u15715377901571537790 Gláucio Imada Tamura

Férias escolares: o que há de melhor do que desfrutar destes dias em meio às matas, tomando banho em rios e cachoeiras, respirando um ar puro, inexistente na cidade grande. Pois é, Maurício, um típico garoto da cidade, sobrecarregado com tarefas de escola e coisas tecnológicas, não vê a hora de arrumar sua mochila, e partir rumo à Santa Helena de Goiás, endereço da chácara do tio Bebeto. Lá, como tantas outras vezes que visitou Netinho, o primo, vivenciará aventuras, descobertas da puberdade, só que desta vez, algo inusitado irá transformar pra sempre sua vida.


Thriller Alles öffentlich.

#mistério #assassinato #assombração #crime #suspense #terror
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Parte 1


Maurício nunca mais se esquecerá da última vez que reencontrou com Netinho, seu primo. Em 11 de julho do ano de 1988, em uma quarta-feira, ele havia acabado de completar doze anos de idade e como era apenas início das suas férias escolares, ele disse aos pais que gostaria de descansar todo aquele verão na chácara do seu tio Bebeto. A chácara de nº22 estava localizada dentro do município de Santa Helena de Goiás, a terra do algodão, a trinta quilômetros antes do arco de concreto que estampa o nome da cidade; na última entrada à direita, bordeada pelos matagais que fazem divisas com as lavouras da região.

Chegando à porteira, Maurício viu Netinho que vinha subindo do pasto.

— E aí, primo?!

— Fala aí, Maurício! — o primo o cumprimentou. Depois ele pediu bênção ao seu tio e disse para o primo — Estava com saudades de você! Logo em seguida, Netinho suspendeu o arame preso em uma estaca e abriu a porteira.

Assim que a D-20 atravessou o mata-burro, Netinho subiu na carroceria da camionete e veio de carona. Depois a camionete foi descendo a estrada de terra que serpenteava uns quinhentos metros abaixo, até aportarem rente à divisa da varanda frontal da casa.

— O que é que tem de bom pra gente fazer nestas férias, hein?! — Perguntou Maurício. E antes de ouvir a resposta, ele ficou empolgado ao sentir o cheiro da mata ao redor, ao ouvir o canto dos pássaros voando a linha do horizonte, contente por respirar uma qualidade de ar que é tão escassa na cidade de Goiânia.

Netinho o encarou com o olhar cintilante. E o que ele disse a seguir soou como se fosse uma promessa.

— Cara, — ele disse depois que desceu da carroceria da camionete — se depender de mim, suas férias serão inesquecíveis...

E, assim que Maurício despediu do pai, Netinho o ajudou a carregar os presentes enviados pela tia, e a ancorar nas costas do primo, a única bagagem que ele trouxera consigo, ou seja, a velha mochila verde surrada, abarrotada com coisas de menino.

Depois de cumprimentar os tios, e deixar a mochila no quarto de Netinho, Maurício virou pra ele e tornou a refazer a pergunta:

— E aí, cara?! Quais são as novidades?

— Muitas! — o primo se ateu a dizer só isso. Depois ele levou Maurício para rever o fundo da casa, onde ele pôde matar as saudades do lugar que aprendeu a amar desde pequeno; ali ele se encantou com o pomar agora com novas qualidades de frutas, viu o curral onde já tinha bebido leite no peito da vaca, sem falar no chiqueiro fedido, onde ele e Netinho costumavam jogar conversa fora até altas horas, enquanto lançavam restos de comida pros porcos.

— Agora que você ficou mais velho, Maurício, — Ele apontou o dedo em riste pra chácara ao lado — eu acho que já pode entrar na casa mal assombrada...

— Cara! — Maurício apelou — Pare com essas conversas que dão azar...

A casa mal assombrada na qual Netinho se referia, localizava-se bem na divisa da cerca, ou seja, a poucos metros do local onde eles estavam. Em resumo, a história do lugar era a seguinte; ali ao lado foi justamente o local, onde, — na última quinzena de junho do ano de 1987, — a polícia da cidade de Santa Helena de Goiás havia encontrado corpos de pessoas desaparecidas; homens, mulheres e até crianças. E, pelo cenário de horror que a polícia encontrou os cadáveres, logo revelou que aquilo se tratava de um ritual de magia negra, — aliás, muito antigo — conhecido no meio oculto com o nome de “o ritual da invocação”.

Apesar das inúmeras investigações que sucederam até tempos depois do ocorrido, ninguém de fato foi denunciado como suspeito, tampouco julgado ou preso pelo crime. Por outro lado, a cada dia que passava, a chácara foi ganhando fama de estar mal assombrada; principalmente quando começaram a surgir relatos de testemunhas que diziam ter visto vultos andando no interior da casa, velas acesas que, ao cair da noite, flutuavam, e ouvir choro de bebê após a meia-noite.

— Maurício, — Netinho tornou a apontar o dedo em riste para o mesmo lugar — eu nunca te contei, mas ali, até um tempo atrás se costumava fazer muitos trabalhos de macumba... Uma vez eu vi um monte de gente encapuzada derramando...

— Pode parar!

— Não acredita?! Tem uns amigos do meu pai que disseram já ter visto coisa estranha rondando...

— Pode parar! — Maurício insistiu. Depois ele enfiou os dedos nos ouvidos pedindo para o primo se calar.

— Pois é — mas Netinho continuou ignorando — cê tem coragem de entrar lá?

Maurício bem que tentou mudar de assunto. Mas depois, com o primo barulhando outras coisas que também davam medo, ele acabou apelando de um jeito bem firme.

— Putz, você só vai falar disso?!

— Claro que não. Eu só estava...

— Falando o que não devia! — Maurício emendou. Depois ele o encarou de um jeito sério e falou bem firme — Eu vim pra chácara me divertir! Eu não vim pra ficar ouvindo suas histórias de assombrações. Se continuar com isso, juro que ligo pro meu pai me buscar!

***

Quanto à outra propriedade, ou seja, a chácara de nº21 que estava localizada à esquerda da chácara do tio Bebeto; o imóvel era de propriedade de um homem chamado Benedito Ruy de Castro. Agora velho e aposentado, a história que se corria na região sobre ele, era que, desde jovem, Benedito Ruy de Castro sempre bebeu demais. Até que em uma noite muito chuvosa, — quando retornava de uma festa na cidade de Santa Helena — ele perdeu o controle do veículo e caiu em uma ribanceira. Resultado: na tragédia morreram a mulher e os três filhos que ele tinha com ela. A única que sobreviveu — além dele mesmo, — foi Rita Tavares, sua enteada.

Depois de dias acamados, tanto ele como Rita receberam alta do hospital Santa Casa e retornaram pra chácara. O pior é que, como a pequena não tinha mais ninguém no mundo que a amparasse; com o passar dos anos morando juntos, — só com o padrasto pra variar — ela acabou se vendo forçada a ceder às investidas que o mesmo fazia às ocultas, desde quando sua mãe era viva. Meses depois, ou, logo que ela alcançou maioridade, Benedito a levou até o padre, depois ao cartório, e se casaram ali com todas as pompas de um bom papel passado. Infelizmente, com o passar dos anos compartilhando de tudo juntos, a moça que ainda era muito nova, também bela e cheia de saúde e encanto, acabou se entediando daquele seu velho de oitenta anos...

***

Uma das atividades que Maurício mais gostava de fazer na chácara do tio Bebeto era tomar banho de rio com o primo e a meninada da vizinhança. Em tardes de calor não tinha nada melhor do que mergulhar nas águas geladas do pequeno ribeiro localizado a quarenta metros abaixo da casa principal. Ficar ali de boa, conversando assuntos sem importância, até os dedos ficarem enrugados, ou a tia Fernanda gritar lá de cima avisando que o jantar estava na mesa.

Maurício estava banhando no rio com a molecada, quando de repente, Netinho veio do pasto, e pelo jeito que ele corria parecia estar empolgado para dizer alguma coisa importante.

— Nem acredito que ela topou! — ele disse para o primo.

— Do quê você está falando?! — Maurício perguntou.

— Você confia em mim, ou não?!

— Claro que eu confio! Mas...

— Não tem isso de “mas”... — interrompeu Netinho.

— Mas fala aí, o que é que você está aprontando?!

— Então, — Netinho continuou a falar depois que alguns garotos se afastaram — deixa eu te dizer uma coisa, Maurício, lá pelas dez horas da noite, vamos ter que voltar pra cá e...

— Cê tá doido?! Você sabe que eu tenho medo de cobra.

Netinho fingiu não ouvir. E, a todo o tempo olhava para os lados, preocupado que algum menino escutasse a conversa.

— Então, — ele tornou a explicar — o plano é o seguinte; lá pelas dez horas da noite, eu e você pularemos a janela do meu quarto e voltaremos pra cá e...

— Ainda não me disse o motivo...

— Calma que já vou te explicar.

— Só que, — Maurício desconfiou — se não me contar a verdade, eu juro que te deduro pra minha tia — A seguir, ele voltou o rosto lá pra casa, e foi aumentando a voz — Tia Feeeeeernanda, olha só o Netinho...

— Bico calado que você não sabe de nada, Maurício!

— Me explica então!

Depois de Netinho dizer algo como: “Estou tentando falar, Maurício, mas você não cala a boca!” ele entrou de vez no assunto — Aqui na redondeza, eu e essa molecada aí, combinamos com a Ritinha, a vizinha que mora na chácara nº22, tipo um “sinal”.

— Ok. Continua...

— Então, o combinado com ela é o seguinte, — A seguir ele apontou pra um pau velho, caído próximo à cerca de arame farpado bem na divisa das duas chácaras — toda vez que ela quer “dar” para algum moleque daqui, ela deixa uma calcinha pendurada bem ali.

A seguir Netinho puxou o primo pra falar mais de perto. Tudo indicava que o que ele iria revelar a seguir era muito mais importante.

— Então, — ele disse com ar de triunfo — o que estou tentando te explicar e você não deixa primo, é que desta vez, “você” foi o premiado.

— Pra quê?!

Netinho calou-se. Mas depois soltou uma gargalhada por que não conseguiu se conter.

— O que acha meu chapa?! — Ele perguntou. Mas logo percebeu que Maurício era novo demais para entender dessas coisas da puberdade, de forma que ele teve que desenhar, ou seja, primeiro ele fez um círculo com o indicador e o polegar, e em seguida, — fazendo movimentos de vai e vem, — ele enfiava e retirava o dedo duro de dentro do orifício.

— Acredite quando digo que você é muito sortudo, Maurício...

Para aquela noite, tia Fernanda havia preparado um rango mais do que especial para o sobrinho. Pois como eles não puderam viajar até Goiânia, e ir no aniversário de Maurício, esse foi seu jeito de presenteá-lo.

— Obrigado tia! — Maurício disse ao ver a mesa farta, inundada com quitutes diversos.

Mas tia Fernanda ainda tinha outra surpresa pra ele. Ela iria revelar logo após o jantar, mas não aguentou ao ver a cara de felicidade do sobrinho.

— E para a sobremesa, — ela disse, com um sorriso — eu preparei algo delicioso para você. Adivinha o que é Maurício?! Fiz pudim de leite com recheio de gelatina!

***

Às dez horas da noite em ponto, Maurício já conseguia ouvir os roncos do tio Bebeto vibrando lá do quarto dele. Tia Fernanda havia organizado a cozinha, mas como tinha decidido lavar as panelas na manhã seguinte, também tinha ido se deitar.

— Vamos molenga?! — Netinho disse, levantando-se da cama, atento a qualquer barulho oriundo dos outros cômodos da casa — Só toma cuidado para não fazer barulho quando pular, ok?

Depois que Netinho pulou a janela, Maurício ficou ajeitando a cadeira que tinha sido posto para apoio dos pés e, logo também já estava do outro lado. Em silêncio eles percorreram toda a extensão da varanda até chegarem aos fundos da casa, onde pegaram as duas lanternas que, na parte da tarde, Netinho tinha guardado dentro de uma lavadora. Com elas ligadas, ambos foram caminhando na direção do pasto.

— Tome cuidado para não pisar em bosta de vaca. — alertou Netinho — Aponta a lanterna para o chão, e vê por onde anda...

Rente à cerca da divisa, Netinho esticou o arame para Maurício passar, e depois que o primo atravessou, ele pediu que ele fizesse o mesmo pra ele.

— Agora é só andarmos em silêncio... — disse Netinho depois que atravessou a cerca. E como ele ficou valseando a luz da lanterna sobre cada amontoado de terra, Maurício perguntou pra que aquilo e logo ouviu Netinho explicar: “Tem muito tatu por aqui, cara! Faz tempo que estou à procura de um peba”.

Com alguns minutos de caminhada, ora em trotes, outrora em passadas mais largas, rapidamente eles alcançaram o mata-burro que dava acesso ao riacho ladeado pela densa mata, com a luz da lua revelando a trilha de capim amassado que ambos deveriam continuar seguindo. Depois eles percorreram o percurso que o pisotear costumeiro de pés se mostrava, e após um tempo caminhando, afastando galhos insistentes aplacando seus rostos, eles chegaram enfim na área repleta de cascalhos, findando na areia branca já bem pertinho da descida das águas.

Naquele breu, Maurício só pôde ver a silhueta da mulher submersa, distante a uns vinte metros de distância, parecendo fera quando espreita o momento certo para abocanhar a presa.

— Oh, Ritinha! — Netinho gritou quando chegou mais perto da margem.

Logo que Ritinha o ouviu, ela acenou de volta e veio vencendo a correnteza com o compasso das pernas, até que subiu a margem do rio e veio se aproximando deles.

— Esse aqui é o Maurício. — disse Netinho pra Ritinha — “Aquele” sobre quem lhe falei...

Logo que ouviu, Ritinha agradeceu lançando um olhar sensual, e, sem dizer uma só palavra, depois ficou encarando Maurício de um jeito que o deixou sem jeito.

— Daqui uma hora, eu volto aqui para te buscar, — Netinho avisou o primo — Mas fique tranquilo. A Rita não morde... Quero dizer, só se você pedir...

Continua...


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28. November 2020 20:29 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Gláucio Imada Tamura Eu sou um contista nipo-brasileiro que se dedica a escrever sobre temas relacionados ao drama, horror, terror, suspense, mistério, às vezes somando tudo isso com boas doses de humor.

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