Os pés descalços a faziam rodopiar pelo piso frio do castelo, o sangue que havia espalhado-se pelo chão das vísceras escancaradas do corpo pálido e gelado de Antônio a fazia deslizar com facilidade. Elisa e Maria estavam encolhidas no canto, ainda em choque e com lágrimas silenciosas. Incrédulas com o que viam.
— Do que têm medo, meninas? — a voz a aguda cantarolou com um tom de puro divertimento.
Maria, Elisa, Bianca e Antônio estavam ali mesmo que os locais tivessem dito que o Castelo era mal assombrado. Haviam ido contra todas as indicações dos locais para manterem-se longe de onde repousava Bela Dama. Uma mulher da era vitoriana que havia matado seu marido com a espada que pertencia ao homem. E quem em um ato de loucura, caminhara pelo castelo com a arma enquanto cantava uma melodia de ninar.
O escândalo havia sido soterrado e a nobre mulher passara seus dias nas masmorras. Rodopiando e cantando, dançando e rindo. Como se tudo ali fosse o mais interessante que poderia obter do mundo.
— Vamos, mamãe não irá machucá-las. Pique-esconde! Eu vou cobrir meus olhos e contar até dez, então, vou atrás de vocês!
Mamãe. Então era verdade que ela enlouquecera depois de perder as filhas. O corpo de Bianca parecia ainda mais magro e esquelético naquele vestido preto e, enquanto ela mantinha a espada presa entre o polegar e a palma de sua mão, o cabelo louro escuro brilhava em vermelho com a luz da lua por causa do sangue que jorrara de Antônio.
Seus olhos estavam cobertos por suas mãos enquanto ela contava até dez em um idioma que Maria e Elisa não reconheciam.
As garotas correram com a respiração acelerada, o pulso acelerado e o desespero evidente em suas expressões faciais. Ambas queriam estar em segurança e sair do castelo sem saber que aquilo irritaria Bianca.
— Onde pensam que vão?
O questionamento da "amiga" as fez saltar antes de correrem cada uma para um lado. Maria pôde ouvir o barulho de metal de arrastando pelo piso de pedra, mas quando chegou ao fim do corredor onde entrara, percebeu que não havia saída. Aproximou-se então de uma das janelas, ignorando a queda de mais de cinco metros e as árvores que se aglomeravam no ambiente ao redor do palácio.
Jogou-se em uma vã tentativa de sobreviver, mas Bianca apenas colocou o corpo para fora da janela, apoiando-se no beiral, e observou a massa distorcida que era Maria àquela altura.
Passou a caminhar pelo palácio, ouvindo o som de socos e gritos de socorro vindo em um ponto não muito distante dali. Sorria e cantarolava a mesma canção de ninar, percebendo os cabelos loiros e brilhosos de Elisa enquanto a garota se escondia em um canto que pensara ser seguro no grande quarto antigo e empoeirado.
— Sh, não chore, meu amor. Mamãe chegou. — Bela Dama soltou a espada e abraçou "sua menina", fazendo um carinho delicado em seus cabelos cacheados. Foi quando sentiu o metal frio perfurar sua carne e urrou de modo estridente, causando a sensação de gelo descendo pela coluna de Elisa. — Por quê? Por quê?! O que você tem na cabeça? Garotinha idiota! Estúpida!
Elisa levantou-se e começou a correr, mas a porta pesada de madeira maciça fechou com violência. As mãos sujas de sangue de Bianca enrolaram-se no cabelo daquela que havia sido sua melhor amiga e começou a bater o crânio da caçula contra o chão de pedra.
Um.
Dois.
Três.
O cérebro vazava pela abertura no crânio de Elisa. Que mantinha os olhos abertos em estado de choque. A última expressão que passara por seu rosto ao encarar os olhos de sua amiga.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Bianca se colocou de pé e pegou a espada. Abriu a porta, seguindo pelo corredor com a ponta do metal roçando contra a pedra outra vez. Até que, por fim, estava no salão principal. Observou a corrente que mantinha o lustre suspenso e pegou a ponta solta, envolvendo seu pescoço comprido e magro com os elos gelados e pesados.
Ainda cantarolava a canção de ninar quando soltou a corrente do suporte e sentiu seu corpo ser puxado para cima. Houve três milésimos de segundos de consciência da própria Bianca sobre o que estava prestes a fazer antes de acabar pendurada. Enforcada.
Vielen Dank für das Lesen!
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