Yoongi como Jimin conhecia.

Ao ouvir seu nome, Yoongi levantou a cabeça, os olhos semicerrados, forçando-os a ficar aberto.

— Ji-Jimin? — perguntou num sussurro, quase inaudível até mesmo para Jimin. — O que… o que faz aqui? — A força que Yoongi fazia para falar deixava Jimin com o coração na mão. Sabe-se lá quantos dias fazia que o menino estava aqui, preso, sem ver a luz do dia.

— Eu vim te salvar. — Com o resquício de força que lhe sobrou, Jimin puxou uma algema de cada vez, libertando o amor de sua vida. — Vem, vamos para casa.


-x-


Os passos eram lentos, mas, depois de horas andando, chegaram ao grande salão do Olimpo. Se a caminhada sozinho na descida já fora cruel consigo, imagina quando Jimin tinha o peso de Yoongi em seus ombros. O menino estivera desmaiado o caminho todo, e coube a Jimin levá-lo para a superfície.

— Eu não quero saber que horas são, se já estão dormindo — berrou Jimin na grande sala vazia. — Eu quero Zeus aqui, e agora! — Já tinha quebrado algumas várias regras em apenas um dia, o que seria quebrar mais uma?

Um estrondoso raio pôde ser ouvido, vindo dos céus. O chamado de Jimin foi atendido com prontidão quando um Deus emputecido apareceu em sua grande cadeira.

— Mas o que está acontecendo aqui? — esbravejou Zeus, incrédulo de ver Jimin e Yoongi em sua sala, no meio da noite. — O que Yoongi está fazendo aqui?

Mais vozes e passos foram ouvidos, os Deuses, antes adormecidos, começaram a aparecer um por um. Afrodite foi uma das primeiras, as mãos indo em direção aos lábios, de espanto, ao ver os meninos machucados no meio da sala. Yoongi começava a retomar a consciência, mas ainda estava fraco e dolorido.

— Eu o salvei! — gritou Jimin, largando cuidadosamente Yoongi ao seu lado, que caiu no chão e lá ficou, os olhos pesados quase se fechando. — Eu o salvei da masmorra em que estava preso.

— Não era para ter ido lá, Jimin! — disse Afrodite, aproximando-se dos dois meninos e se abaixando para checar como Yoongi estava.

— Eu não podia deixá-lo lá, eu não podia — respondeu diretamente para Afrodite, mas logo voltou o olhar duro para Zeus. — Eu quero que retire a punição de Min Yoongi — ordenou firme, rezando para sua voz não falhar.

Seu corpo todo doía, ele estava trêmulo de cansaço e raiva, mas não desistiria de Min Yoongi.

— Não podemos fazer isso, você sabe que não podemos — contestou Zeus, sua voz grossa ecoando por todo cômodo.

Assim que Jimin desviou o olhar, à sua esquerda, estava Eros, seu pai. Ele o olhava com desgosto, como se Jimin estivesse tomando a pior decisão de sua vida. Volveu seu olhar para Yoongi, ajoelhando ao lado do menino que antes era cuidado por Afrodite, embalando-o em seus próprios braços.

— Eu não quero saber, se ele não pode ser salvo, me levem junto! — bradou Jimin, determinado.

— Ah, não! De novo isso não! — respondeu Eros. — Para de ser besta e saia já daí, Park Jimin!

— Não! Eu não saio, eu não vou abandonar o amor da minha vida — gritou Jimin, sua voz ecoando pela sala silenciosa. — Eu passei por muita coisa, muita coisa mesmo e nada, nada nesse mundo, ou em qualquer outro supera a sensação de tê-lo em meus braços — afirmou agora mais calmo, passando a mão pelos cabelos azuis de Yoongi. Este que tentava se manter acordado a todo custo. — Eu o amo e farei o que for preciso para tê-lo comigo.

Eros fez menção de se levantar, queria brigar, queria arrancar seu precioso filho dali e fazer com que ele nunca mais visse Min Yoongi na sua frente. Mas, Zeus levantou sua mão, calando-o, fazendo-o parar qualquer ato que estivesse em mente.

Zeus, com toda sua aura poderosa, levantou-se de sua cadeira, andando a passos firmes até o meio da sala, onde os dois meninos se encontravam.

Estava na hora de pôr um fim nessa história toda.

— Já está mais do que provado que vocês nasceram para ficar juntos — pontuou Zeus, olhando diretamente para Jimin e Afrodite no chão. — Não importa o que façamos, não importa quantas punições nós damos, vocês acham algum jeito de burlar todas elas.

— É assim que o amor verdadeiro funciona, querido Zeus — replicou Afrodite, sabendo muito bem onde seu pai iria chegar com o discurso.

— Exato, minha filha. — Respirou fundo, descendo sua mão até o peito de Yoongi, uma luz azulada, com pequenos raios, pôde ser vista indo em direção ao coração do rapaz. — Não vejo outra saída a não ser deixar vocês juntos novamente. E dessa vez, para todo o sempre. — O poder de Zeus curou Yoongi de todas as dores que sentia. Ele piscou algumas vezes, repetidamente, tentando entender tudo o que estava acontecendo.

Ao ouvir tais palavras serem proferidas pelo Deus superior, Jimin começou a chorar de alegria e alívio.

Ele tinha conseguido, ele tinha conseguido salvar Min Yoongi.

— O que está acontecendo? — perguntou Yoongi, atordoado com tantos rostos a sua volta. Olhou para Jimin, que não conseguia parar de chorar por um minuto sequer. — Amor, o que está acontecendo?

— N-nós conseguimos, Min. Nós conseguimos!


-x-


Alguns anos depois…


Era verão. Em meio a tanto sol e calor, o ar condicionado foi mais do que necessário naquele aconchegante apartamento, localizado em um bairro mais afastado da grande Seul. Os pássaros cantavam alegremente logo cedo, aproveitando toda a brisa quente que a estação do ano preferida chegava com força.

Na cozinha, o cheirinho do café se fazia presente. As panquecas ainda na panela estavam terminando de serem feitas. Yoongi as virava de um lado para o outro, não as deixando queimar de jeito algum. O sol acariciava levemente sua pele, entrando pela janela mesmo sem ser convidado.

No quarto, Jimin acordava lentamente, abrindo os olhos e piscando-os, lento e preguiçoso. As costas das mãos indo de encontro aos mesmos, coçando-os como uma criança faria. Os cabelos dourados caíam suavemente por sua testa, os fios formando um emaranhado em sua cabeça. Mesmo assim, o menino conseguia ser o mais lindo quando acordava, segundo Yoongi.

A passos lentos e letárgicos, Jimin chegou até a cozinha, entrando silenciosamente para não assustar seu namorado, que preparava o café da manhã. Abraçou o menino de cabelos azuis pela cintura, enterrando o nariz em seu pescoço, absorvendo tudo o que podia do cheirinho que saía de seu amado. Jimin amava cada parte de Yoongi.

— Bom dia, meu amor — cumprimentou Jimin, ainda respirando no pescoço do menino, fazendo os pelos de sua nuca se arrepiarem. — Que cheiro maravilhoso de panquecas e café. — Apoiou o queixo em seu ombro, pondo-se a observar tudo o que o mais velho fazia.

— É assim que eu te acordo, sabia? — disse Yoongi, terminando de colocar o mel em cima das panquecas.

— Assim como?

— Com o cheiro da comida — respondeu, rindo da feição incrédula de Jimin.

— Está me chamando de esfomeado?

— Claro! E você não é? — zombou Yoongi, aproveitando que os lábios de Jimin estavam entreabertos e deixando um breve selar sobre tais lábios.

— A sua sorte é que eu te amo, sabia? — Por mais que tentasse soar sério, sempre acabava entrando na brincadeira.

— Eu sei. — Deixou mais um selar nos lábios carnudos de Jimin. — E eu também te amo.

Para alguns, escolher de uma vez por todas viver no mundo humano, com tempo limitado de vida, seria algo incabível, impensável. Trocar toda uma vida de poderes e eternidade era algo que não se passava na cabeça de muitos.

Mas pelo amor, aquele amor verdadeiro que você sente correr em suas veias, Jimin e Yoongi não pensaram duas vezes ao trocar a eternidade por amor, pois preferiam passar o tempo que lhes restavam assim, juntos.


Fim.

~~


Notas finais: Agora sim, chegamos ao fim DE VERDADE dessa história linda que surgiu na minha cabeça quando o tema “mitologia grega” surgiu, não me dando sossego até eu realmente fazer o final feliz. Confesso que antes mesmo de receber os pedidos de continuação (obrigada, xuxus!) eu já estava escrevendo essa bebê, estou ansiosa para saber o que vocês vão achar.

Espero mesmo que tenham gostado do final de verdade da história.

Amo vocês!

Mari.

14. August 2021 21:36 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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