Porquê você não percebe? Follow einer Story

Seis horas da manhã em plenos seis graus de temperatura de uma segunda-feira, o trânsito começando a ter vida nas ruas ainda escuras da cidade e Thanatos já se encontrava entrando no elevador para subir até seu andar de trabalho, com uma garrafa térmica de chá nas mãos. Antes mesmo de apertar um dos botões alguém mais entrou correndo no elevador esbarrando em si, fazendo-o pigarrear irritado. Manigold apenas sussurrou um “me desculpe” meio sem graça em resposta, passando uma das mãos sobre sua franja enquanto a outra segurava dois copos de café expresso.

Não queria admitir, mas passou mais tempo do que planejava encarando o outro homem e quando notou isso pelo olhar curioso dele disfarçou apertando o botão para subir e pegando o celular no bolso do terno para ver a agenda do dia mesmo que já soubesse de seus compromissos de-cor.

Thanatos odiava esses seus pequenos deslizes, como o de agora, sempre se odiando internamente por não conseguir controlar, e o melhor eram as desculpas que inventava para si mesmo. Como, por exemplo; a de que apenas havia observado Manigold fixamente devido a sua nova cor de cabelo, um azul-escuro, sem contar suas roupas que hoje constituíam em uma blusa surrada da “Hello Kitty” com um blazer, calças social e um “All Star”.

Era bem óbvio, também, pela cara de sono dele, os copos de café e as olheiras, que havia passado mais uma noite em claro e acabou saindo às pressas de casa, afinal, sabia que o pessoal do setor onde ele trabalhava teriam uma reunião às cinco e meia, e do horário marcado já haviam passado meia hora.

Quando a risada de Manigold inundou todo o espaço, sonora e arrastada, Thanatos saiu um pouco de seus pensamentos para olhar o colega de canto de olho. Um sorriso enfeitava seus lábios um pouco rachados devido ao frio intenso que parecia nem sentir, refletido no espelho ao lado podia-se ver que ele assistia a um vídeo de cachorros e gatos fazendo coisas que as pessoas consideravam fofas ou engraçadas. Revirou os olhos com um leve repuxar nos lábios, começar o dia já de bom humor num início de manhã frio e com uma reunião para qual provavelmente vai chegar bem atrasado era a cara de Manigold o que nem o surpreendia tanto.

Novamente foi pego em flagrante enquanto olhava para ele, os olhos escuros ainda mais curiosos e Thanatos não gostou nada disso, muito menos quando suas bochechas coraram. É só o frio, mais uma mentira para a longa lista.

Manigold não tinha papas-na-língua, o homem falava o que pensava, às vezes de forma imprudente e a pergunta de como ainda não havia perdido o emprego após tantas brigas por falar demais, insinuando que havia apenas escapado cinicamente, existia.

Thanatos chutava que era porque, em níveis de comparação, no tanto que ele podia ser língua solta e sincero, também poderia ser o melhor vice-presidente de vendas da empresa. Então, lidar com as confusões dele e seus atrasos, deveria ser um preço válido a se pagar quando podia se ter um profissional considerado um dos números 1 do mercado.

Com tudo isso, o que Thanatos menos precisava era de Manigold o questionando o porquê de tantos olhares. Sabia mentir bem caso acontecesse, mas não tão bem quanto mentia para si mesmo em relação aos seus sentimentos.

Todavia, mesmo torcendo para isso não acontecer e para o elevador chegar rápido ao seu andar, Thanatos se viu ficando ansioso quando Manigold se aproximou, vendo no espelho ao seu lado a expressão de quem parecia que iria aprontar, assim como uma criança — uma briguenta e que falava muito palavrão — não pode deixar de comparar. Como previsto, aconteceu. Mesmo esperando, foi pego de surpresa quando Manigold cutucou sua cintura naquele ponto onde por algum motivo as pessoas sentem cócegas e consigo não foi diferente. Teve direito até a um pulinho, que arrancou uma risada do outro.

— Mas que droga, Manigold! — Esbravejou com raiva pela vergonha que sentiu ter passado, enfiando o celular novamente no bolso. — O que você quer?

— Nada de mais. Vi que estava me olhando várias vezes, o que não é típico de você.

— Típico? Ah! Isso é porque essa é a primeira vez que você percebe isso seu lerdo. — Thanatos pensou, mas não era como se fosse confessar, nem com sua psicóloga falava sobre, imagina com Manigold?

— Hm, e daí? — Não queria soar como um deus arrogante, mas acabou soando um. Estar perto dele sempre despertava esse seu modo de defesa que saía involuntariamente.

— Penso que sei o porquê disso. — Manigold deu uma pausa, fazendo suspense.

Uma rápida olhada nos andares e Thanatos viu que estava quase chegando ao seu. Se as coisas explodirem agora, podia dizer que Manigold estava louco e sair o mais rápido possível de perto dele, mas não era exatamente isso que a vida planejava para si naquela manhã.

— Não conte para o Aldebaran, mas eu descobri que o pessoal da empresa, comandados por ele, estão planejando uma festa surpresa para mim de aniversário na semana que vem. Kardia não é bom para guardar segredos, já aviso. Então, aposto que estava me observando para descobrir que tipo de presente me dar, não é? Bem, vou te ajudar: um travesseiro. De preferência daqueles de tamanho real, mas se for um médio também pode ser, desde que tenha a estampa com o Adam Sandler. — Finalizando sua fala ao ver as portas se abrindo, Manigold fez um joinha com a mão antes de sair correndo.

Thanatos saiu também do elevador, vendo o outro indo pelo corredor sem saber se estava feliz, decepcionado ou curioso sobre os gostos peculiares de seu colega. Ainda em seu campo de visão, pode ver quando Manigold, antes de entrar na sala de reuniões, foi parado por Albafica, o sortudo do século que ganhou um beijo do homem de cabelos azuis. Eles namoram. Por breves minutos, havia se esquecido desse detalhe.

Com a cabeça baixa atravessou o corredor, passando pelos dois homens ainda juntos, e antes que pudesse entrar em sua sala, parado a algumas portas ao lado, seu irmão Hypnos o observava em silêncio. Thanatos não precisou ouvir nenhuma palavra da boca dele, seu olhar e sua breve negação com a cabeça em sua direção já se fez entender. Forçou um sorriso, querendo fingir que estava tudo bem, mas era mais para si do que para seu irmão.

Dentro de sua sala, um suspiro cansado escapou e uma tristeza tão conhecida o abateu. No fim, Manigold nunca entenderia as suas atitudes assim como ele nunca compreenderia a si mesmo e como pode amar tão dolorosamente um homem incrível e complexo que nunca o veria como desejava que fosse visto, ao menos que fizesse algo para tal. Todavia, aquilo não era apropriado e Thanatos duvidava que um dia fosse.

Porque Manigold não conseguia ver em seus gestos e olhares, o que se passava e o que seus lábios nunca diriam?

Sentado em sua cadeira e com o computador ligado, começou a pesquisar sobre travesseiro tamanho real do Adam Sandler para comprar. Por enquanto, isso o deixaria distraído. E hoje faria o possível para não esbarrar mais com Manigold. A manhã começou turbulenta e para ter um restante do dia tranquilo precisava de silêncio, um bom gole de chá e bastante trabalho para se focar cegamente, sem tempo para se lembrar de Manigold e o momento que passaram no elevador.

Notas Finais:

Fanfic revisada pelo xuxu da fsxmoon, que aliás me doou esse plot da fic^^ <3
Queria dizer que o fato do Manigold ser fã do Adam Sandler foi uma pequena referência que eu quis adicionar ;) (se ficou legal, já é outro assunto kkkk)
O mesmo dublador do Manigold em The Lost Canvas também dublou alguns filmes do Adam Sandler, então no mesmo instante em que eu notei isso o Manigold passou a ter o apelido de "Adam" pra mim kkkkkkk
Bjs~~