u15715377901571537790 Gláucio Imada Tamura

Quem na juventude já não abriu mão de um grande amor? Se você, de alguma forma, pudesse voltar no tempo, o que faria para preservar este amor? No conto “Pássaros Feridos”; é narrado a história de Linda — uma garota cheia de vida, como tantas outras no mundo, mas que por causa de alguns problemas familiares que passou, ela acabou trilhando um caminho que condenou de vez o seu jovem coração. Fica aqui a máxima do conto: “Se decisões amorosas não estiverem embasadas nos clamores do nosso íntimo, às vezes, tudo que for construído daí pra frente, mesmo às duras penas, debandará em montes de cinzas, em aglomerados de saudosas névoas, em fuligens nostálgicas de labirintos cegos e sem volta”.


Drama Nur für über 18-Jährige.

#carinho #afeto #erótico #religião #revolta #traição #casamento #amor #solidão #drama
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Parte 1

Tentando encontrar um parâmetro mais definido sobre os sentimentos da jovem Linda, relacionados ao seu casamento com Sílvio Agnaldo, pode se narrar os fatos baseados nas frustrações corriqueiras e comuns a toda hora, de todos os tamanhos e formas, objetivas no viver doméstico, ou subjetivo no sentir os sentimentos sempre a inundando por dentro em torrentes de arrependimentos carregados de culpas por causa do pecado; de acordo com o que diariamente ela ouvia do pregador no púlpito; o suor dele escorrendo o rosto aos berros, a bíblia entrincheirada na sua mão esquerda, enquanto na outra, os dedos em riste apontados para uma congregação assustada, com os olhos vidrados no seu gesticular agitado, a voz do pastor ficando cada vez mais falhada, intercalada nos goles d’água, e rouca diante das mensagens, das normas e da doutrina sabiamente ensinada a favor do testemunho que dizia que um membro de igreja só poderia se relacionar com outro da mesma congregação.

E assim foi com a jovem Linda; pré-adolescente, visitando pela primeira vez a Igreja Genuína dos Filhos do Altíssimo, conduzida até ali por uma amiga da escola que havia narrado o próprio testemunho no intercalar das aulas, e que por bastante tempo ficou incrustado na sua alma de boa menina.

Aos treze anos de idade a jovem Linda já se sentia extremamente impotente diante do alcoolismo do pai truculento e sempre embriagado, que quando não estava em roda dos amigos bebendo ao varar da noite, ficava caído no chão molambento à porta do mesmo bar. Quando o salário recebido recheava o bolso do senhor Nivaldo, curiosamente uma amnésia temporária o acometia, fazendo-o se esquecer dos compromissos que tinha em forma de faturas, cobranças ao pé da porta, e até o pagamento do leiteiro era postergado diante da sua fidelidade aos prostíbulos da região.

Nesses respeitosos ambientes, o pai da jovem Linda desaparecia por vários dias seguidos, às vezes ele faltava alguns compromissos, pois enquanto o fruto da sua labuta mensal de cobrador de ônibus não evaporava em forma de singelos sorrisos nos rostos das incansáveis operárias, o pai não retornava pra casa.

Dessa forma eram rotineiras as contendas com a esposa frequentemente abandonada diante das responsabilidades de casa, testemunhando a filha comprometer seu futuro na diluição emocional que absorvia grande parte de sua energia mental frente aos estudos, sem contar as cobranças conjugais aos gritos, as ameaças de separação repetitiva, e os julgamentos simultâneos de atos certos e errados adentrando madrugada a fora.

Assim todo esse emaranhado sufocante, palpitante no peito já amargurado de anos, pouco a pouco convenceu a jovem Linda que, dedicar mais tempo esfolando os joelhos em oração seria bem mais proveitoso do que ficar ao pé da porta, fibrilando tentativas e pulsões de interferir nas brigas.

Em primeiro lugar a jovem Linda se firmou na igreja, depois sua mãe começou a acompanhá-la aos finais de semana, e em seguida, um bom tempo depois, o pai começou a frequentar as reuniões.

E com a frequência nos cultos e conforme o peso das nádegas sobre o assento ia delineando um ouvir cada vez mais sensível às sutilezas apreendidas nas mensagens do evangelho, o coração familiar foi se pacificando aos poucos, acalmando-se da torrente nervosa no sentir com desprezo o outro, principalmente diante dos ódios gratuitos estimulados pelo alto teor alcoólico circulando nas veias o poder destruidor dos consentimentos que outrora foram construídos em meio a raríssimos diálogos conscientes.

Agora todo esse emaranhado febril tratado ruía dia após dia num desmoronamento prazeroso, e não sutilmente apresentado como o testemunho vivo no meio de uma congregação cada vez mais ávida por experiências genuínas do poder de Deus evocadas pela voz do pastor: estimulando todos para o bem comum, convergindo desta forma todo e qualquer jugo desigual, seja na esfera da mente ou na emocional; em atitudes convidativas, benignas de se sentir até nas entranhas, ou apelativas o suficiente para atrair sempre mais gente disposta a propagandear a sua religião.

Desta forma, com o passar dos meses, de fato a jovem Linda procurou se ocupar cada vez mais nas atividades demandadas pela congregação.

Por exemplo: na organização do voluntariado responsável pela evangelização que percorria os bairros, realizando telefonemas para os irmãos desviados, e até na procura insistente, indo atrás de alguma estrela eminente: seja um cantor famoso, um pregador em ascendência, ou mesmo alguém — ainda que desconhecido — que possuía um testemunho forte o suficientemente para apertar um pouquinho mais a coleira invisível enlaçando o pescoço de cada um dos fiéis.

Sem contar o que já foi dito, a jovem Linda ainda era a responsável pelo abastecimento do púlpito com a água, com as canetas e os papéis para a realização dos pedidos, no recolhimento das ofertas, dos dízimos, pela organização das mesas e cadeiras após o culto e, — na ausência de outros voluntários na noite — a limpeza geral do salão até o horário que antecedia o apagar das luzes.

Para trás ficaram as brincadeiras de rua tumultuadas pela garotada correndo soltas às gargalhadas, findaram as festinhas com os amigos e as confidências apaixonadas, e a partir de então a jovem Linda redirecionava ao presbitério todas as perguntas existenciais que antes direcionava apenas aos pais.

Mas com o passar do tempo ela começou a sentir incômodos rotineiros que aos poucos começaram a somatizar alergias diversas pelo seu corpo inteiro, por fim gerando uma angústia de ser que nenhum remédio receitado ou tampouco a mais potente oração em forma de jejum davam algum jeito.

O pastor a orientava:


“Pra Deus te ouvir, minha filha, você precisa se consagrar mais”.


Mas esse quadro só começou a mudar quando certa noite a jovem Linda viu Sílvio Agnaldo — um rapaz novo, aparentando não ter mais do que dezessete anos de idade — adentrando a igreja com todas as recomendações dos irmãos da igreja da cidade de São Paulo.

Assim que o pregador da noite apontou no púlpito, Sílvio Agnaldo se ajeitou no assento, a bíblia a tiracolo, e logo em seguida se sequestrou nas orações, na eloquência da voz do pregador, guardando no coração tudo que o pastor fazia e que consequentemente mais arrancava gritos de glórias e aleluias lá do meio da sua congregação.

Depois, dentro da bíblia, — por assim dizer — contendo folhas soltas e as bordas arregaçadas; o rosto do garoto perdeu-se em meio às páginas à procura de pequenos espaços em branco, ou livres o suficiente para acomodar as brilhantes anotações de saber outrora ouvidas do púlpito, passando a rabiscá-las freneticamente com alguma de suas canetinhas coloridas a encher-lhe o bolso.

Na época, bem que os irmãos da igreja profetizaram...


“Esse jovenzinho será um grande homem de Deus!”.


...e também acertaram.

Continua...


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5. März 2021 18:20 1 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Gláucio Imada Tamura Eu sou um contista nipo-brasileiro que se dedica a escrever sobre temas relacionados ao drama, horror, terror, suspense, mistério, às vezes somando tudo isso com boas doses de humor.

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Isís Marchetti Isís Marchetti
Olá, Gláucio, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Preciso te contar que eu achei você muito corajoso por escrever uma história nessa temática, que diga-se de passagem é um tanto quanto um "tema tabu" aqueles que não se fala, não se expressa a própria opinião porque sempre vai ter alguém que não vai gostar ou vai questionar é o famoso "não se fala de religião, política e futebol" sabe?! Propriamente por ser um desses temas eu te parabenizo por ter entrado no assunto de forma ambígua, sem romantizar ou criticar a reliogidade alheia e tudo mais. Eu gostei muito desse tom de "indiferença". A coesão e a estrutura do seu texto estão muito boas. Apesar de não ter conseguido finalizar a história ainda, sim, ainda, pois pretemdo ler até o final, eu gostei muito da narrativa que você escolheu para escrever, quase como se você estivesse contando a história de Linda, por um ângulo de vista diferente mas não distante do que acontecia. Quanto à sua personagem principal, é difícil dizer algo sobre suas restrições devido a crença, por exemplo: eu me considero uma pessoa religiosa, e apesar de ajudar em inúmeras coisas na igreja, nunca fiz nada disso pensando que assim seria "mais próximo da Divindade" ou algo parecido e sim porque realmente gosto de ajudar e não espero nada em troca. O que da a entender na história é que essa crença dela é quase como se fosse uma lavagem que ela sofre e eu não sei porque, mas não gosto de pensar por esse ângulo, mas espero que com a chegada de Sílvio alguns paradigmas sejam quebrados. Quanto à gramática, eu vejo que esse texto tem muito a oferecer para o leitor e a escrita limpa ajuda muito nesse quesito. Eu não encontrei nenhum apontamento o que só reforça o quanto você escreve bem. No mais eu gostei muito da história e pretendo ver como Sílvio vai fazer um reboliço na vida de Linda. Desejo a você sucesso e tudo de bom. Abraços.
September 07, 2020, 19:07
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