Foi naquela noite, enquanto todo o vilarejo dançava e festejava ao redor da grande fogueira, que Calgara não pode evitar o sentimento que o afligia a dias atingisse seu peito com força. Seria uma provação divina? Um teste de seus deuses por, como grande guerreiro protetor de Shandora, ter quebrado várias tradições de séculos de seu povo por um único homem estrangeiro? Talvez, mas o fato inegável era que não conseguia controlar aquilo que crescia, que ia tão além de admiração ou o carinho de uma amizade. Calgara amava Mont Blanc Noland e não conseguia odiá-lo por despertar esses sentimentos em si. Era um homem maduro que, não como uma forma de gabar-se, porém possuía experiência de vida, e sabia bem que nenhuma falsa verdade ou falso sorriso poderia desaparecer com aquele amor de seu coração.
Com um copo de bebida em mão, Calgara observava o céu estrelado, divagando sobre Noland junto do que a vinda de sua tripulação trouxe para todos ali. Um mundo inteiro de crenças, época, compromissos, realidade e muito mais os separavam — não só seu povo dos estrangeiros, mas principalmente ele e Noland. Nunca se ouviu falar sobre dois homens que estiveram juntos em compromisso além de servir, e tal junção provavelmente seria um enorme tabu para o vilarejo; tinha consciência disso, pois a ideia era estranha até para ele mesmo. Calgara experimentava desses sentimentos pela primeira vez, não sabendo nem como dar fim a eles quando Noland partisse — porque, um dia, ele iria e o deixaria para trás, era o destino.
Tropeçando nos próprios pés já muito bêbado, com um sorriso feliz no rosto, Noland aproximou-se de onde estava, sentando-se ao lado de Calgara e segurando seu ombro. Não disseram nada, apenas ficaram em silêncio com o som do fogo queimando de fundo. Por breves instantes, Calgara quis que esse dia não acabasse, mas o pensamento egoísta tão rápido veio quanto se foi. Ele era um guerreiro daquela terra, tinha uma família que amava e a seu povo também. Um simples desejo desse, ainda que não passasse disso, não deveria mais ser cogitado, pelo menos para que não sofresse mais e que a despedida fosse menos penosa.
Quando Calgara enfim olhou diretamente para Noland, este já dormia sentado com um copo vazio em mão e a outra mão ainda em seu ombro. Suspirou cansado, carregar o fardo daquele amor impossível sozinho era agonizante. Se contasse a Noland sobre isso, talvez ele o entendesse — sentia que sim, mesmo que não o correspondesse, ter alguém com quem dividir a sua dor seria reconfortante. Todavia, Calgara jamais o faria, não colocaria nos ombros de seu amigo aquele peso, deixaria que ele partisse em paz. Guardaria consigo todos os devaneios dessa noite e de todas as outras que passaram e virinham até seu túmulo. Esperava que o tempo fosse ameno, que o ajudasse a esquecer tudo aquilo que deveria ser esquecido — e que jamais deveria ter existido.
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