Em toda a minha vida, eu nunca tive do que reclamar, sempre tive tudo o que um garoto de dezoito anos poderia querer: Dinheiro, status, uma família que me amava — apesar de meu pai passar a maior parte do tempo viajando —, Tinha dois amigos fiéis que estavam comigo há anos e um irmão praticamente perfeito, do qual eu tinha muito orgulho e que me servia de inspiração para a vida.
A combinação de todas essas coisas resultaram em fama, popularidade e uma centena de pessoas que praticamente beijavam meus pés por onde eu passava.
No fundo, eu admitia que não gostava muito de me enturmar com as pessoas do colégio em que estudava, com exceção de Jimin e Jungkook.
Os alunos ali eram em sua maioria metidos e mesquinhos, não pensavam em nada e nem ninguem além deles mesmos. A única coisa que importava, tanto para os alunos quanto para os funcionários, era o valor da conta bancária que suas famílias possuíam. Tudo o que acontecia e até mesmo era ensinado aos alunos eram coisas superficiais.
Se você tivesse um pouco menos dinheiro ou usasse roupas que não eram de marca, seria menosprezado e tratado como lixo.
Como qualquer ser humano que tivesse ao menos um pouco de bom senso e empatia, eu não tratava ninguém mal – e nem bem –, era educado com todos que puxavam assunto comigo, além do mais, não ganharia nada maltratando e pisando em outras pessoas.
Na verdade, eu nunca tive nada contra ninguem. Ou melhor, quase ninguém.
Havia apenas uma pessoa que me incomodava desde que coloquei meus olhos em si pela primeira vez, Jung Hoseok.
O garoto tinha um ar esnobe, andava sempre de cara fechada e nariz empinado.
Tudo bem que ele estava sempre bem vestido, era extremamente bonito, tinha um sorriso em forma de coração que conquistaria qualquer um — não que eu reparasse, claro —, mas isso não lhe dava o direito de se achar melhor do que qualquer pessoa que fizesse menção de chegar perto de si. Ele parecia achar que ninguem era digno de sua amizade ou algo assim e eu sempre odiei esse tipo de pessoa.
O Jung não falava com ninguem além de Min Yoongi, que estava sempre consigo para cima e para baixo, alem de ter fama de BadBoy por causa de alguns boatos que circulavam pela escola e a maioria dos alunos o temiam.
Eu tinha quase certeza de que não passavam de mentiras que tomaram uma proporção maior a cada vez que eram contadas, mas nada era comprovado, ninguem tinha coragem o suficiente para chegar perto de si e perguntar.
— Hey, Taehyung — Estava perdido em meus pensamentos até Jimin me chamar, balançando as mãos em frente ao meu rosto. — Você nem pisca quando está encarando o Jung.
— Eu não estava o encarando.
— Sim, claro – falou revirando os olhos – estou começando a achar que essa raiva que sente por ele não passa de amor encubado.
— Hã? Pirou? Eu não amaria um idiota feito ele, jamais.
— Sei, sei. Vamos? Kookie já está nos esperando.
— Kookie, uh? E aí, já se declarou para ele? – solte em tom de provocação, fazendo o menor corar de vergonha
— Não, e nem vou. Sei que parece clichê, mas prefiro passar o resto da minha vida escondendo meus sentimentos do que perder a amizade dele, aliás, ele é só um bebê.
— Ele só é um ano mais novo do que nós dois, Jimin. Já deixou de ser bebê há muito tempo e se você não tentar, nunca vai saber como ele se sente. Eu o conheço o suficiente para saber que se ele gostar de você da mesma forma que gosta dele, nunca vai dizer por conta da timidez.
— Ham, não sei.
— Pensa bem, Minie,de qualquer forma a atitude vai ter que partir de você. Agora vamos.
[•••]
Nos encontramos com Jungkook e fomos para a casa do mais novo como fazíamos quase todos os dias para jogar videogame, ou melhor, eu e Jungkook jogávamos enquanto Jimin ficava apenas assistindo.
Já estava anoitecendo, os dois estavam deitados na cama de casal do mais novo, ambos com os pés pendurados para fora da cama tocando o chão, e eu estava deitado no tapete com a cabeça em um travesseiro, olhando para o teto cheio de estrelas fluorescentes que Jungkook e seu pai haviam colado quando o mais novo era criança.
Estava uma noite agradável, ninguem parecia ter nada a dizer até que Jimin resolveu quebrar o silêncio.
— Sabe Tae, eu estava aqui pensando.
— Cuidado para não ativar o alarme de incêndio – falei o encarando, até o maknae começar a rir até sentir dor na barriga e seus olhos lacrimejarem. O que eu disse nem teve tanta graça, mas ele era assim, na maioria das vezes tinha reações exageradas quanto a algumas coisas que eu e Jimin diziamos ou fazíamos. Eu o achava extremamente fofo.
Jimin o encarou sério, com a testa franzida e ele logo se endireitou segurando a risada.
— Me desculpa Hyung, pode continuar.
— Enfim, eu estava pensando nesse seu amor pelo Hoseok – falou o loiro com um sorriso de canto.
— Hey – Joguei o travesseiro em sua direção — Não tem amor nenhum, eu só não gosto dele. É normal ter alguém que você não goste.
— Sim, quando a pessoa já fez algo para você, para alguém que você gosta, quando ela é ruim, ou quando você é secretamente apaixonado por ela e não quer admitir.
Por um lado Jimin tinha razão, não havia motivos para "odiar" Hoseok, eu simplesmente não suportava seu jeito esnobe e cheio de si, mas se tinha uma coisa da qual eu tinha certeza, era de que não o amava.
Nunca poderia amar, além do mais, eu era hétero e meu pai sempre foi muito rígido quanto a isso. Jamais aceitaria um filho que não fosse "normal" e eu não poderia dar esse desgosto a ele.
— Não tem um motivo, tá legal? Eu simplesmente não o suporto.
— Será? Quero te propor um desafio. Topa?
— Eu nunca digo não para desafios, você sabe.
— Tudo bem — falou o loiro sorrindo sapeca — você tem que se aproximar de Hoseok e se tornar amigo dele, mas terá apenas dois meses para isso.
— Acho que você está doente, só pode. Está visitando o Dr. Cho corretamente? Não pode abandonar a terapia assim.
— Eu estou falando sério, Tae.
— Hum, não gostei desse desafio. Podemos fazer uma aposta para ficar mais divertido, o que acha?
— Quer apostar o que? Você tem tudo.
— Nem tudo. Se eu conseguir, e você sabe que eu vou, quero aquela sua coleção exclusiva de casacos que chega mês que vem. Eu não consegui reservar a tempo.
— Fechado – disse o loiro apertando minhas mãos — Eu quero só ver. Jung é muito fechado, você não vai conseguir fazer isso sozinho.
— É o que veremos, vou pensar em algo para me aproximar.
— Como eu sou um ótimo amigo, vou te ajudar – falou como quem não queria nada. Confesso que achei bem suspeito — Peça para ele te dar aulas de reforço, é a desculpa perfeita para se aproximar. Você só vai precisar fazer com que ele confie em você e se torne seu amigo.
— Aula de reforço? Aquele brutamontes parece não saber nem quanto é um mais um.
— Confie em mim Taetae, não vai ser estranho pedir isso a ele.
— Tudo bem — disse um pouco pensativo.
Eu imaginava que não deveria ser tão difícil se aproximar. Só precisaria fingir que era tão idiota quanto ele.
Pessoas como Hoseok geralmente se aproximavam de quem tinha a personalidade parecida consigo e se tem algo que eu fazia bem, era atuar.
Após essa aposta estranha, fiquei mais um pouco com meus amigos e logo fui para casa.
Tive um jantar agradável apenas com minha mãe, já que meu pai havia viajado mais uma vez e meu irmão mais velho, Seokjin, estava nos Estados Unidos estudando.
Jin terminou a escola no ano anterior e resolveu se arriscar viajando com seu melhor amigo para estudar fora.
Jin sempre quis fazer medicina e Nam, seu amigo, queria estudar música.
Na América era muito mais fácil se especializar, e o diploma de lá era bem mais reconhecido do que o da Coreia, o que os motivou ainda mais.
Nossos pais apoiaram a ideia assim que Seokjin falou sobre ela.
Eu sentia falta do meu irmão, mas ficava feliz que ele estivesse correndo atrás de seus sonhos.
Após o jantar e um bom banho fiquei poucos minutos tentando pensar em algum plano para ganhar a aposta, e acabei adormecendo em seguida.
[•••]
Acordei um pouco atrasado, já que havia esquecido de ligar o despertador.
Era quarta-feira, dia que Hyejin, a única empregada que teria autorização para entrar em meu quarto, estava de folga. As outras jamais ousariam entrar e minha mãe sempre dormia até tarde quando o marido não estava em casa, caso ele estivesse ela teria que estar de pé às cinco da manhã para preparar pessoalmente o café da manhã.
Papai não a deixava trabalhar fora, vivia dizendo que ela tinha que ser dona de casa e apesar de terem empregadas, algumas tarefas como cozinhar, cuidar dos filhos — quando éramos mais novos —, limpar a suíte principal, escritório e mais algumas coisas pequenas, ele dizia que era obrigação da mulher.
Jin e eu nunca concordamos com nada disso, mas mamãe parecia feliz então resolvemos não nos intrometer.
O motorista me levou para a escola, como em todos os outros dias, e eu passei o caminho inteiro tentando bolar um plano para se aproximar de Hoseok, não conseguindo pensar em nada coerente.
Talvez as coisas fossem simples, só teria que falar com ele quando estivesse sozinho, não deveria ser difícil.
E foi com esse pensamento que correi para dentro da escola.
Mesmo estando atrasado não tive problemas para entrar devido ao status de meu pai.
Eu tinha muitas regalias ali, mas as vezes só queria ser tratado normalmente como se fosse qualquer pessoa simples, ao mesmo tempo mudava de ideia, jamais abriria mão de todo o luxo que tinha.
Poderia parecer mesquinho, mas eu não seria hipócrita a ponto de fingir ser algo que eu não era.
『•••』
No final das contas as coisas não foram tão fáceis como imaginava. Hoseok e Yoongi não se desgrudaram um segundo sequer, e eu jamais iria me submeter a levar um não na frente de qualquer pessoa que fosse.
Estava em meu quarto deitado, extremamente frustrado.
Já eram quase quatro da tarde quando resolvi ir até a casa de Jimin. Estava uma tarde agradável, então decidi ir andando já que não era tão longe.
Mais ou menos na metade do caminho, próximo a escola, havia uma lanchonete que particularmente, eu gostava bastante. No local havia uma parte para os estudantes se concentrarem em sua leitura.
Sempre que tinha tempo livre ou estava por perto passava para tomar um Frappuccino de doce de leite, o meu favorito, e naquele momento não seria diferente.
Assim que entrei senti o vento do ar condicionado bater em minha pele o fazendo eu me arrepiar. Fiz o pedido ficando em pé, próximo ao balcão tamborilando os dedos na madeira escura extremamente limpa, corri os olhos pelo lugar sem saber exatamente o que estava procurando, quando o vi sentado sozinho em um canto enquanto mexia no celular.
Agradeci mentalmente a Divindade que havia me ajudado, era a oportunidade perfeita.
A atendente me entregou o pedido e logo fui em direção ao garoto de cabelos escuros que parecia impaciente, enquanto continuava a mexer no celular de cabeça baixa.
Me sentei à sua frente chamando sua atenção, o fazendo levantar um pouco a cabeça e me observar, antes de voltar a atenção ao celular me ignorando completamente.
Cocei a garganta fazendo um barulho alto buscando chamar sua atenção novamente.
— O que você quer? — disse parecendo irritado.
— Conversar com você.
— Não tenho nada para conversar com você, Kim.
— Tem sim — disse um pouco alto, logo percebendo e diminuindo o tom de voz. — Eu só queria saber se pode me dar uma ajuda com algumas matérias.
— Toda segunda-feira eu fico até mais tarde na biblioteca da escola ajudando alguns alunos do primeiro e segundo ano. Se você aparecer por lá eu posso pensar em te ajudar.
Cogitei aceitar as aulas, mas acabei mudando de idéia. Eu queria me aproximar dele e não daria certo em uma sala cheia de adolescentes querendo sua atenção.
— Não... Você tem que ajudar só a mim. Com outras pessoas eu não quero.
— E porque você acha que eu te ajudaria? Porque acha que é melhor que os outros, Taehyung? Só porque seu pai tem muito dinheiro, ou porque você fica desfilando por aí com suas roupas de marca?
— Você não tem moral nenhuma para falar assim comigo quando você mesmo anda pelos corredores da escola com o nariz empinado, ignorando tudo e todos. Eu uso roupas de marca, mas e daí? As suas tambem são tão caras quanto as minhas— falei começando a ficar irritado.
Ele bateu forte na mesa chamando a atenção das poucas pessoas que estavam ali, olhei para o lado rapidamente voltando a o encarar em seguida.
Ele estava sério, com o maxilar cerrado, e os olhos transbordando de raiva. Senti um frio percorrer meu corpo, não por causa do ar condicionado, mas por ter os olhos escuros mirando os meus sem perder o contato, parecendo que estava tentando decifrar a minha alma.
— Você não sabe nada sobre mim. Nunca, jamais me compare a você novamente.
Desfez o contato voltando a olhar a tela do celular.
Respirei fundo resolvendo tentar mais uma vez. Nunca fui de desistir facilmente.
— Me desculpe por ter falado assim, é que eu preciso mesmo das aulas extras e você é a minha única salvação. Por favor me ajude, eu até pensei em pagar, mas você não me parece o tipo de pessoa que precisa do pouco dinheiro que ganharia dando aulas de reforço. Por favor, Hoseok-ssi, me ajude.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos — que para mim pareceram uma eternidade — parecendo ponderar minha proposta.
— E então? – falei quase não me aguentando de tão ansioso que estava.
— Minha resposta ainda é não. Se puder se levantar da minha mesa eu agradeço.
Sem me dar a chance de dizer algo, voltou a me ignorar outra vez, me deixando parado por um tempo tentando digerir suas palavras. Ninguem nunca haviam me negado nada. Aquela tinha sido a primeira vez que havia praticamente implorando por algo e mesmo assim levei um grande 'NÃO'.
Sem saber o que fazer o encarei novamente, talvez sentindo meu olhar sobre si, Hoseok me olhou sério mais uma vez, até que olhou para algum ponto atrás de mim, abrindo um sorriso enorme.
Ao me virar, não demorei para encontrar o motivo do seu sorriso.
Yoongi parou próximo a mesa alternando o olhar entre um e outro.
— Olá — ele disse para nós dois um pouco confuso.
— Oi, Yoongi. — respondi com um sorriso pequeno enquanto o outro ainda permanecia em silêncio.
— Uau. Kim Taehyung sabe o meu nome? Estou surpreso.
— E porque a surpresa? Não é como se eu fosse do tipo que não conversa com ninguem
— Sabe que sou bolsista, né? Fora o Hobi, ninguem naquela escola fala comigo por causa disso.
— Eu nunca falei com você porque nunca tive uma brecha para isso. Não me importo com essa coisa de você ser bolsista ou não. As pessoas são mais do que dinheiro e status sociais.
O Jung me olhou surpreso e eu o encarei, sustentando olhar por alguns segundos até que Yoongi resolveu falar novamente.
— Bem, por essa eu não esperava, confesso que pensava que você tambem era do tipo que julgava. Posso me sentar com vocês?
— Claro que pode, eu estava te esperando — disse o mais velho com um sorriso doce nos lábios enquanto encarava o Min, que ainda estava de pé – ele já estava de saída, já acabamos nossa conversa não é Kim?
— É sim, eu já vou.
Sai praticamente correndo dali, esquecendo até mesmo do Frappuccino intocado que deixei para trás. Podia ter muito dinheiro, mas comida ainda era sagrada e se fosse em outro momento, eu nunca abriria mão.
Fui caminhando lentamente de volta para casa pensando no fracasso que tinha sido essa conversa.
Estava com tanta raiva que no fim, acabei esquecendo que iria para a casa de meu amigo.
Não poderia deixar assim, tinha que pensar em alguma coisa para o fazer mudar de idéia.
Vielen Dank für das Lesen!
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